Dia do Techno: conheça os subgêneros da música eletrônica
O dia 9 de dezembro celebra o "techno", gênero da música eletrônica que vem ganhando força entre os coletivos undergrounds de Fortaleza
A música eletrônica é um gênero marcado pelo uso de instrumentos eletrônicos, como sintetizadores, computadores e softwares. Nesse universo, existem diversos subgêneros, como trance psicodélico (psytrance), house e techno.
Apesar de muita gente usar “música eletrônica” e “techno” como sinônimos, o techno é uma das várias vertentes eletrônicas — embora seja hoje uma das cenas mais proeminentes e em expansão no mundo, no Brasil e, especificamente, em Fortaleza.
Em 2025, essa força ganhou mais um marco na capital cearense com a criação de uma festa em que só se toca techno do início ao fim. Idealizado pelo Coletivo IGNIS, reunindo inclusive DJs que participaram das fases pioneiras da cena.
Rennó Nogueira da Silva, DJ e produtor natural da periferia de Fortaleza, define o gênero como “uma música feita por batidas computadorizadas digitais, repetitivas, bem marcadas, feita para as pessoas dançarem”. “É um som feito para que o corpo consiga se projetar junto da dinâmica da música”, explica.
No Dia Mundial do Techno, 9 de dezembro, celebrado por fãs e artistas do gênero, O POVO revisita as origens do movimento, suas transformações e o espaço que ele ocupa hoje na Cidade.
O que é música eletrônica e onde entra o techno?
A música eletrônica se caracteriza pela produção sonora feita principalmente a partir de equipamentos eletrônicos e digitais. Esse guarda-chuva abriga diversas vertentes, cada uma com características, públicos e histórias próprias.
O techno é um desses subgêneros. Conhecido por batidas repetitivas, atmosfera industrial e pistas intensas, o estilo ganhou o mundo e criou comunidades próprias.
Diferente do que muitos imaginam, ele não representa toda a música eletrônica, mas ocupa um lugar de destaque dentro dela.
O movimento do techno começou nos anos 1980, nos subúrbios de Detroit, nos Estados Unidos. Jovens negros passaram a misturar influências da música eletrônica com elementos da cultura urbana local, criando um som que dialogava com o crescimento de fábricas na cidade, a tecnologia e as desigualdades sociais.
“O house vem de um contexto americano onde a disco music estava muito forte. Era um som de comunidades negras e estava ganhando grande expressão nos Estados Unidos. Já o techno vem de um contexto quase distópico”, detalha DJ Rennó.
Rennó conta que Detroit foi um polo com muitas montadoras de veículos e indústrias diversas, mas que “foi um sonho americano que fracassou”.
Na década de 80, houve uma crise no setor automobilístico e grande parte dessas indústrias se deslocou, gerando um movimento massivo de desemprego. “E, dentro de uma crise, sempre existe a pulsão da criatividade.”
O que nasceu como expressão cultural de uma periferia industrial se espalhou pelo mundo e, ao longo das décadas, se ramificou em diferentes vertentes. Hoje, o techno abriga múltiplas estéticas, públicos e formas de ocupar os espaços urbanos por meio da música.
Em Fortaleza, a cena do techno já mostra força há pelo menos duas décadas. Há cerca de 20 anos, festas pioneiras como a Technofor e Las Lenhas chegaram a reunir milhares de pessoas, marcando um período importante de difusão do gênero.
Em 2025, essa história ganha novos contornos com a atuação do Coletivo IGNIS, que criou uma festa totalmente dedicada ao techno, do início ao fim da noite. Diferente da maioria dos eventos, que transitam entre vários estilos de música eletrônica, a proposta da IGNIS é aprofundar a experiência sonora e estética do gênero.
“Para mim, Fortaleza é a capital nordestina do techno”, afirma Imanix, DJ integrante do coletivo.
Techno, house e psytrance: o que muda?
Imani Marques, conhecida artisticamente como Imanix, é integrante do coletivo IGNIS e tem preferência pelo Raw Techno. Segundo ela, para quem não estuda música eletrônica, a diferenciação entre os estilos costuma acontecer mais pelas sensações do que pelas características técnicas.
“Elas vão sentir a música que bate forte, a que bate devagar, a que é mais rebolante. Existe o imaginário de que se a batida é forte, é hard techno. Se é mais calma, é house. Se é estranho, é psytrance”, resume.
Por trás desse imaginário, porém, existem elementos técnicos que diferenciam os gêneros, como o número de BPM (batidas por minuto), as texturas sonoras, os timbres e a estrutura das faixas.
Rennó acrescenta que “cada gênero específico tem um conjunto de marcadores estéticos e sonoros; e é isso que define o nome e também a pegada histórica da coisa”.
Imani detalha a estrutura do techno: “Na música eletrônica, o house, o psytrance e o techno utilizam o compasso 4×4. O que vai diferenciar o techno são a forma que os hi-hats se constroem, que são os pratos. Normalmente são mais evidentes e marcados que nos outros gêneros”.
O compasso 4×4 é ritmo em que cada batida ou elemento apareça na música. O techno, por exemplo, costuma ter uma batida repetitiva, hipnótica e com forte influência de sons industriais, enquanto outros estilos exploram melodias mais suaves ou explosões sonoras mais comerciais.
“É muito engraçado porque para a galera do house, o techno pode ser muito pesado, já para a galera do psytrance, pode ser muito leve”, observa a DJ.
Para além da padronagem, arquétipos de sons específicos também definem cada vertente. Mesmo dentro do techno, existem variações de ritmo, intensidade e proposta sonora.
“No hard techno você escuta muito sons rasgados e distorcidos que você não encontra muito em outras vertentes. Já no raw techno tem um som muito específico de campainha”, ensina a artista.
Cada uma dessas variações dialoga com públicos, sensações e dinâmicas de pista distintas, mostrando que o techno é um universo em constante transformação.
Entenda o techno: a cultura da pista
Corpos suados, dançantes, variantes, diferentes e conectados. As pistas das festas de techno são marcadas por essa diversidade.
Formado por DJs e profissionais do audiovisual, o Coletivo IGNIS leva o techno como linguagem central, criando experiências que vão além da música.
Imanix, que também traz forte influência do punk para sua estética, descreve a cena como um espaço de liberdade e celebração. “É muito bom estar nesse espaço de música, de corpos dissidentes, de alegria e afeto. É o meu espaço de conforto”, confessa.
Cada gênero também apresenta uma pista diferente. As festas de psytrance são a céu aberto, nas famosas “raves”, em lugares de mais contato com a natureza. Já o techno e o house nasceram de forma mais urbana.
O techno sustenta uma estética mais subversiva, organizando eventos em casas de show, espaços alternativos ou até mesmo em locais não autorizados. Já o house é comum em restaurantes, bares e festivais, mas também protagoniza eventos fechados.
Rennó ressalta que “existem rituais de cada pista, justamente pela maneira como se constroem as narrativas dentro desse lugar”.