Morte fetal: o que causa o óbito de bebês nas últimas semanas de gestação?

Morte fetal: o que causa o óbito de bebês nas últimas semanas de gestação?

Morte do bebê a partir da 20ª semana de gestação atinge milhares de brasileiras todos os anos. Conheça causas, cuidados e redes de apoio

A apresentadora Tati Machado tornou público, recentemente, o luto pela perda de seu bebê nas últimas semanas de gravidez.

O relato trouxe à tona o tema do óbito fetal, uma realidade que atinge mulheres de diferentes idades e contextos sociais e, muitas vezes, é silenciada.

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A morte do feto a partir da 20ª semana de gestação pode ocorrer por múltiplos fatores e gera impacto físico e emocional duradouro.

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O que é considerado óbito fetal?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o óbito fetal é definido como a morte do feto após a 20ª semana de gestação, quando o bebê já se encontra em estágio avançado de desenvolvimento, mas antes do nascimento.

Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil registra mais de 20 mil casos de óbito fetal por ano. Ou seja, um número subnotificado, segundo especialistas, devido à falta de padronização nos registros.

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Principais causas do óbito fetal

Embora em cerca de 30% dos casos a causa não seja identificada, conforme dados da American College of Obstetricians and Gynecologists (Acog), há fatores conhecidos que aumentam o risco.

A obstetra Rebeca Matos explica que “as causas mais frequentes nas últimas semanas de gestação incluem diabetes gestacional, trombofilias, síndromes hipertensivas que causam restrição de crescimento fetal e descolamento de placenta”.

Entre os fatores clínicos e comportamentais, destacam-se:

  • Infecções congênitas: vírus e bactérias como toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e Zika podem atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento fetal.
  • Doenças crônicas da gestante: condições como hipertensão arterial, diabetes, lúpus e distúrbios da tireoide estão associadas a complicações placentárias e restrição do crescimento fetal.
  • Complicações placentárias: descolamento prematuro da placenta, insuficiência placentária ou problemas no cordão umbilical podem comprometer a oxigenação do bebê.
  • Alterações genéticas: anomalias cromossômicas, especialmente em gestações de mulheres com mais de 35 anos, elevam o risco de perda fetal.
  • Fatores comportamentais e ambientais: tabagismo, consumo de álcool, uso de drogas ilícitas e obesidade são associados ao aumento da mortalidade fetal intrauterina, segundo estudos publicados pela The Lancet.

Como prevenir e reduzir os riscos do óbito fetal?

Embora nem todos os casos de óbito fetal possam ser prevenidos, o acompanhamento médico é essencial para reduzir riscos.

Rebeca Matos destaca que o pré-natal deve incluir “medidas de pressão arterial em todas as consultas, exames de ultrassom frequentes e orientação sobre os sinais de alarme que exigem procura imediata por emergência, como diminuição da movimentação fetal”.

Entre os exames específicos para monitorar a vitalidade do bebê, ela cita a cardiotocografia e o ultrassom com Doppler, que avaliam o fluxo sanguíneo entre a mãe e o feto.

“Mesmo quando os exames estão normais, o óbito fetal ainda pode ocorrer se os sinais de risco não forem identificados a tempo”, alerta a obstetra.

Além disso, ela orienta as gestantes a adotarem práticas de vigilância e autocuidado, como observar a pressão arterial, controlar e medir os níveis de glicose no sangue e monitorar a movimentação fetal durante o terceiro trimestre.

“É fundamental que a paciente mantenha um contato próximo com seu obstetra”, recomenda.

Outro ponto relevante é a identificação precoce de perfis mais vulneráveis. “Durante o pré-natal, vamos identificando as pacientes com fatores de risco para orientar o acompanhamento e decidir a melhor data para o parto”, explica Rebeca.

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Morte fetal: luto gestacional e acolhimento psicológico

A perda de um bebê durante a gestação provoca um luto profundo, que muitas vezes é invisibilizado pela sociedade.

Segundo a psicóloga perinatal Maria Helena Cunha, em entrevista ao portal da Fundação Oswaldo Cruz, o sofrimento é real e pode desencadear quadros de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático se não houver suporte adequado.

Nesse contexto, surgem redes de apoio que acolhem mulheres e famílias em situação de luto gestacional.

O Grupo Colcha, por exemplo, atua no Brasil promovendo rodas de conversa, escuta empática e conexões entre mulheres que vivenciaram perdas semelhantes. Pode-se acompanhar mais informações por meio do Instagram: @grupo_colcha.

Importância da escuta e da empatia

De acordo com um estudo publicado na Nature Reviews Disease Primers, a abordagem humanizada nos serviços de saúde e o treinamento de profissionais para lidar com perdas gestacionais são passos fundamentais para melhorar o acolhimento às famílias.

O óbito fetal, além de ser uma tragédia pessoal, é também uma questão de saúde pública. A conscientização sobre suas causas, a ampliação do acesso ao pré-natal e o apoio emocional às mulheres enlutadas são pilares para enfrentar esse desafio de forma mais empática e eficaz.

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