Em parceria excepcional, França exibe sarcófago de Ramsés II

Empréstimo do Egito é um agradecimento ao trabalho de cientistas franceses que nos anos 1970 salvaram a múmia do faraó da deterioração - uma história pouco conhecida da egiptologia
Autor DW Tipo Notícia

O sarcófago do antigo faraó egípcio Ramsés 2° começou a ser exibido nesta sexta-feira (07/04) em Paris, na França, em uma parceria única.

Benedicte Lhoyer, assessor científico da exposição no Grande Halle de la Villette, disse que o empréstimo foi "excepcional", graças a uma "cooperação sem precedentes entre a França e o Egito".

A exposição Ramsés 2° está em uma turnê que inclui os Estados Unidos e a Austrália, mas apenas a França receberá o sarcófago, em reconhecimento à ajuda de cientistas franceses que salvaram a múmia do antigo faraó da deterioração, em 1976, em Paris.

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Desta vez, no entanto, a múmia em si permaneceu no Egito, já que a atual lei do país proíbe o transporte de múmias reais ao exterior.

O Faraó construtor

 

Exposição na França conta com mais de 180 objetos, além de recriação 3D de uma das batalhas do rei contra o império hitita
Foto: Aurelien Morissard/ AP/ picture alliance
Exposição na França conta com mais de 180 objetos, além de recriação 3D de uma das batalhas do rei contra o império hitita

Ramsés 2°, também conhecido como Ramsés, o Grande, governou por mais de 60 anos durante o século 13 a.C.

Ele supervisionou grandes conquistas militares e projetos de construção monumentais – e ainda teve mais de 100 filhos.

"Em suma, ele era um rei extraordinário", disse Lhoyer.

O sarcófago de madeira de cedro pintado de amarelo, representando o rei em cores brilhantes com os braços cruzados sobre o peito segurando um cetro e um chicote, não foi o primeiro a armazenar a múmia de Ramsés 2°

Inscrições nas laterais do sarcófago detalham como o corpo do faraó foi movido três vezes a partir de 1070 a. C., depois que ladrões invadiram seu túmulo no Vale dos Reis em Luxor. Seu local de descanso final foi descoberto quase três milênios depois, em 1881.

A exposição em Paris também conta com mais de 180 objetos, entre eles estátuas, máscaras e joias, bem como uma recriação 3D de uma das batalhas do rei contra o império hitita.

Sucesso de público

As relíquias egípcias provaram ser um sucesso de público no passado: há quatro anos, cerca de 1,4 milhão de pessoas visitaram em Paris uma exposição sobre Tutancâmon.

Agora, a nova exposição no Grande Halle de la Villette promete ser ainda mais popular, disseram os organizadores na quinta-feira: já foram vendidos 145 mil ingressos, significativamente mais do que os números que antecederam a abertura da exibição sobre e Tutancâmon. A exposição segue até 6 de setembro.

"Ramsés 2° derrotou o tempo. Como Tutancâmon, ele se tornou imortal", disse Lhoyer.

Uma história pouco conhecida

Sarcófago ficará em exposição em Paris até 6 de setembro
Foto: Aurelien Morissard/AP/picture alliance
Sarcófago ficará em exposição em Paris até 6 de setembro

O empréstimo do sarcófago é um agradecimento aos franceses pelo trabalho de recuperação da múmia de Ramsés 2°, com mais de 3 mil anos, enquanto hospedava uma grande exposição sobre seu lendário reinado no museu Grand Palais, nos anos 1970. A história, porém, é um dos capítulos pouco conhecidos da egiptologia.

Em 1976, o então presidente francês Valery Giscard d'Estaing convenceu seu homólogo egípcio Anwar Sadat a autorizar a viagem da múmia a Paris, prometendo uma recepção "adequada para um rei".

E cumpriu a promessa: quando o avião de transporte militar francês com os restos mortais do venerável líder egípcio pousou no aeroporto de Le Bourget, em Paris, em 26 de setembro de 1976, o tapete vermelho foi estendido, a Guarda Republicana estava em posição de sentido e um ministro de governo esperava. A cerimônia de boas-vindas foi transmitida ao vivo pela televisão.

A bordo do avião com Ramsés estava a arqueóloga francesa Christiane Desroches Noblecourt, do museu do Louvre, que viajou ao Cairo para acompanhar o faraó na viagem, submergindo a múmia em bolas de plástico para protegê-la de qualquer pancada.

Na capital francesa, a múmia não foi para exposição, mas sim para restauração urgente. Os restos mortais do faraó, que estava na casa dos 90 anos quando morreu em 1213 a.C, começavam a se deteriorar.

Quando a múmia de Ramsés 2° foi descoberta em 1881 ela estava em excelentes condições. Mas o contato com o ar fresco trouxe danos causados por parasitas e fungos.

O alarme soou pela primeira vez em 1975, quando um arqueólogo francês que fazia pesquisas no Museu Egípcio do Cairo descobriu a afecção fúngica da múmia. Quando a exposição de Ramsés 2° foi inaugurada em Paris, Sadat finalmente aceitou a oferta de restauração feita pela França.

O delicado trabalho foi confiado aos conservacionistas do Museu do Homem (Musee de l'Homme), na capital francesa. Depois de radiografar o corpo frágil e submetê-lo a uma bateria de testes biológicos e químicos, eles começaram a trabalhar, restaurando tecidos e criando novas faixas antes de enviar Ramsés para tratamento de radiação na Comissão Francesa de Energia Atômica.

Após oito meses, Ramsés 2° estava pronto para "uma nova rodada de imortalidade". Em 10 de abril de 1977, a múmia do faraó foi levada de volta ao Cairo e colocada em exibição ao lado de outras múmias reais no Museu Egípcio.

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