Hiperfoco, interesse especial e hiperfixação: entenda a diferença

Hiperfoco, interesse especial e hiperfixação: entenda a diferença

Em uma sociedade com diferentes transtornos de atenção, especialistas analisam a popularização nas redes sociais dos termos hiperfoco, interesse especial e hiperfixação

Você conhece os termos hiperfoco, interesse especial e hiperfixação? “Esses dias estou com hiperfoco na Fernanda Torres”; “Tô com hiperfoco em comer sushi, sério”; “Esse vídeo dele me deixou 100% hiperfocada”.

Essas são algumas das frases que surgem na rede social X (antigo Twitter) ao pesquisar o termo “hiperfoco”. Descrito por internautas como o interesse exacerbado e contínuo em algum objeto, personalidade ou tema, o termo, que se tornou uma gíria, tem, na realidade, uma origem clínica.

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De acordo com o especialista em Neurodesenvolvimento André Cabral, o hiperfoco é definido como um estado de atenção focalizada intensa e sustentada.

“Não exclusivamente, mas geralmente é associado a condições como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ocorre quando a pessoa se envolve profundamente em uma atividade de interesse, a ponto de ignorar estímulos externos e ter dificuldade em mudar o foco”, explica.

O hiperfoco no dia a dia

Se identificando com a descrição de André, a estudante de medicina veterinária Camila Lopes recebeu o diagnóstico de TDAH em 2022, por meio de um psiquiatra.

Confeitaria, crochê, quebra-cabeças, desenho, leitura e academia foram alguns dos hiperfocos listados pela estudante, de 22 anos.

Com duração média de um mês ou um mês e meio, Camila afirma que no seu caso experimenta apenas um hiperfoco por vez. O mais curto foi o crochê, que durou duas semanas, enquanto o mais duradouro segue sendo a pintura, que atualmente Camila já pratica há três meses.

Para muitos, o que parece positivo em poder se concentrar e investir intensamente em uma atividade traz consigo um contraponto oculto.

“De certa forma, me torno disfuncional ao entrar em um hiperfoco, pois agora, quando não estou pintando, estou vendo vídeos no YouTube sobre isso, e acabo tendo que lutar para não negligenciar estudos, trabalho e outras responsabilidades. Até na socialização, me desanima sair de casa se não vou poder estar pintando ou compartilhando sobre meu hiperfoco com outra pessoa”, afirma.

Qual a diferença entre hiperfoco e hiperfixação?

Segundo a mestranda em Psicologia da Educação, Desenvolvimento e Aconselhamento, Marina Martins, a hiperfixação é um termo similar à “obsessão”, sendo mais facilmente atrelado a outras condições além do TDAH e TEA.

"Pode ser direcionada a um assunto, objeto, comida ou personagem que a pessoa associa a grande prazer ou desprazer. Nos casos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), por exemplo, é muito comum o paciente hiperfixar-se em pensamentos intrusivos", exemplifica. 

Contudo, ao analisar a usabilidade do termo, Marina ressalta que qualquer diagnóstico só é feito com base na interferência que tal sintoma tem na vida da pessoa.

“Mesmo que você se identifique com um relato que vê nas redes, se não é algo que esteja lhe causando sofrimento e interferindo em seu desenvolvimento pessoal, não precisará ser tratado”, enfatiza.

O interesse especial no Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Conforme conta o neuropediatra André Cabral, o interesse especial é um conceito muito associado ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e se refere a temas de grande interesse para a pessoa autista.

Diferente do hiperfoco, que pode ser temporário, o interesse especial pode durar anos e ter um impacto significativo no aprendizado e no desenvolvimento social.

Ainda segundo a psicóloga Marina Martins, aqueles que possuem interesses especiais geralmente encontram uma área específica na qual possam absorver uma grande quantidade de conhecimento e que seja passível de gerar um maior sentido de recompensa.

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