Wagner Moura: prisão de Bolsonaro demonstra "força da nossa democracia"
Em entrevista a jornalistas de veículos de vários países, Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho entrelaçam política e arte com a trama de "O Agente Secreto"
“Eu discordo um pouco de você”, pondera Wagner Moura para Kleber Mendonça Filho, ao seu lado, durante uma entrevista com jornalistas de veículos internacionais que aconteceu no final de novembro.
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“Eu discordo no sentido de que a democracia brasileira é mais forte do que pensávamos, e eu acho que o que acabamos de fazer foi notável”, ele diz em relação à prisão de Jair Bolsonaro que, àquela altura, ainda era domiciliar.
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“O fato de termos enviado militares para a prisão, de Bolsonaro ter sido julgado e enviado para prisão, é uma demonstração da força da nossa democracia”, completa Wagner Moura.
A prisão de Jair Bolsonaro
Dois dias depois dessa conversa, o ex-presidente foi levado para a sede da Polícia Federal em Brasília, onde começou a cumprir sua pena de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de estado. Diferente de Wagner, Kleber teve uma visão mais crua sobre os rumos da extrema-direita no País.
“A América Latina tem uma tendência a golpes de Estado, e o Brasil não é diferente. Nós recentemente evitamos um golpe de Estado que tinha sido cuidadosamente planejado quando Bolsonaro não venceu sua reeleição, e isso foi impedido. Mas eu tenho que dizer que parece frágil”, conclui o diretor de "O Agente Secreto".
Embora não encare diretamente a ditadura militar brasileira, sem a aparição direta de qualquer soldado, salas de tortura ou tanques de guerra, “O Agente Secreto” aponta para um lugar pouco visto nos filmes sobre regimes militares: a participação da elite financeira e das empresas na manutenção desse poder. No filme, Marcelo (Wagner Moura) é perseguido por um homem com interesses econômicos na sua pesquisa científica.
“O paralelo é inevitável com os EUA, porque a invasão do Capitólio aconteceu exatamente da mesma forma que as pessoas que negam a eleição do Trump, da mesma exata forma que aconteceu no Brasil”, continua. “O fato de termos feito algo que os americanos não fizeram é por causa da memória, que é o tema do nosso filme. Os brasileiros sabem o que é uma ditadura”.
Apesar desse cenário de celebração da esquerda brasileira, Kleber se explica porque esse cenário não lhe banha de otimismo assim como o ator baiano: “Eu fiquei surpreso com o quão fracas nossas instituições eram em 2016, quando Dilma foi deposta por um Congresso completamente corrupto. E é por isso que, na minha mente, é frágil. Mas agora estamos muito fortes”.
"O Agente Secreto"
Com "O Agente Secreto", Brasil fez história e arrematou três indicações ao Globo de Ouro - prêmio que abre a corrida para o Oscar 2026. O longa-metragem "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, recebeu indicações nas categorias Melhor Filme Internacional e Melhor Filme de Drama; já o ator Wagner Moura foi indicado na categoria Melhor Ator.
“O Agente Secreto” está em cartaz nos cinemas brasileiros.