De Lula a Washington Luís, lembre onde presidentes ficaram presos no Brasil
Da prisão em Sala de Estado Maior a detenções durante golpes, veja onde líderes que governaram o País já foram mantidos sob custódia
Com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, em regime inicialmente fechado, volta ao debate público a dúvida sobre onde ele deverá cumprir a pena, possivelmente em uma Sala de Estado Maior, como ocorreu com Lula e Michel Temer.
A decisão reacende a longa linha brasileira de presidentes e ex-chefes de Estado detidos, seja por crimes comuns, seja em meio a crises políticas, como Café Filho e Jânio Quadros, e golpes ao longo da história.
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A seguir, veja onde cada um deles cumpriu prisão:
Presidentes presos: Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado em duas instâncias da Justiça a 12 anos e 1 mês de prisão no caso que ficou conhecido como “triplex em Guarujá”. O petista foi preso em abril de 2018 por corrupção e lavagem de dinheiro em decorrência da Operação Lava Jato.
A pena foi cumprida em regime fechado em Curitiba, no prédio da Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) no Paraná, na chamada prisão especial. O espaço era um dormitório utilizado para receber agentes da PF de outros estados ou advogados que precisassem dormir na sede.
No cômodo de 15m² separado dos demais presos, ele tinha uma cama, um banheiro privativo, uma mesa e acesso à televisão, sem câmeras internas.
Durante o cárcere, Lula tinha direito a banho de sol e três refeições por dia, preparadas por uma empresa terceirizada e levadas até a SPF-CR. À época, o atual presidente do Brasil tinha 72 anos de idade.
As quartas-feiras eram dias de visitas, mas somente para familiares próximos. O metalúrgico não podia se encontrar com aliados políticos, por exemplo.
Em novembro de 2019, Lula foi solto por uma mudança de posição do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à prisão em segunda instância.
Presidentes presos: Temer
Michel Temer foi preso, aos 78 anos, em março de 2019 em decorrência da força-tarefa da Lava Jato que investigou as obras da usina nuclear Angra 3. A Operação Descontaminação investigava desvios da Eletronuclear.
Temer foi detido preventivamente em São Paulo e levado à superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Com a medida, se tornou o segundo presidente preso por consequência da Lava Jato.
Poucos dias depois, no entanto, o ex-presidente foi absolvido.
Presidentes presos: Collor
O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi condenado a 8 anos e 10 meses em 2023 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, decorrente também de desdobramentos da Operação Lava-Jato.
Acusado de receber cerca de R$ 20 milhões em propinas enquanto exercia o cargo de senador por Alagoas, Collor foi preso em abril de 2025.
Ele ficou no presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió, até maio, quando foi autorizado a cumprir a pena em casa após apresentar problemas de saúde. Vale lembrar que o ex-presidente tinha 75 anos.
Collor foi o primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura militar. Seu governo foi marcado por denúncias de corrupção em relação a seu tesoureiro, PC Farias, e a insatisfação popular com o Plano Collor, que estabelecia medidas radicais para controlar a inflação da época.
Após movimentações para um processo de impeachment, Collor renunciou em dezembro de 1992. Dois anos depois, foi absolvido e retomou a carreira política.
O político começou a ser investigado pela Lava Jato em seu segundo mandato como senador de Alagoas, em 2014.
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Presidentes presos: Hermes da Fonseca
Hermes da Fonseca foi preso em 1922, anos depois do fim de seu mandato, entre 1910 e 1914, por contestar a eleição de Artur Bernardes.
No dia 2 de julho, o político ficou detido por 24 horas no quartel do 3º Regimento de Infantaria, da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Hermes sofreu um ataque cardíaco, aos quase 70 anos de idade.
Sua prisão culminou na Revolta dos 18 do Forte, devido às tensões entre o exército e o governo, e Hermes foi detido novamente em 5 de julho. Essa foi a primeira manifestação do tenentismo brasileiro.
O quartel é conhecido por ser o cenário da Intentona Comunista, também conhecida como Revolta Vermelha ou Levante Comunista de 1935, um confronto entre militares rebeldes.
O prédio foi bombardeado e sofreu muitos ataques, em seguida, foi demolido e hoje abriga a Praça General Tibúrcio.
O ex-presidente foi solto em 1923 por habeas corpus. Hermes estava doente e faleceu em setembro do mesmo ano.
Presidentes presos: Juscelino Kubitschek
O ex-presidente Juscelino Kubitschek foi detido em 13 de dezembro de 1968, na mesma noite em que o Ato Institucional nº 5 (AI-5) foi promulgado. Juscelino foi levado a um quartel em Niterói, no Rio de Janeiro.
Kubitscheck foi preso porque participava de um movimento proibido pela censura político militar, chamado Frente Ampla, que buscava a redemocratização do Brasil. Ele já havia sido exilado do País em 1964, aos 64 anos de idade.
Foi solto no dia 22 do mesmo mês por motivos de saúde e cumpriu 30 dias de prisão domiciliar. Após isso, abandonou a política e se dedicou à carreira de empresário.
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Presidentes presos: Arthur Bernardes
Artur Bernardes foi presidente do Brasil entre 1922 e 1926. Em setembro de 1932, foi preso por organizar um levante em Minas Gerais em apoio ao movimento que buscava derrubar Getúlio Vargas, a Revolução Constitucionalista de 1932.
Bernardes permaneceu pouco mais de dois meses detido em Araponga, município próximo de Viçosa, em Minas Gerais.
Uma foto da Agência O Globo mostra o ex-presidente deixando o Forte do Vigia, no Leme, para embarcar em um navio rumo à Europa, mas não há confirmação de que ele tenha, de fato, ficado detido no Forte.
O ex-presidente passou um ano e meio em exílio em Portugal e retornou ao Brasil em 1934, já anistiado.
Presidentes presos: Washington Luís
Washington Luís foi o primeiro presidente preso ainda durante seu mandato, 21 dias antes do término. Em outubro de 1930, o político foi levado ao Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Ele foi deposto por ministros militares e preso pelas Forças Armadas, o que foi chamado de golpe de 1930. Depois, o político foi exilado do País e só retornou em 1947.
O espaço em que Washington ficou foi arquitetado para compor o sistema defensivo da cidade e seu porto e era considerado a mais poderosa fortificação da América do Sul na época.
Em 1987, o local deixou de ter função bélica e hoje abriga o Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.
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