Israel x Irã: veja quais são os países aliados de cada um no conflito

Conflito levou nações a e manifestaram ou reforçaram o apoio a um dos lados. Ligações entre os povos persas e os judeus datam dos tempos bíblicos

A crise no Oriente Médio ganhou um novo capítulo após o anúncio de um ataque, sem precedentes, do Irã a Israel, na noite do último sábado, 13. Foram lançados mais de 300 mísseis e drones ao território israelense, 99% deles interceptados. Ação ocorreu em retaliação ao bombardeio do consulado iraniano na Síria, atribuído a Israel. Em consequência, países se manifestaram ou reforçaram o apoio a um dos lados do conflito.

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O ataque na Síria ocorreu em 1º de abril e acarretou a morte de comandantes iranianos, dentre eles Mohammed Reza Zahedi, do alto escalão da elite da Guarda Revolucionária do Irã, e o comandante sênior Mohammad Hadi Haji Rahimi. No total, morreram 16 pessoas, incluindo dois civis, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Desde então, uma retaliação pelo Irã era esperada e Israel manteve-se em alerta.

Israel e Irã são antigos inimigos, mas não costumam se atacar diretamente, ao contrário do que ocorreu no sábado. As tensões têm aumentado desde 7 de outubro de 2023, com o início do conflito entre Israel e Hamas, na Faixa de Gaza. Mesmo assim, ambos evitavam se enfrentar, por alguns motivos. Dentre eles: Israel - por já estar envolvido em uma guerra -, e Irã - por receio de atacar um país que conta com o apoio dos Estados Unidos.

Após o ataque, o Irã disse que “o assunto pode ser considerado concluído”. No entanto, foi dito que “se o regime israelense cometer outro erro, a resposta será consideravelmente mais severa”. “É um conflito entre o Irã e o regime israelense desonesto, do qual os Estados Unidos devem ficar longe!”, completou o país.

Em resposta, o embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, afirmou que Israel tem todo direito de retaliar. “O ataque de ontem cruza todas as linhas vermelhas, e Israel tem todo o direito de retaliar. Não somos um sapo numa panela fervendo, somos um país de leões”, disse.

Israel conta com velhos e novos aliados

Conforme citado pelo Irã, Israel é apoiado abertamente pelos Estados Unidos e Inglaterra. No ataque de sábado, houve também ajuda da Jordânia e da Arábia Saudita. Além disso, a Turquia, avisada com antecedência pelo Irã sobre a ofensiva, passou a mensagem para os aliados israelenses, que conseguiram interceptar grande parte dos drones. Vale frisar, no entanto, que a ajuda na defesa não significa apoio a futuros ataques israelenses.

Após a interceptação dos drones, o presidente norte-americano Joe Biden citou que o compromisso com a segurança de Israel é inflexível. Os EUA teriam pedido cautela ao país aliado, alegando que eles não precisam necessariamente revidar. O apoio americano a Israel vem desde a criação do Estado judeu, após o fim da Segunda Guerra Mundial.

A relação se dá devido à estratégia geopolítica, explicitada por uma frase do então presidente Ronald Reagan sobre o aliado do Oriente Médio: “Israel é o maior porta-aviões americano, é inafundável, não carrega nenhum soldado americano e está localizado numa região crítica para a segurança nacional dos EUA”.

A Inglaterra também presta abertamente apoio a Israel. O primeiro-ministro Rishi Sunak afirmou que o seu Governo defende "a segurança de Israel e da região, o que é, naturalmente, importante também para a segurança interna" do Reino Unido. Apesar disso, o chefe da diplomacia do Reino Unido, David Cameron, disse que não apoia represálias de Israel.

Neste sábado, chamou atenção ainda o envolvimento da Jordânia e da Arábia Saudita, países árabes. O primeiro teria aberto seu espaço aéreo para aviões israelenses e americanos, já o segundo teria abrigado sistemas de defesa aérea do Ocidente, segundo o The Economist.

A Jordânia condena a guerra em Gaza, mas tem nos Estados Unidos um aliado, então encontrou-se em um local complicado em meio ao conflito. “Alguns objetos que adentraram nosso espaço aéreo na noite passada foram interceptados porque representavam uma ameaça ao nosso povo e áreas habitadas", justificou o governo jordaniano em comunicado.

Já a Arábia Saudita estudava uma aproximação a Israel, planos que foram adiados com o início da guerra em Gaza. Oficialmente, o Ministério saudita pediu para que o Conselho de Segurança (da ONU) assumisse a responsabilidade pela manutenção da paz e segurança internacionais.

Irã apoia o “Eixo da Resistência”

Apesar de não ter atacado diretamente até então, o Irã já apoiava um grupo chamado “Eixo da Resistência”, que comporta alguns atores, dentre eles o Hamas, que enfrenta Israel em Gaza. Além do grupo, fazem parte: o Hezbollah, os Houthis e grupos armados xiitas no Iraque e na Síria.

O Hamas é a maior organização islâmica nos territórios palestinos. A partir de 2006, após vencer as eleições legislativas contra o grupo Fatah, passou a ter um braço político na Faixa de Gaza. A guerra começou em 7 de outubro, quando o Hamas invadiu o sul de Israel e matou 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo dados oficiais israelenses.

Neste conflito, o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza anunciou nesta segunda-feira que 33.797 pessoas morreram desde o início da guerra com Israel, em 7 de outubro. Sessenta e oito pessoas morreram nas últimas 24 horas. A maioria são vítimas civis. Após os ataques do Irã, Israel seguiu com as operações no local, executando dezenas de bombardeios, enquanto a comunidade internacional aguarda a resposta ao ataque interceptado.

Já o Hezbollah é um partido político legítimo do Líbano, criado em 1980, para lutar contra as forças israelenses que haviam invadido o país. A investida mais recente de Israel ocorreu no domingo, 14, quando a aviação israelita bombardeou o Vale de Bekaa, um reduto do grupo xiita Hezbollah no leste do Líbano. Em resposta, o Hezbollah lançou 100 foguetes contra o norte de Israel e enviou ajuda aos palestinos em Gaza. Ambos - Hamas e Hezbollah - são considerados terroristas por Israel e aliados, como os EUA. 

O Houthis controla áreas do Iêmen em decorrência de uma guerra civil iniciada em 2014. Em novembro, investiram contra navios do Mar Vermelho, ataques que geraram retaliação dos Estados Unidos e do Reino Unido em janeiro deste ano.

Também integram o Eixo, grupos xiitas ligados ao Irã no Iraque, que ganharam força após a invasão dos Estados Unidos no território iraquiano em 2003. Por fim, a Síria, liderada por Bashar al-Assad, conta com forças apoiadoras do Irã em seu território.

China e Rússia pedem moderação e fim do conflito em Gaza

Ao contrário dos Estados Unidos e Inglaterra, que afirmaram apoio categórico a Israel, China e Rússia se posicionaram pedindo calma nos conflitos com o território iraniano, que foram citados como um desdobramento da guerra em Gaza.

"A China expressa profunda preocupação com a atual escalada e pede às partes relevantes que exerçam calma e contenção para evitar novas escaladas", diz texto publicado pela agência chinesa Xinhua.

Mensagem vai na mesma linha do comunicado russo que, no entanto, frisou que "o ataque [contra Israel] foi realizado no âmbito do seu direito à autodefesa nos termos do Artigo 51 da Carta da ONU, em resposta a ataques contra alvos iranianos no região", nomeadamente o ataque ao consulado iraniano em Damasco, que Moscou "condenou veementemente", afirmou o ministério das Relações Exteriores, chefiado por Serguei Lavrov.

Pequim não nomeou nem condenou o Hamas em relação aos ataques de 7 de outubro e posteriores. Pede um cessar fogo. Já a Rússia está em guerra com a Ucrânia - aliada dos Estados Unidos e tem laços com todos os principais atores do Oriente Médio: Israel, Irã, Síria e Hamas.

Como se posiciona o Brasil?

Na noite de sábado, o Ministério das Relações Exteriores publicou um comunicado afirmando que o governo brasileiro acompanha "com grave preocupação" as notícias de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel.

“O Brasil apela a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada", acrescentou.

Em resposta, o Instituto Brasil-Israel criticou a posição do Ministério sobre o caso. “O governo brasileiro perdeu a oportunidade de condenar um ataque flagrantemente ilegal que pode elevar a instabilidade regional a níveis imprevisíveis”, destacou a organização em nota.

Sobre o conflito em Gaza, o Brasil nunca tratou o Hamas como grupo terrorista, seguindo a atual recomendação da ONU. Seguem junto países-membros da ONU, como Noruega e Suíça, além de China, Rússia, e nações latino-americanas, dentre elas, México e Colômbia. Elas seguem a definição atual da ONU.

Além disso, ganhou grandes proporções um posicionamento recente do presidente Lula (PT), comparando as ações de Israel em Gaza ao holocausto.

Israel e Irã, povos com ligação bíblica

É dito que as relações entre Israel e Irã - antiga Pérsia - foram cordiais até 1979, quando a Revolução Islâmica dos aiatolás obteve o poder em Teerã, capital do Irã. As ligações entre os povos persas e os judeus, no entanto, datam dos tempos bíblicos, mais especificamente, do cativeiro da Babilônia.

Esse período durou cerca de 50 anos e foi marcado pelo exílio do povo judeu na Babilônia, comandada por Nabucodonosor II. O Reino de Judá passava por instabilidades políticas e a Babilônia emergia. Assim, a capital Jerusalém foi cercada e, anos depois, destruída. Os povos hebreus foram exilados por cerca de 50 anos (587 a 538 a.C).

O fim do exílio é atribuído à chegada de Ciro, conhecido como o grande ou “o ungido”. O Rei da Pérsia conquistou a Babilônia e permitiu que os hebreus retornassem e reconstruíssem o templo e a cidade de Jerusalém. Boa parte, de fato, fez isso, enquanto alguns permaneceram onde estavam. Após, durante os anos de 445 a.C a 333 a.C, começa a decadência do império persa e os esforços dos hebreus se concentram na reconstrução da comunidade judaica.

O Irã ficou conhecido como Pérsia até 1935. Em 1948, houve a repartição do território palestino que originou o estado de Israel. O Irã foi contrário a essa decisão, mas mesmo assim foi o segundo país islâmico a reconhecer Israel, sendo o primeiro o Egito.

Conforme citado anteriormente, as coisas mudaram a partir de 1979. A revolução liderada por Ruhollah Khomeini derrubou o xá e instalou uma república islâmica que tinha entre as principais marcas a rejeição ao imperialismo americano e a Israel.

O regime dos aiatolás rompeu com Israel, deixou de reconhecer a legitimidade do passaporte de seus cidadãos e tomou posse da embaixada israelense em Teerã para ceder à Organização para a Libertação da Palestina, que liderava a luta por um estado palestino contra Israel.

Ruhollah Khomeini começou a reivindicar a causa palestina como se fosse dele próprio. Grandes manifestações em prol da Palestina tornaram-se comuns em Terrã. Até então, o Iraque de Saddam Hussein era visto como a maior preocupação israelense. O tempo, porém, fez Israel ver no Irã um perigo maior para a existência do Estado.

O Irã começou a ficar cada vez mais isolado e desenvolveu planejamento destinado a evitá-lo, de modo a afastar a possibilidade de ataques contra si: uma rede de organizações sintonizadas com Teerã realizaram ações armadas favoráveis aos seus interesses. A libaneza Hezbollah, tida como terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, é a mais destacada delas. Israel também financia grupos armados que combatem os favoráveis ao Irã.

Para o Irã, Israel não deveria existir. Os governantes do Irã veem o país como "pequeno Satanás", porque Israel é aliado aos Estados Unidos, a quem chamam de "grande "Satanás". Israel, por sua vez, acusa o Irã de financiar grupos terroristas e de realizar ataques contra seus interesses. O Irã seria movido pelo antissemitismo dos chamados aiatolás.

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