Padre Júlio sobre abertura de CPI na Câmara de São Paulo: "É um direito deles"

A instalação da CPI foi criticada por parlamentares ligados à esquerda, como a deputada federal Erika Hilton (SP), Pastor Henrique Vieira (RJ), Fernanda Melchinonna (RS) e Sâmia Bonfim (SP), todos do Psol

Após entrar na mira de investigação de vereadores da Câmara Municipal de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti afirmou que “é um direito” dos políticos instalarem uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a relação dele com as entidades na região central paulista.

“A CPI é um instrumento legítimo, institucional, para investigar, principalmente, políticas públicas. É um direito que eles (vereadores de São Paulo) têm”, disse o religioso à Veja.

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A intitulada CPI das ONGs, de autoria do vereador Rubinho Nunes (União), visa apurar a conduta de Lancellotti na cracolândia e a relação dele com as entidades. O vereador articulou, junto à cúpula do Legislativo, uma negociação para instalação da CPI após ter conseguido as 24 assinaturas necessárias para protocolá-la.

A temática pode ser um ponto de colisão na gestão de Ricardo Nunes (MDB) e deve ser um dos assuntos nas eleições municipais deste ano, vide a relação do padre com o também pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol).

A instalação da CPI foi criticada por parlamentares ligados à esquerda, como a deputada federal Erika Hilton (SP), Pastor Henrique Vieira (RJ), Fernanda Melchinonna (RS) e Sâmia Bonfim (SP), todos do Psol.

Além destes, lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), como João Pedro Stedile criticaram a Câmara paulistana e convocaram seus correligionários a defender as ações de Lancellotti.

Circula nas redes sociais uma imagem com o desenho da figura do padre junto a um letreiro com a frase: “Protejam o padre Júlio Lancellotti”.

“Um absurdo a posição da Câmara de Vereadores de São Paulo com a instalação de uma CPI que é nitidamente uma tentativa de perseguição política ao Padre Júlio Lancellotti e todos aqueles que lutam pela justiça social. @pejulio receba o abraço e toda solidariedade do MST!”, escreveu Stedile.

Veja

A ofensiva, no entanto, não é de hoje. A solicitação de abertura da CPI foi protocolada no início de dezembro e ainda não recebeu nenhum encaminhamento formal. A Câmara está em recesso e só retornará às atividades no começo de fevereiro. O plenário da Casa é o único que pode instalar ou arquivar o pedido de instalação da CPI.

O vereador Rubinho afirmou à Veja que já tem o número de assinaturas necessárias para que o colegiado seja instalado na Câmara. Segundo ele, a CPI deverá apurar o que ele chamou de “máfia da miséria”, que consiste em uma rede de organizações que receberiam recursos públicos e privados para ajudar dependentes químicos mas que, na prática, estariam “piorando” a situação.

O texto não cita nominalmente Lancellotti e nenhuma organização específica. No entanto, o vereador informou que o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, a Bompar, e a Craco Resiste serão investigadas.

A primeira é uma organização filantrópica vinculada à Igreja Católica, na qual o padre Júlio já foi conselheiro. A segunda, por sua vez, atua contra a violência policial na região da cracolândia.

Em dezembro, o pároco afirmou ao O Globo que não tem qualquer incidência sobre as entidades e não atua em projetos conjuntos com elas.

“Elas são autônomas, têm diretorias, técnicos, funcionários. A Câmara tem direito de fazer uma CPI, mas vai investigar e não vai me encontrar em nenhuma das duas”, pontuou.

Ele acrescentou que não faz parte do conselho da Bompar há 17 anos e que ocupava uma posição não remunerada no conselho deliberativo da entidade.

Lancellotti e o PT

O padre é alvo frequente de políticos da extrema direita por causa da sua proximidade com lideranças de esquerda e pela atuação com as pessoas em situação de rua na capital paulista há cerca de 40 anos.

Em agosto, ele recebeu a medalha da Ordem do Mérito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. A honraria foi dada após o padre ser ameaçado por meio de bilhete deixado na Paróquia São Miguel Arcanjo, onde atua.

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