Entenda a estratégia de Ciro Gomes ao bater boca com Dilma nas redes sociais

O presidenciável e a ex-presidente discutiram no Twitter depois que Ciro acusou Lula de atuar pelo impeachment de Dilma

Nessa quarta-feira, 13, a ex-presidente Dilma Rousseff e o presidenciável Ciro Gomes (PDT) trocaram farpas no Twitter durante toda a tarde. As acusações feitas pelo pedetista, avaliam especialistas, seguem a estratégia de Gomes de rivalizar contra o PT, ganhar a simpatia de eleitores desiludidos com Bolsonaro e chegar ao segundo turno enfrentando Lula (PT) em 2022.

A discussão começou depois que a petista comentou, pela rede social, uma entrevista cedida pelo ex-ministro em que ele acusa Luiz Inácio Lula da Silva de ter atuado pelo impeachment dela, ocorrido em 2016. Ao Estadão, Ciro disse ter lutado contra o afastamento da ex-governante e criticou a proximidade de Lula com lideranças de centro. "Hoje estou seguro que o Lula conspirou pelo impeachment da Dilma”, afirmou Gomes.

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A ex-presidente acusou o pedetista de “mentir de maneira descarada”. Na sequência, e recebendo respostas do pedetista, chamou-o de misógino e comparou Gomes ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A ex-presidente disse que Ciro distorce fatos sistematicamente, característica que, segundo Rousseff, ele tem em comum com o atual presidente.

Cientistas políticos consultados pelo O POVO explicam que o discurso de Ciro segue uma estratégia política clara de rivalizar contra o PT. O pedetista tem apostado na ideia de que Jair Bolsonaro (sem partido) não chega ao segundo turno nas eleições de 2022. Dessa forma, tenta se firmar como a crítica mais qualificada às gestões petistas de Lula e Dilma Rousseff. O movimento, acreditam as especialistas, deve seguir até 2022.

Carla Michele Quaresma, cientista política e professora universitária, explica que a ideia do pedetista é se lançar para o eleitorado como a figura melhor preparada para assumir o país após mandatos petistas e o de Bolsonaro.

“Claro que eventualmente ele faz as críticas que são necessárias a fazer ao Governo, à condução na pandemia. Mas em casos como esse ele entende como estratégia política a necessidade de se posicionar como uma figura que pode ser uma liderança antipetista, que antagonizaria com o PT e que seria uma alternativa ao partido de Lula”, diz Quaresma.

Um questionamento que surge sempre que há o embate nacional entre Ciro e o PT é sobre os efeitos na aliança entre os dois partidos no Ceará. Contudo, a professora de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, acredita que a briga, pelo menos a desta vez, não deve respingar por aqui.

Torres lembra que a popularidade de Camilo Santana (PT) no Ceará é indiscutível, assim como a proximidade do governador com os irmãos Ferreira Gomes e líderes do PDT. Dessa forma, a discussão de hoje não deve afetar essa aliança. Por hora, indica, a tendência é que existam algumas dificuldades na formação de chapa para a disputa estadual.


Ciro foi misógino?

Em dado momento, Dilma fala em misoginia no tom de Ciro Gomes. Quaresma e Soares não enxergam dessa forma. Para elas, o ex-ministro só fez mais do mesmo e agiu com autoritarismo.

“Ciro Gomes não rejeita só mulheres, ele rejeita tudo que não é espelho. Então ele desqualifica todas as pessoas não é só em relação a ex-presidente Dilma. Ele tem mantido esse discurso de desconstrução, desqualificação em relação aos principais quadros do Partido dos Trabalhadores, em relação ao presidente Bolsonaro e toda a equipe que o acompanha”, lembra Quaresma.

Todavia, a cientista política concorda com Dilma quando a ex-presidente indica que Gomes se coloca como detentor de uma “verdade absoluta”. “Esse discurso é muito construído numa lógica de desqualificação do outro. Como se realmente só ele (Ciro) fosse o detentor de uma verdade absoluta. É essa a lógica mesmo, de um narcisismo", reafirma Quaresma.

Quem também apareceu na discussão foi o deputado federal Capitão Wagner (PROS), o principal adversário político dos Ferreira Gomes no Ceará. Em um tuíte, o ex-candidato a prefeito diz que Ciro reproduz um comportamento que o então candidato à prefeitura de Fortaleza José Sarto (PDT) adotou contra a adversária Luizianne Lins (PT): supostamente usá-la como aliada política e descarta-la quando não for mais interessante.

Veja o que disse Wagner:

— Capitão Wagner (@capitao_wagner) October 13, 2021

 

Aqui, Wagner revive uma estratégia utilizada na campanha pelo Paço Municipal em 2020, quando tentou ganhar simpatia de eleitores de Lins depois que a campanha de Sarto iniciou ataques mais severos contra a petista, indica Monalisa Torres.

 

Os riscos da estratégia de Ciro

O presidenciável tem tido dificuldade em conseguir subir nas pesquisas de intenção de voto. O último levantamento Ipec, lançado em 22 de setembro, colocava o pedetista em terceiro lugar, com 8% das intenções. Ele aparece atrás dos líderes Bolsonaro (23%) e Lula (48%).

Dessa forma, na busca por alcançar o segundo turno, Gomes aposta na conquista de cada dos eleitores arrependidos de Bolsonaro que também não enveredam pelo caminho petista.

A aposta, por outro lado, pode refletir na perda de apoiadores e até de eleitores do campo progressista, avalia Torres. “Ele (Ciro) vai manter essa retórica de crítica ao PT com risco de perder também alguns aliados, e também de perder parte do eleitorado dele que é mais progressista”, pontua.

 

Alguém ganhou ou perdeu?

Para Monalisa Soares, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), situações como a dessa quarta-feira colocam o político radicado no Ceará em situação ruim. Há poucos dias, Gomes tinha proposto uma trégua com o Partido dos Trabalhadores e agora volta a fazer críticas severas a lideranças da legenda.



Já o cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando não considera a discussão de hoje relevante. Para ele, trata-se de dois atores políticos de esquerda, com posições políticas divergentes, mas que já se findou ali, na rede social.

Contudo, o pesquisador aponta que a comparação de Ciro com Bolsonaro, feita por Dilma, não condiz com a realidade. “Você pode discordar do Ciro e tudo mais, até o fato dela chamá-lo de misógino”, diz Prando. “Agora, eu não creio que se possa comparar Ciro Gomes em nenhum aspecto ao presidente Bolsonaro”, conclui.

Acompanhe o novo episódio do Jogo Político, que discute o veto de Bolsonaro à distribuição de absorventes no País:

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