Caetano Veloso critica Bolsonaro: "Brasileiros têm que reagir por sua saúde"'

Caetano Veloso afirma que, em plena democracia, o Brasil vive um momento de intolerância e retrocessos em relação ao meio ambiente

Caetano Veloso denunciou o rumo que o Brasil tomou com o direitista Jair Bolsonaro, e, em um ano eleitoral decisivo para o país, colocou-se à frente de um movimento de rejeição, papel que, aos 79 anos, mantém o cantor e compositor com vitalidade e um tanto otimista.

O artista afirma que, em plena democracia, o Brasil vive um momento de intolerância e retrocessos em relação ao meio ambiente, o qual exige que os artistas e a sociedade civil coloquem "a cara na rua". Para isso, viajou nesta quarta-feira a Brasília, convocado como líder de um ato contra o avanço da “destruição ambiental" por meio de um pacote de projetos de lei defendidos por Bolsonaro.

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Em meio à agenda intensa na capital, onde se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e com ministros do STF, o músico recebeu a AFP em seu camarim, antes de subir ao palco para cantar contra a destruição ambiental.

- Você é um crítico da política ambiental do governo há muito tempo. Por que decidiu ir às ruas agora?

Caetano Veloso: Esses projetos de lei, alguns passaram pela Câmara dos Deputados e agora estão chegando ao Senado. Procurávamos uma data que fosse boa para a reação. Deu para reunir o pessoal da nossa classe, de artistas, e todos os grupos de movimentos sociais, das ONGs que lutam pelo meio ambiente...

- A principal preocupação é com os indígenas?

Caetano Veloso: Principalmente com esse projeto de lei da mineração, as populações indigenas são imediatamente as vitimas, de um modo gritante. Porque mesmo essa utilização da necessidade de potássio por causa da guerra na Ucrânia (que pode afetar as importações de fertilizantes russos) não justifica, porque é usado como pretexto. O que há é um plano de desfazer a defesa ambiental de qualquer maneira. Também outras coisas no Brasil estão sendo programaticamente destruídas, inclusive a atividade cultural, mas, no caso do meio ambiente, o desrespeito é a todos.

- Antes da eleição de 2018, você disse que, se Bolsonaro ganhasse, viria uma onda de "terror e ódio". Depois de mais de três anos no cargo, aconteceu o que você imaginava?

Caetano Veloso: O que está acontecendo no Brasil é horrível. Já vivi sob ditadura militar, fui preso, exilado, mas hoje, em plena democracia, coisas às vezes até mais grosseiras são propostas pelo governo federal. Não só há um elogio aos piores aspectos da ditadura, mas também há uma sensação de violência política sobre a vida brasileira. Os brasileiros têm que reagir por sua saúde, mental, espiritual e física.

- Em um ano de eleição presidencial, em que devem se enfrentar Bolsonaro e o ex-presidente Lula, de esquerda, quais são as suas expectativas?

Caetano Veloso: Há espaço para otimismo, porém o medo é grande. Porque essa coisa (a máquina bolsonarista) é assombrosa, conta com uma eficácia enorme do uso das redes sociais, da internet. É um negócio internacional. Isso tem a ver com Steve Bannon (assessor do ex-presidente americano Donald Trump), com organizações internacionais, e o uso das redes sociais é um negócio muito desenvolvido, como se fosse uma doença mortal que estivesse acometendo a sociedade humana. Mas eu tenho um otimismo pragmático, porque, sem otimismo, você se sente no direito de se eximir de responsabilidades. Não quero me eximir de responsabilidades, nem acho que o povo brasileiro deva fazê-lo.

- Que papel os artistas devem assumir?

Caetano Veloso: É importante que eles se manifestem, porque são criadores que se tornam, muitas vezes, bastante conhecidos por grande parte da população. E também há uma identificação entre o criador artístico e a defesa ecológica. É bom que possamos servir como amplificadores de uma questão que o povo brasileiro está vivendo e que precisa de vocalização.

- Como você acha que o resultado da eleição de outubro e uma eventual mudança de governo poderão impactar o clima de intolerância e agressão que você descreveu?

Caetano Veloso: É possível que Bolsonaro perca. Mas o que ele representa não desaparece de um momento para o outro. Pode ser que ele não vença, espero que não vença, mas o bolsonarismo não sai da História tão facilmente. (Valeria Pacheco e Marcelo Silva de Sousa/ O POVO)

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