O papel político dos papas: influências e polêmicas

O papel político dos papas: influências e polêmicas

Os papas ocupam lugar como governantes importantes antes mesmo de o Vaticano existir e ser uma cidade-estado independente. No século XIX, quando a Santa Sé era dona de territórios que formam a maior parte do que hoje é a Itália, os pontífices concentravam grande poder

Poder e religião se entrelaçam na figura mais simbólica da Igreja Católica e principal liderança: o papa. Muito além de líder central, os pontífices representam como chefes de Estado, hoje, o menor país em extensão territorial, o Vaticano.

Revisitando a história, os papas desempenharam funções importantes em decisões que impactaram governos, além de contribuírem para o encerramento de conflitos. Mas nem sempre o grande líder do catolicismo passou longe de um papado sem polêmicas e ações controversas ao que se espera de uma figura religiosa, como no caso do papa Pio XII.

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Governando sob uma monarquia absolutista, em que o pontífice concentra todos os poderes, cada papado é marcado pelo duplo papel que compreende ser chefe de Estado, com funções administrativas e diplomáticas, e líder supremo de fieis do catolicismo, que são guiados moralmente pela figura religiosa.

Os papas ocupam lugar como governantes importantes antes mesmo de o Vaticano existir e ser uma cidade-estado independente. No século XIX, quando a Santa Sé era dona de territórios que formam a maior parte do que hoje é a Itália, os pontífices concentravam grande poder.

Em 1929, o Vaticano foi criado a partir de um documento assinado pelo fascista Benito Mussolini e o papa Pio XI, quando firmaram o Tratado de Latrão e o país se tornou, enfim, independente. Anos e anos de história recontam grandes marcos de papados que se sucederam, deixando legados e, também, controvérsias.

Papas que foram grandes influências políticas

Papa Pio VII e Napoleão

Dois protagonistas do século XIX, o papa Pio VII, que liderou entre 1800 e 1823, travou um verdadeiro embate contra Napoleão Bonaparte, no período de instabilidade pós-Revolução Francesa. O antecessor do Pio VII, o papa Pio VI, foi exilado pelos franceses em Valence.

O cardeal beneditino Barnaba Chiaramonti foi eleito em março de 1800. Inicialmente, Napoleão e Pio VII tinham em comum o objetivo de reconciliar a igreja com o Estado na França, o que culminou na Cordata de 1801, mas a relação entre os dois começou a ruir rapidamente.

Napoleão, em 1809, no ápice do seu poder, ordenou a prisão e o sequestro do papa, o que concretizou a ruptura entre os dois, em uma relação que já apresentava tensões de anos anteriores.

A partir desse momento, conflitos e resistência moldaram as relações entre a Igreja Católica contra o imperador e sua forma de governar. Após a queda de Napoleão, papa Pio VII regressou aos Estados Papais em 1815, com reconhecimento pela resistência ao então imperador.

Inglaterra: papa Clemente VII e o divórcio de Henrique VIII

Uma solicitação de divórcio contribuiu para abalar as relações entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica em meados de 1530. Nobres e religiosos assinaram uma carta em que pediram a anulação do casamento do rei Henrique VIII com Catarina de Aragão, para que ele pudesse firmar matrimônio com Ana Bolena.

O rei Henrique VIII iniciou um processo de oposição à Igreja Católica na Inglaterra após o papa Clemente VII não aceitar seu pedido de divórcio. A medida originou a Reforma Religiosa inglesa, nomeada de Anglicana.

Henrique VIII foi excomungado pelo papa após se nomear chefe supremo da igreja da Inglaterra, além de dissolver conventos e mosteiros.

O papel de João Paulo II no fim da Guerra Fria

O primeiro papa não italiano em 456 anos, Karol Jozef Wojtyla, o papa João Paulo II, cumpriu função importante no fim da Guerra Fria. em 1989, no Vaticano, ocorreu o primeiro encontro entre um papa e um secretário-geral do Partido Comunista soviético, Gorbatchov. Anos do seu papado foram marcados pela sua luta contra o comunismo na Polônia.

Seu posicionamento contra o comunismo foi usado pelos poloneses como fonte inspiradora para a criação do sindicato Solidariedade, em 1980. Na América, a igreja teve papel de destaque para cumprir projetos do governo do presidente americano, Ronald Reagan, para combater o comunismo e os movimentos de traços marxistas.

Pós-Guerra Fria, seu papel político foi consolidado. Em 1998, visitou Cuba após convite de Fidel Castro. Lá passou cinco dias e recebeu críticas das comunidades cubanas da Flórida. Esse encontro ocorreu após o papa criticar o regime cubano no governo de Castro, que acompanhou na primeira fila quando João Paulo II celebrou a missa na Praça da Revolução.

Papa Francisco: relação com Milei e acenos a Lula

O papa Francisco, argentino, falecido no último 21 de abril, não teve uma relação muito amigável com Javier Milei, seu conterrâneo. Durante a campanha, então candidato, Milei chegou a chamar o pontífice de um “imbecil que defende a justiça social”.

O presidente argentino, após assumir a presidência, chegou a convidar o pontífice para visitar o país, o que não ocorreu durante o seu papado. Apesar das desavenças, após a morte de Francisco, Milei disse que ter conhecido o papa foi “uma verdadeira honra”.

Os dois se encontraram pela primeira vez em 2024, quando o presidente acompanhou a canonização da primeira santa argentina, Maria Antonia de Paz y Figueroa, chamada também de “Mama Antula”.

Ainda na América Latina, a relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi mais bem sucedida. Em 2019, quando Lula enfrentava a prisão por corrupção, condenação posteriormente anulada, Francisco respondeu uma carta de Lula, enviada meses antes, em que agradecia pelo seu apoio ao povo brasileiro. O pontífice respondeu, mencionando as “provas duras” pelas quais o político estava passando na época, quando perdeu sua ex-esposa, Marisa Letícia, em 2017, seu irmão, Genival Inácio, em 2019, e seu neto, então com sete anos, Arthur, também em 2019.

Uma atuação controversa

Papa Pio XII

Talvez uma das atuações mais polêmicas seja a de Eugenio María Giuseppe Giovanni Pacelli ou papa Pio XII. Seu papado ocorreu entre 1939 e 1958, quando ocupou o trono de São Pedro. Sua atuação na Segunda Guerra Mundial é vista como controversa, especialmente no que se tratava sobre o nazismo na Alemanha nesse período.

Uma carta datada de 1942, descoberta nos arquivos do Vaticano e que relatava os acontecimentos nos campos de concentração de Belzec, Auschwitz e Dachau, foi enviada por um padre jesuíta alemão ao secretário do papa Pio XII, Robert Lieber.

A partir do registro, altos funcionários tiveram acesso às ações de extermínio dos judeus na Alemanha nazista, o que leva a pensar que, possivelmente, o próprio papa também chegou a ter conhecimento sobre o extermínio de judeus, no entanto, nenhuma denúncia pública foi realizada, o que gera duras críticas ao falecido pontífice e apontamentos de que ele era conivente com o Holocausto.

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