Governo Lula demite indicados do Centrão e de aliados 'infiéis'; veja cenário no Ceará

Exonerações em cargos federais atingem PL, PP, MDB e PSD. Ceará teve oito deputados contrários ao governo, quatro são base

21:45 | Out. 13, 2025

Por: Thays Maria Salles
Gleisi Hoffmann disse que governo Lula não vai deixar de conversar com quem quer que seja, mas se quiserem continuar no governo, daqui pra frente, têm de votar junto (foto: Brito Júnior/SRI-PR)

governo Lula (PT) começou a reação à derrota no Congresso sobre a Medida Provisória 1303/2025. Nos últimos dias, foram exonerados de cargos federais aliados de quem votou contra a proposta alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

A situação foi confirmada pela ministra da Secretaria das Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann (PT). “Nós estamos reorganizando a base a partir de uma votação que era importante para o País e para o governo federal. Quem votou contra sabia disso, então não tem por que ficar no governo”, disse à CNN.

Gleisi informou que o governo Lula não vai "deixar de conversar com quem quer que seja, mas se quiserem continuar no governo, daqui pra frente, têm de votar com o governo”.

Quais demissões ocorreram?

Na sexta-feira, 10, a Caixa Econômica Federal desligou duas indicações, uma do PL e outra do Progressistas (PP). O primeiro, conforme comunicado do banco ao mercado, trata-se de Paulo Rodrigo de Lemos Lopes.

Ele ocupava a vice-presidência de Sustentabilidade e Cidadania Digital da Caixa e é aliado do vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ).

Ligado ao senador Ciro Nogueira, que é presidente nacional do PP, José Trabulo Junior deixou o cargo de consultor à presidência do banco.

Já no Diário Oficial da União daquele dia, constam as exonerações de cinco superintendentes regionais de ministérios ligados ao MDB e PSD. Elas são do Ministério da Agricultura no Pará, Paraná, Minas Gerais e Maranhão.

Saiu também do cargo de superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão, Lena Brandão, irmã do deputado federal Pedro Lucas, líder do União na Câmara. Ele foi o responsável pelo anúncio de que o União Brasil votaria para derrubar a MP de pauta. 

O Ministério dos Transportes também foi alvo. No Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Roraima foi registrada a saída de Igor Gomes Brasil, nome que teria sido indicado pela deputada federal Helena Lima (MDB-RR). Ela votou para a derrubada. 

Ceará na mira

A votação da retirada de pauta da MP do IOF ficou em 251 votos a favor e 193 contrários a medida. Ao todo, 10 deputados cearenses se posicionaram contra a retirada e oito foram a favor. Quatro não votaram.

Líder do governo Lula na Câmara, o cearense José Guimarães (PT), apontou que deve haver um "rebuliço tamanho" nesta semana em referência a demissões como resposta ao revés no Legislativo, e que já recebeu ligações pedindo intercessão para permanência nos cargos. 

"A ministra Gleisi me disse com todas as letras: 'Eu não vou discutir, eu vou fazer'. Eu já tenho notícias que mandou tirar. Eu já recebi telefonema: 'Zé, não deixa mexer na minha diretoria do Dnocs'. Eu disse: 'Entenda com a Gleisi'", relevou Guimarães em participação no podcast As Cunhãs, veiculado no sábado, 11. 

Além dos parlamentares de oposição, Júnior Mano (PSB) e Luiz Gastão (PSD) votaram contra o governo. Ambos pertencem a legendas da base governista.

AJ Albuquerque (PP), que é base no Ceará, e Moses Rodrigues (União Brasil), inclusive cotado como pré-candidato ao Senado em eventual aproximação, acompanhou esses colegas de bancada.

Conforme informou uma fonte governista da bancada cearense ao O POVO, pelo menos três desses parlamentares têm aliados em cargos federais no Ceará.

São eles: Luiz Gastão, na Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura do Ceará (SFPA/CE), que seria indicação compartilhada com o coordenador da bancada, Domingos Neto (PSD), que votou junto ao governo. Moses e AJ, respectivamente, em diretoria e superintendência do Dnocs.

Efeito colateral nas eleições

Em participação no podcast Jogo Político, do O POVO, na sexta-feira, 10, Guimarães asseverou que "quem vota contra o governo não terá apoio de Lula" nas eleições de 2026. De acordo com o líder, essas posições serão levadas ao conhecimento do presidente e pesarão na definição dos apoios no próximo ano.

"A sociedade está muito organizada. Teve gente que votou a favor da PEC da Blindagem e até hoje está pagando o preço. Quem estiver votando contra o governo não terá o apoio do Lula nos estados", disse o petista ao ser questionado sobre as posições de Júnior Mano e Moses.

O próprio Guimarães é pré-candidato ao Senado e diz que não irá abrir mão. Após as críticas, Júnior Mano minimizou voto contra MP de Lula. "Divergências pontuais fazem parte da democracia e do debate político", disse ao O POVO.

Aposta de Cid Gomes (PSB) para o Senado, Júnior Mano disse acreditar que o voto contrário sobre a MP "não atrapalha" o apoio do chefe do Executivo brasileiro a ele nas próximas eleições.

"Tem outras pautas que podem ser construídas. O presidente Lula está bem, retomando novamente o crescimento do Brasil", acrescentou.

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