Rimadores de busão: MC’s criam rimas com passageiros e mostram força do rap em Fortaleza

Acompanhados de uma caixinha de som, ou mesmo da percussão vocal, eles fazem rap freestyle e improvisam rimas a partir de temas variados que pegam referências de passageiros

O cotidiano do trabalhador brasileiro pode ser muitas vezes caótico e isso acaba interferindo diretamente no humor das pessoas, principalmente de quem tem que pegar ônibus lotado todos os dias e enfrentar horas no trânsito. O transporte público é um dos locais onde esse estresse mais se aflora devido, principalmente, à grande circulação de usuários em lugares apertados, fechados e quase sempre superlotados, com uma realidade de pessoas cansadas, indispostas e, muitas vezes, mal-humoradas.

E foi nesse cenário que nasceu o coletivo Rimadores de Busão, um grupo de jovens que fazem rimas nos ônibus de Fortaleza, com intervenções artísticas. Eles interagem de maneira direta com o público, oferecendo uma distração dos problemas diários e proporcionando brincadeiras e trocas de vivências. Também há espaço para abordar temas importantes à sociedade como racismo, homofobia e provocam reflexões sociopolíticas.

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O “Rimadores de Busão" é um coletivo de mc’s (artistas que cantam rap) que teve início antes do começo da pandemia da Covid-19 e é composto por 20 músicos que tem como principal objetivo conseguir viver da música. Os integrantes do grupo são jovens de periferia que saíram de um contexto de vulnerabilidade social.

Os jovens conseguem embarcar em cerca de 40 ônibus por dia. Acompanhados de uma caixinha de som, ou mesmo da percussão vocal, eles fazem rap freestyle e improvisam rimas a partir de temas variados que pegam referências de passageiros.

Em entrevista ao O POVO, o coordenador do grupo, Sete Ton, disse que o intuito do coletivo no início era apenas para divulgar o trabalho dos jovens e expandir mais o público. “Mas percebemos que podíamos unir o útil ao agradável, divulgando o nosso trabalho como artista e sustentando nossa família com o que amamos, que é fazer rap”, contou.

 

 

A costureira, Tais da Silva, 42, disse que se surpreendeu muito quando os garotos começaram a cantar no ônibus: "Eu adorei, é uma arte muito bonita. Eles aproveitam o tempo deles para animar a população e não estão na rua fazendo coisas erradas”. E para a recepcionista Ana Camille de Souza, de 18 anos, esse tipo de abordagem não incomoda de jeito nenhum “Eu sempre vejo eles nos ônibus e adoro. Torna o dia mais leve” contaram em entrevista ao O POVO.

Os artistas se encontram no terminal de ônibus do bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza, e de lá se dividem em duplas. Cada uma sobe em um ônibus e realiza a atividade durante o dia. A maioria dos jovens consegue viver inteiramente das ações feitas no transporte público, mas alguns ainda precisam de outro emprego para completarem a renda mensal.

 

 

“O dinheiro que fazemos no dia a dia dá para ter uma vida tranquila, como somos autônomos ganhamos por produção. Quanto mais trabalha mais ganha. Tem duplas que por exemplo conseguem arrecadar R$250 em 5 horas, mas infelizmente ainda tem integrantes que precisam de outro emprego”, ressaltou o coordenador do grupo.

 Criminalização da sociedade e agressões nos terminais de ônibus

Mesmo com ampla aceitação dos passageiros, a atividade continua sendo criminalizada por algumas pessoas e até nos terminais. Um dos integrantes do grupo foi agredido no último dia 26 de março e um vídeo do momento da agressão foi divulgado nas redes sociais, tendo grande repercussão.

O acontecido tornou-se pauta importante de movimentos sociais e de juventude que lutam contra a desigualdade social e as agressões por parte das forças de segurança. A vereadora Larissa Gaspar (PT) afirmou na quarta-feira, 6, que pretende apurar denúncias de possível existência de quadros de tortura nos terminais de ônibus da Capital.

Diante de todo o ocorrido, Sete Ton não acredita que esse tipo de caso ocasione na desmotivação e possíveis desistências de integrantes do Rimadores de Busão. Para ele, o preconceito externado pelas pessoas é uma minoria, quando existe a possibilidade de fazer alguém sorrir.

“A gente ilumina o dia de muita gente que às vezes sai de casa triste e não espera encontrar um show de rima improvisada, bem humorada. Já ouvi relato de uma senhora que em uma semana perdeu 3 familiares para a Covid-19 e naquele dia que subimos no busão ela conseguiu sorrir.”

As apresentações no interior dos ônibus funcionam ainda como meio de divulgação do trabalho individual de cada artista e do nome do coletivo. E isso faz com que a arte também tenha um papel de transformação social na própria vida pessoal e profissional dos integrantes do coletivo Rimadores de Busão.

De acordo com Sete Ton, a meta dos jovens é viralizar os conteúdos que produzem nas redes sociais e assim serem reconhecidos nacionalmente. “Nosso maior sonho é ser reconhecido pelas nossas músicas. A rima no busão é uma vitrine para mostrarmos o quão grandioso somos como músicos e compositores. Nosso sonho na vida é tirar nossa mãe do aluguel, dar boa qualidade de vida aos familiares e ser exemplo de vitória”, disse.

O impacto social da arte realizada nos transportes públicos ocorre em uma via de mão dupla, pois não diz respeito apenas ao público que a recebe, já que também as atividades feitas nos ônibus garantem de certa maneira e possibilitam alguma autonomia financeira aos jovens e o aprimoramento de sua arte.

 

 

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