Desconhecimento é o maior obstáculo para a vacinação infantil, diz pesquisa

Levantamento do Instituto Locomotiva mostra que a falta de informações corretas é o principal desafio para o aumento das taxas de vacinação na infância

A falta de acesso a informações corretas sobre o calendário de vacinação infantil é apontado pelas mães como o fator que mais atrapalha a imunização dos filhos na idade certa. Essa é a constatação de levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva, encomendado pela farmacêutica Pfizer, em que a desinformação foi citada por 45% das mulheres entrevistadas como o motivo principal para atraso ou não imunização das crianças.

Dificuldades com deslocamento, ausência de documentação e falta de tempo também estão entre os obstáculos mencionados. O levantamento ouviu 2 mil mães de crianças e adolescentes de até 15 anos, por telefone, entre os dias 10 de janeiro e 8 de fevereiro deste ano, em todas as regiões do Brasil.

A amostragem exclusivamente materna, de acordo com o presidente do Locomotiva, Renato Meirelles, foi uma escolha estratégica. “São as mães que gerenciam a saúde dos filhos, e muitas vezes até dos maridos, lembrando data de vacinação, marcando exames, consultas”.

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Depois da desinformação, o horário de funcionamento dos postos de saúde, a distância longa para os centros de vacinação e a falta de informação sobre vacinas aparecem empatados no rol de obstáculos analisados pelas mães para a vacinação de seus filhos, cada um com 39%, seguidos da falta de vacinas específicas no Sistema Único de Saúde (SUS) (26%) e da dificuldade de encontrar tempo para levar as crianças para serem vacinadas (18%).

Como consequência da desinformação, 17% das mulheres declararam ter falta de confiança nas vacinas. "Esse cenário é alimentado pelas fake news e reforça a importância da imprensa profissional aumentar a divulgação de informações que mostrem a importância das vacinas para a saúde pública, especialmente na fase infantil", comentou Meirelles, destacando que apenas 24% das mães entrevistadas consideram ter elevado grau de conhecimento sobre o tema das vacinas. Por outro lado, 68% delas disseram que já se sentiram confusas sobre a imunização dos filhos.

Para o presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, os dados da pesquisa ajudam a explicar a queda acentuada nas taxas de vacinação infantil no Brasil.

"Passamos a observar um cenário de diminuição nas coberturas vacinais a partir de 2017. Se antes ela (a cobertura) oscilava em cerca de 90%, hoje está na faixa de 60% a 70%", analisa o médico, que também é membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

O calendário de vacinação infantil do Ministério da Saúde inclui 18 tipos de imunizantes para crianças e adolescentes com até 15 anos. A meta de vacinar 95% do público alvo não é alcançada desde 2019 em nenhuma das vacinas. A última cobertura acima do percentual preconizado pelas autoridades de Saúde ocorreu em 2018 com as vacinas BCG (99,72%) e pneumocócica (95,25%). As informações estão disponíveis no DataSUS.

A solução para o problema, na avaliação das mães ouvidas pela pesquisa, pode estar nas escolas. Quase 9 em cada 10 das entrevistadas (88%) disseram acreditar que as unidades de ensino poderiam facilitar o acesso à vacinação infantil, seja alertando os pais sobre as datas do calendário de imunização ou até disponibilizando as doses no próprio ambiente escolar.

Entre os benefícios, 80% das mulheres apontam a redução nos deslocamentos. Essa diminuição, para 76% delas, ajudaria a economizar despesas associadas ao trajeto, ligadas a custos como passagens de ônibus, transporte por aplicativo ou gasolina.

“Seria muito prático, porque esse deslocamento (casa até a escola) é feito diariamente. Isso mostra que os problemas apontados pelas mães na pesquisa têm a oportunidade de serem resolvidos com uma política pública”, sublinhou o presidente do Locomotiva, frisando que a medida teria potencial para alcançar quase 9 milhões de alunos na educação infantil e 47 milhões no ensino básico.

Levar a vacinação para as escolas, na visão de Renato Kfouri, é fundamental para recuperar atrasos na imunização dos adolescentes, mas teria pouco impacto sobre a cobertura do calendário de rotina das crianças com menos de 2 anos.

“É uma estratégia que não aumenta a cobertura no primeiro ano de vida, na fase da criança se imunizar contra a poliomielite e o sarampo, por exemplo. Não podemos esquecer que cerca de 60% das crianças não estão nas escolas ou creches antes dos 4 anos”, observa o médico.

A diretora médica da Pfizer, Adriana Ribeiro, ressalta que os resultados da pesquisa indicam um quadro de multifatorialidade por trás dos baixos indicadores de cobertura vacinal na infância. “Estamos falando de um problema influenciado por vários elementos, sejam eles sociais, econômicos, comportamentais ou de informações”. Ela diz acreditar que a integração entre saúde e escola pode abrir caminhos para estratégias intersetoriais que levem à reversão do cenário de queda nas taxas de imunização infantil no Brasil.

Motivos que atrapalham a vacinação infantil, na opinião das mães*

  • Falta de informação/conhecimento sobre o calendário vacinal - 45%
  • Horário de funcionamento dos órgãos de saúde - 39%
  • Dificuldade de acesso às UBSs/postos de saúde/clínicas - 39%
  • Falta de informação sobre vacina - 39%
  • Falta de vacinas específicas no SUS - 26%
  • Dificuldade de tempo para levar criança para vacinar - 18%
  • Falta de confianças em vacinas - 17%
  • Falta de algum documento que impede a vacinação - 10%
  • Falta de profissionais para aplicação das vacinas - 9%
  • Baixa percepção de risco das doenças - 9%
  • Outros - 0,2%

*Questionário com múltiplas respostas

Fonte: Instituto Locomotiva (encomendada pela Pfizer); 2 mil mães entrevistadas, entre os dias 10 de janeiro e 8 de fevereiro deste ano, entre todas as regiões do Brasil

Pensando no potencial da escola como aliada da vacinação infantil, o quanto as mães entrevistadas concordam com as afirmações abaixo:

  • Se houvesse a possibilidade de a vacinação ocorrer na escola a cobertura infantil poderia ser maior - 85%
  • Se a escola ajudasse no controle das datas de período de vacinação infantil mais crianças estariam com vacina e dia - 82%
  • Seria muito prático se a vacinação do meu filho pudesse ocorrer na escola - 82%
  • Eu adoraria que a escola enviasse mais comunicações sobre a vacinação - 82%
  • Se a escola ajudasse no controle das datas de período de vacinação infantil facilitaria muito a minha vida - 81%
  • Ficaria segura com a vacinação na escola se eu soubesse que ela seria realizada por profissionais de saúde qualificados - 81%
  • Se houvesse a possibilidade de a vacinação ser feita na escola, eu não teria que me deslocar muito para que meu filho fosse vacinado - 80%
  • Gostaria que a escola me ajudasse a lembrar do calendário do meu filho - 79%
  • Se houvesse a possibilidade de a vacinação ser feita na escola, eu não atrasaria as vacinas que meu filho precisa tomar - 77%
  • A escola é o local ideal para ter a possibilidade de vacinação infantil - 76%

 

Fonte: Instituto Locomotiva (encomendada pela Pfizer); 2 mil mães entrevistadas, entre os dias 10 de janeiro e 8 de fevereiro deste ano, entre todas as regiões do Brasil

(O repórter viajou a São Paulo a convite da Pfizer)

 












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