No heroísmo da Fórmula 1, Brad Pitt escolhe como envelhecer em 'F1'
Estrelado por Brad Pitt, Damson Idris e Javier Bardem, "F1" cria uma história de superação no universo da corrida para reconstruir seus mitos
Quando Sonny Hayes desfila em câmera lenta sobre um fundo desfocado da pista do autódromo, laureado com surpresa e aplausos do lado de cá, Joseph Kosinski sabe exatamente como essa é uma imagem reciclada: o velho herói que surge, como uma miragem, para salvar o dia.
Parte da emoção de ‘F1’, ficção que se passa no acirrado universo da Fórmula 1, é pulverizada justamente pelo jeito que sua tensão é ancorada na certeza: ele vai salvar o dia. Na pele desse piloto “ultrapassado” que precisa provar seu vigor masculino, Brad Pitt conta também sua própria história - como tantos homens na indústria de Hollywood, afinal, ele pode aproveitar o arquétipo dos homens sábios, sem família ou deveres, que se transformam num mentor.
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Então, é claro que essa figura vai ser um grande revelador da verdade, vendo estratégias onde elas parecem invisíveis, que vai atrair um par romântico com a única mulher em destaque na trama e que vai transformar todo seu rancor em conhecimento. Não faço esse recorte de forma detratória, principalmente, porque esse filme não inventou nada disso, mas como observação de como essa narrativa sobrevive aos olhos do público.
O que move a audiência é exatamente esse trajeto: a busca pela honra, a fé e a reviravolta. O universo da corrida alimenta essa narrativa de forma perfeita, dramaticamente, porque cada volta pode mudar o jogo.
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Como o ‘novato’ mais apaixonado pelo símbolo do que pela própria velocidade, Joshua Pearce (Damson Idris) se sente ameaçado pelo mentor até uma súbita humildade acabar lhe transformando nele. Clássico.
Diretor de dramas com emulações épicas parecidas, como “Top Gun: Maverick” (2022) e “Oblivion” (2013), Kosinski sabe fazer essa equação ter mais sentido no movimento. As sequências das pistas envolvem com uma plasticidade mais próxima da realidade, talvez como contraproposta a obras mais fantasiosas como em “Rush - No Limite da Emoção” (2013) que fricciona com a trilha sonora ou a série “Senna” (2024) com planos fechados na chuva que escorre pelo capacete ou no olhar aflito do piloto.
Kosinski usa muitas câmeras no ar e acopladas aos carros, além da constante inserção de mapas para que a audiência acompanhe as posições. O resultado acaba ficando mais confuso do que o planejado, tirando parte do suspense ao saltar no tempo para apresentar reviravoltas e acidentes.
De toda forma, “F1” cumpre seu papel de forma prática. Com produção de Lewis Hamilton, aparição de alguns pilotos e apoio notável da própria Federação Internacional de Automobilismo, esse filme com orçamento robusto chega num momento em que a Fórmula 1 perdeu grande parte da atenção global para dizer que, assim como futebol e basquete, este também é um esporte com honra, tradição e carinho - especialmente para o Brad Pitt, uma soma e tanto.