Frei Tito: 80 anos do cearense símbolo da resistência à ditadura

Frei Tito: 80 anos do nascimento do frade cearense símbolo da resistência à ditadura

Frade dominicano cearense, preso e torturado pela ditadura, completaria 80 anos neste domingo; memória segue preservada em patrimônios, ruas e publicações

Neste domingo, 14 de setembro, completam-se 80 anos do nascimento de Frei Tito de Alencar Lima (1945–1974), frade dominicano cearense que se tornou um dos maiores símbolos da resistência à Ditadura Militar no Brasil.

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Nascido em Fortaleza, em 1945, Tito estudou no Liceu do Ceará e foi congregado mariano na Comunidade do Dendê. Desde jovem, destacou-se pelo engajamento no movimento estudantil e, aos 20 anos, ingressou na ordem dos dominicanos, conciliando a vida religiosa com a militância política.

Foi o primeiro religioso a registrar formalmente denúncias de violência praticada pelo regime, tornando-se referência na defesa dos direitos humanos.

Frei Tito
Frei Tito Crédito: Acervo familiar

A trajetória foi interrompida pela repressão. Em outubro de 1968, durante o 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP), Tito foi preso e fichado pela Polícia, tornando-se alvo de perseguição pela repressão militar. 

Pouco tempo depois, em 1969, Frei Tito voltou para a prisão acusado de oferecer infraestrutura a Carlos Marighella, guerrilheiro comunista líder da ALN (Ação Libertadora Nacional), morto naquele ano após emboscada organizada por Fleury. no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), foi submetido à sessões de tortura.

Em 1970, o nome de Tito entrou na lista de presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Exilado do país pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici, Frei Tito viveu no Chile, na Itália e, por fim, na França.

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Carregando os traumas dos anos de chumbo Período de maior repressão da ditadura militar no Brasil - Entre 1968 e 1974  da ditadura, suicidou-se em 1974, aos 28 anos, no convento de Éveux. Mas a memória segue preservada. Depois de quase 15 anos de burocracias e reinvindicações de ativistas, no dia 30 de janeiro deste ano, a casa onde viveu a infância, no Centro de Fortaleza, foi oficialmente tombada pela Prefeitura. 

As autoras Nildes Alencar e Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, em frente à casa onde morou Frei Tito, em Fortaleza.
As autoras Nildes Alencar e Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, em frente à casa onde morou Frei Tito, em Fortaleza. Crédito: Acervo pessoal

O processo de tombamento do imóvel se estende desde 2011.

"Quando secar o rio da minha infância/ secará toda dor. Quando os regatos límpidos de meu ser secarem / minh’alma perderá sua força. Buscarei, então, pastagens distantes / lá onde o ódio não tem teto para repousar. Ali erguerei uma tenda junto aos bosques. Todas as tardes, me deitarei na relva / e nos dias silenciosos farei minha oração. Meu eterno canto de amor: / expressão pura de minha mais profunda angústia. Nos dias primaveris, colherei flores / para meu jardim da saudade. Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio"

Poema escrito por Frei Tito em Paris (1972)

Ao longo das últimas décadas, Frei Tito foi homenageado em ruas, praças, centros de direitos humanos e espaços voltados à juventude e à resistência. Em 2008, foi reconhecido oficialmente pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça como vítima da ditadura.

Em 2021, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto que dá o nome de Frei Tito à uma rua da capital paulista antes identificada com o nome do torturador Sérgio Fleury. A história de Tito também já virou peça do Grupo Formosura de Teatro, que apresentou o espetáculo “Frei Tito: Vida, Paixão e Morte”. 

Em memória ao irmão, Nildes Alencar Lima lança, neste domingo, 14, o livro infantojuvenil As Travessuras de Nide e Tito, pela Fundação Demócrito Rocha (FDR), em parceria com o selo editorial Ribeira do Cocó, que resgata a história do jovem religioso a partir de sua infância. Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Maria Larissa Nascimento Marques também fazem parte da escrita. O livro conta com ilustrações de Samyra de Morais Fernandes.

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