Morte súbita em academias: entenda o aumento e como prevenir
O aumento de casos de morte súbita nas academias é um alerta: nem sempre vemos a falha, mas ela pode estar presente. Veja os motivos e como se prevenir
19:44 | Out. 15, 2025
Nos últimos anos, o número de casos de morte súbita está aumentando dentro de academias, fato que chama a atenção de praticantes, atletas, gestores e, sobretudo, da comunidade médica. Afinal, por que isso está acontecendo mais frequentemente? E o que se pode fazer para evitar tragédias?
As motivações por trás desse aumento envolvem uma combinação de fatores: um público mais amplo e heterogêneo nas academias, medidas de desempenho agressivas, uso indiscriminado de suplementos e a baixa constância em exames preventivos cardíacos.
Além disso, para muitos, o local é apenas um ambiente de saúde e bem-estar, e não de risco. Mas como mostram casos recentes em várias capitais, incluindo a morte de um homem de 44 anos em uma academia no bairro Castelão, nessa segunda-feira, 13, a morte súbita não escolhe idade nem porte atlético.
Morte súbita em academias: principais causas
Embora os dados oficiais ainda sejam fragmentados, cardiologistas afirmam que o cenário chama atenção. “Temos percebido uma elevação discreta, mas real, nos registros”, afirma o cardiologista e CEO do Instituto do Coração de Fortaleza, Augusto Vilela.
Ele observa que muitas vezes esses episódios são classificados de forma genérica nos boletins de ocorrência, o que dificulta estatísticas precisas.
Para o médico, as principais causas estão relacionadas à doenças estruturais prévias, disfunções elétricas e sobrecarga súbita no sistema cardiovascular. Entre as mais comuns, ele cita:
- Cardiopatia isquêmica oculta: pessoas com obstruções coronarianas ainda não diagnosticadas podem ter infarto súbito quando submetidas a esforço intenso.
- Miocardiopatias: alterações no músculo cardíaco, frequentemente genéticas, podem desestabilizar o ritmo em esforço abrupto.
- Arritmias primárias: condições como taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular podem se manifestar de modo fulminante.
- Uso de estimulantes e drogas: anabolizantes, termogênicos e substâncias estimulantes sobrecarregam o coração e elevam o risco.
- Sobrecargas mecânicas: saltos de intensidade abruptos no treino sem aquecimento adequado.
“Uma pessoa pode parecer completamente saudável e ter uma mutação genética silenciosa que só se manifesta em situações extremas”, explica o estudioso.
Morte súbita em academias: quem está mais sujeito?
Não apenas atletas mas qualquer pessoa pode estar em risco, embora alguns grupos exijam atenção redobrada. Segundo o cardiologista, estão mais vulneráveis:
- Indivíduos com histórico familiar de morte súbita, infarto precoce ou cardiopatias.
- Pessoas com fatores de risco clássicos como hipertensão, diabetes, colesterol alto e tabagismo.
- Quem apresenta sintomas prévios como dor torácica, palpitações, desmaios ou tonturas.
- Usuários de esteroides, anabolizantes ou estimulantes.
- Quem pula avaliação médica antes de iniciar treinos intensos.
Vilela ressalta que a idade, embora seja fator, não é garantia. “Já há casos registrados em pessoas na faixa dos 20, 30, 40 anos. A juventude não protege de forma absoluta.”
Em muitos relatos, as vítimas manifestaram sinais prévios nem sempre valorizados. Alguns sintomas que não devem ser ignorados incluem dor ou desconforto no peito durante ou após o exercício, palpitações, tontura, fraqueza súbita, sudorese intensa ou desmaios.
Se algum desses sinais ocorrer, a recomendação é clara: interromper o treino imediatamente e buscar avaliação médica urgente. “O corpo fala antes do colapso. O problema é que muitos ignoram o aviso”, alerta o cardiologista.
Morte súbita em academias: prevenção como essencial
Para mitigar o risco de mortes súbitas em academias, Augusto Vilela defende uma atuação integrada entre alunos, profissionais de educação física e gestores. Ele aponta medidas fundamentais:
- Avaliação prévia: antes de iniciar ou intensificar o treino, é imprescindível fazer exame clínico com cardiologista, incluindo eletrocardiograma, ecocardiograma e testes ergométricos quando indicados.
- Educação e capacitação: profissionais das academias devem ser treinados em primeiros socorros e reanimação cardiopulmonar (RCP). A presença de desfibrilador externo automático (DEA) é fundamental.
- Progresso gradual: o treino deve evoluir de forma planejada, respeitando adaptação cardiovascular. Saltos de intensidade devem ser evitados, especialmente por iniciantes.
- Cuidado com suplementos e estimulantes: qualquer substância que estimule o sistema nervoso central ou cardiovascular deve ter supervisão profissional. O uso de anabolizantes aumenta expressivamente o risco.
Além disso, o monitoramento contínuo é um dos principais pilares da prevenção. Com o acompanhamento regular, é possível ajustar os treinos de forma personalizada, de acordo com os resultados dos exames e a evolução de cada pessoa. “Não se trata de evitar o exercício, mas de fazê-lo de maneira consciente e segura”, reforça Vilela.
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Morte súbita em academias: repercussão e medidas preventivas
Nos últimos meses, diversos episódios ganharam destaque nacional: pessoas que morreram em plena aula de spinning, musculação ou crossfit. Em muitos casos, o falecimento esteve ligado ao esforço extremo combinado com uso de substâncias estimulantes.
As redes sociais amplificam o impacto, gerando discussões sobre responsabilidade das academias e necessidade de protocolos mais rígidos.
Em Fortaleza, especialistas defendem que os estabelecimentos passem a ter equipamentos de emergência e que a realização de exames cardiológicos prévios se torne prática mais comum.
Para o cardiologista Augusto Vilela, o ponto central é a prevenção. “O exercício é um remédio poderoso, mas precisa de dose certa. Quando usado de forma incorreta, pode se transformar em um gatilho perigoso. O segredo é o equilíbrio.”