Presidente do PL desistiu de processos contra Ciro antes de Michelle travar aliança no Ceará
Ações se referiam a falas de Ciro; dentre elas uma que apontava Valdemar como "o cara que o Lula deu o DNIT pra roubar"
O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, retirou os processos que havia formulado contra o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PSDB). Movimentação ocorreu em setembro, antes da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) criticar aliança entre o PL Ceará e Ciro e, posteriormente, a legenda suspender as negociações.
Valdemar havia ajuizado uma queixa-crime contra Ciro, em razão da suposta prática dos crimes de calúnia e difamação. O cerne da acusação era que Ciro, quando era candidato a presidente em 2022, pelo PDT, teria imputado falsamente um fato criminoso e ofensivo à reputação de Valdemar, ao afirmar que ele teria “roubado” o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
"O Bolsonaro está filiado no partido de Valdemar Costa Neto que vinha a ser o cara que o Lula deu o DNIT para roubar", disse Ciro à época. A fala ocorreu no dia 15 de agosto de 2022, durante entrevista ao programa Roda Viva, mas Ciro voltou a repetir a acusação durante um debate da Revista Veja. Valdemar considerou as declarações de Ciro como ofensas contra a honra.
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Ao menos três processos de Valdemar contra Ciro estavam em curso desde 2022; em cada um, o presidente do PL cobrava que o então adversário político pagasse R$ 100 mil em indenizações. A retirada dos processos foi confirmada pelo próprio Valdemar ao O Globo.
Aproximação e ruído
O PL vinha, desde o início de maio deste ano (e desde 2024 nos bastidores), em uma aproximação constante com Ciro Gomes. O ex-governador chegou a participar do Café da Oposição, reunião de parlamentares cearenses opositores ao governador Elmano de Freitas (PT).
Na ocasião, afirmou que votaria do deputado estadual Alcides Fernandes (PL), pai do deputado federal André Fernandes (PL), para o Senado em 2026. André também havia participado do evento de filiação de Ciro ao PSDB em outubro.
Nesta terça-feira, 5, Fernandes anunciou que negociações com Ciro no Ceará estão suspensas por tempo indeterminado. Segundo ele, a suspensão foi motivada principalmente por um “ruído de comunicação” e pelo impacto da restrição de comunicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso por tentativa de golpe. A declaração foi feita após reunião da cúpula nacional do PL.
A crise interna se instaurou após a ex-primeira-dama dar um “puxão de orelha” diante da aproximação do PL no Estado com o ex-ministro. A ex-primeira-dama citou nominalmente André Fernandes e disse que, apesar do “orgulho” que sentia por ele, não seria viável apoiar uma pessoa que já criticou Bolsonaro.
No auge do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil, Ciro chegou a afirmar que a família Bolsonaro estaria agindo de forma “burra”.
“É indisfarçável que Lula está comemorando essa perigosa situação. Isso quer dizer que devemos aceitar passivamente a violência econômica oposta a nós pelo estrangeiro? Claro, óbvio que não. Mas daí a celebrar, como Lula está fazendo, os benefícios eleitorais de curto prazo que a soma da injustiça da medida ianque com a tremenda burrice dos Bolsonaros, vai um enorme e intransponível distância. Querem polarizar? Sigam destruindo nosso país”, disse.