Na fábula de ‘Zootopia 2’, as cobras lutam por justiça
Para o acirrado mercado de fim de ano, Disney repete aventura de uma coelha e uma raposa que salvam a cidade onde os animais convivem pacificamente
"A piada é apenas um clássico mecanismo de defesa para quem teve uma infância traumática”, responde uma raposa para o delegado da cidade, um búfalo. Na fabulesca Zootopia, animais de diferentes espécies, tamanhos e habitats convivem na mesma cidade.
Espelhando-se na ideia do que seria a nossa própria realidade fora das telas, porém, essa harmonia só existe porque esconde as falhas jogadas para debaixo do tapete.
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Na trama anterior, a irreverente dupla coelha-raposa formada por Judy e Nick, acabam desvendado um plano da prefeitura para afastar os animais predadores da cidade.
Talvez para não perder um público cada vez mais distraído e afastar os riscos, a trama de “Zootopia 2” segue a mesma estrutura dramática, onde a dupla invejada pelo time atrasado da polícia se envolve com mais um crime de preconceito e desigualdade.
Trama supera metáfora do mundo real
Ao longo da projeção, à medida que vamos avançando na investigação, fui acometido pela mesma sensação de quando “Wicked - Parte 2” - a de estar assistindo ao mesmo filme que o anterior.
Isso porque a escalada de tensão entre as descobertas, a natureza do crime e o objetivo altruísta são contados e aprofundados do mesmo jeito.
Por outro lado, a trama supera sua metáfora do mundo real ao colocar no centro do conflito a existência das cobras, bichos que aquela cidade tão acolhedora quer distância. Mas por quê? De onde realmente veio o mito de que cobras são bichos naturalmente perigosos e violentos?
Num rápido salto de vilão para herói, a cobra Gary (interpretada por Ke Huy Quan de "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo") toma as rédeas de sua própria salvação.
Ao passo que a investigação avança e outra conspiração é exposta, o roteiro de Jared Bush se acomoda na repetição, mas acerta na inclusão de um novo leque de personagens e cenários. O bar clandestino dos répteis dentro de um navio naufragado tem uma força cênica tão interessante que poderia até render uma história própria.
'Zootopia 2' mantém interesse da audiência
Embora a invenção desse segundo capítulo seja muito sustentada por tudo que já vimos no anterior, especialmente a relação passivo-agressiva entre a coelha astuta e a raposa malandra, “Zootopia 2” é um filme bastante esperto que nunca deixa sua audiência entediada.
Chegando aos cinemas no fim do ano, parece mesmo uma boa história sobre amizades que resistem às diferenças pelo interesse em comum de salvar o mundo – talvez, uma mensagem com mais propósito natalino que o próprio natal.
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Já faz três anos que a Disney não vence um Oscar de Melhor Animação, perdendo para filmes memoráveis como o letão "Flow" (2025), o japonês "O Menino e a Garça" (2024) e o "Pinóquio" (2023) de Guilherme del Toro.
O primeiro "Zootopia" venceu em 2017, mas o mundo da animação norte-americana veio se deslocando muito da vanguarda do gênero.
Se não há tanto gesto de criação, por outro lado, o mercado está soprando a favor. Nos EUA, “Zootopia 2” está estreando junto com “O Agente Secreto” na estratégica semana do Dia de Ação de Graças, o que pode gerar uma das maiores arrecadações do ano. De um jeito ou de outro, crianças e adultos não o deixarão passar batido.
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