Kim Jones, estilista da Dior, acredita que a moda vive em uma bolha

Para a coleção outono/inverno que apresentou na sexta-feira, 21, na capital francesa, Kim Jones ofereceu uma versão masculina da icônica jaqueta Bar feminina, com a qual Christian Dior foi apresentado em 1947

Kim Jones dá mais um passo para superar as fronteiras de gênero em sua nova coleção de moda masculina para a Dior, com lantejoulas bordadas nos suéteres dos modelos, mas o estilista não tem ilusões: o mundo da moda vive em uma bolha.

"Vivemos em cidades, incrivelmente abertas, mas assim que você sai não é a mesma coisa", explica Jones em entrevista à AFP, em seu estúdio em Paris. "Há quarenta países no mundo onde se você sair na rua assim, eles te matam", acrescenta, descrevendo seu desejo de vestir os homens de forma diferente, mais feminina.

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Para a coleção outono/inverno que apresentou na sexta-feira, 21, na capital francesa, Kim Jones ofereceu uma versão masculina da icônica jaqueta Bar feminina, com a qual Christian Dior foi apresentado em 1947, quando os costureiros trabalhavam para as mulheres.

O homem Dior neste outono

Os homens Dior usam delicadas lantejoulas rosa bordadas em suéteres, jaquetas amarradas na cintura e calças largas e generosas. Uma blusa abre totalmente na vertical nas costas do modelo.

Kim Jones também apostou em seu desfile de moda em Paris, realizado como de costume em um imponente palco montado nos Jardins das Tulherias, em uma parceria com a marca de calçados Birkenstock. O estilista recusou o característico tênis aberto Birkenstock com toques dourados, ou pequenos alfinetes.

Na última terça-feira foi a nova marca da Paris Fashion Week, Egonlab, que se associou à marca de sandálias de plástico Crocs.

A Dior reconstruiu uma balaustrada da elegante ponte Alexandre III, no coração de Paris, em escala quase em tamanho real para a passarela. Alternando com a música, ouvia-se o lendário Christian Dior, em uma entrevista antiga sobre como criava seus vestidos.

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Viajante do mundo

Jones, 42 anos, cresceu viajando de mãos dadas com o pai, geólogo, por isso tem uma visão pragmática do mundo real, fora da espetacularidade das passarelas.

"Tenho sorte, cresci viajando pelo mundo, então vi de tudo e entendo que vivemos em uma bolha", explica à AFP. "Se você viaja para outros lugares, precisa respeitar a cultura deles", diz ele.

Jones alterna seu trabalho na Dior com linha feminina e alta costura para a Fendi, desde setembro de 2020. "Agora que faço coleções femininas, percebo os limites da linha masculina", diz. "As roupas masculinas não mudaram muito desde a década de 1940."

Sua prioridade atual é deixar os modelos clássicos da Dior mais confortáveis, mesmo em meio à pandemia. "O que as pessoas querem agora é conforto: eu vejo isso através das vendas, quando falo com os clientes, em todos os lugares", diz ele. Essa foi a marca que Jones deixou na Louis Vuitton entre 2011 e 2018, quando trouxe “streetwear” para as passarelas.

Sobre o excesso de trabalho, Jones garante que não tem medo: "Gosto de trabalhar e agora estou em um momento muito bom", afirma. "O único problema para mim agora é a covid, porque quando volto para casa tenho que me isolar e me manter isolado de todos. Não posso perder 10 dias", explica.

Ele diz que tira férias a cada dois meses, para evitar que o estresse o sobrecarregue. "Eu não vou me matar por essas pessoas. Eu não sou estúpido!", ele diz com uma risada.

Seu ânimo muda, no entanto, quando ele se lembra de seu amigo e sucessor da Louis Vuiton, Virgil Abloh, que morreu de câncer em novembro e cuja coleção final foi apresentada esta semana em Paris. "Ainda é difícil para mim falar sobre isso, não consigo acreditar que aconteceu", confessa.

"(Virgil e eu) trocávamos mensagens todas as semanas. Atravessamos o mundo juntos. Costumávamos sentar no chão em quartos de hotel junto com Kanye (West), Pharrell (Williams)... Eu me sinto muito sortudo por ter conhecido ele", diz. "Que grande perda, com tudo que poderia ter feito", lamenta em voz alta. (Jordi Zamora e Eric Randolph/ AFP)

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