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Renata Souza e mil dias sem Marielle: "Tem sido uma mistura de indignação, de tristeza, mas também de luta"

Amiga e braço direito de Franco durante campanha política, Renata fala sobre a luta para que o assassinato de Marielle e Anderson seja solucionado

A execução da vereadora carioca Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completará mil dias nesta terça-feira, 8. Diante de diversos desdobramentos, o crime que aconteceu no dia 14 de março de 2018 e segue sem soluções conclusivas desde então. Ao O POVO, Renata Souza (Psol), amiga e braço direito da socióloga em sua campanha política, relatou sobre os sentimentos nestes dois anos e nove meses sem Marielle.

“Esses mil dias tem sido uma mistura de sentimento, de indignação, de tristeza, mas também de luta, né?”, pontuou. Ainda, considera lamentável a demora na resolução do caso. Para a parlamentar, também primeira mulher negra a presidir a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), cada um dos dias sem respostas demonstra uma fragilização da democracia brasileira. Entretanto, é também combustível para uma sociedade mais justa e humana.

“Acho que o principal recado que a Marielle nos deixou foi pra que a humanidade não se desumanizasse. O assassinato da Marielle representa também um ataque aos direitos humanos, um ataque à democracia brasileira”.

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Renata destacou a importância da construção de candidaturas como a de Franco - ligadas no espectro da representação de mulheres negras, da favela e da periferia na política brasileira. “Eu e Marielle viemos da mesma construção política. Então, sem dúvida nenhuma, essa é uma construção que nós carregamos juntas há algum tempo”, destacou.

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Ela conheceu Marielle durante um cursinho comunitário para pré-vestibular em 2000, onde juntas nutriram uma amizade no complexo da Maré, bairro carioca tido como local de atuação e lar das militantes.

Juntas, foram além da Maré e trabalharam por dez anos no comitê político de Marcelo Freixo (Psol). Foi em 2016, ano de eleição de Marielle, que Renata recebeu o convite de Franco para ser chefe de gabinete da vereadora. Ficou no cargo até a morte da amiga, em 14 de março de 2018. Diante do caso, uma hesitação: deixar a militância ou continuar lutando pelas causas apoiadas por Marielle.

Em 2018, Renata foi eleita deputada estadual com 63.937, mais votada da esquerda em todo o estado. “É claro que eu não estava colocada como candidata, eu fazia esse papel de braço direito da Marielle. Então, a minha prioridade era ela”, contou.

Ao citar o caso Marielle, Renata acredita no conceito do “feminicídio político”. Segundo ela, é um resultado de diversas violências que não só veem as mulheres que estão na política, mas as mulheres que estão na linha de frente de mudanças sociais. “Acho que é aquilo que não se nomeia, não se classifica no campo do Direito. E o feminicídio político existe”, destacou.

Fatores como a demora da resolução do caso fortalecem o discurso do feminicídio político, segundo ela, envolvendo interesses em não descobrir os mentores do crime. “Me parece que houve muita interferência durante todo o curso das investigações e isso, sem dúvida nenhuma, torna o caso ainda mais simbólico nesse sentido”.

Atos relembram mil dias sem respostas 

 

Diante dos mil dias sem Marielle, atos simbólicos serão realizados nas redes sociais e através do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), no qual ela era filiada. No Ceará, o Psol organizará um evento virtual em memória da vereadora e de Anderson. A live será transmitia através da página do Facebook do Psol Ceará e também do Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo.


Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no dia 14 de março de 2018. O caso chocou o País devido a brutalidade e dificuldade de sua resolução: mais de dois anos após o crime, ainda não há respostas concretas sobre quem mandou matar Marielle ou a motivação do crime.

No último domingo, 6, uma nova pista do caso veio à tona. Segundo informações do jornal O Globo, investigadores descobriram que Eduardo Almeida Nunes de Siqueira clonou um veículo do mesmo modelo, entre janeiro e fevereiro de 2018, próximo a março, quando o crime foi cometido. O advogado que defende Siqueira, Bruno Castro, é o mesmo que atua para o sargento reformado Ronnie Lessa, acusado de executar o crime.

Em 2018, ao ser questionado por investigadores se o carro foi usado na morte de Marielle e Anderson, Siqueira respondeu “não saber informar”. Entretanto, ao ver as imagens pela TV do Cobalt usado no crime, ele disse que “viu grande semelhança com o veículo que esteve em suas mãos", tendo posteriormente repassado o veículo para uma pessoa chamada Rafael.

A polícia também vem seguindo outras investigações. Uma delas, segundo o jornal, é que a ordem para matar a vereadora partiu de um ex-vereador e miliciano, identificado como Cristinao Girão. O objetivo principal seria vingança contra o deputado federal Marcelo Freixo (Psol), que presidiu em 2008 a comissão da CPI das Milícias. Girão era um dos nomes citados e ficou preso até 2017, um ano antes da execução. 

Devido à data, o nome de Marielle esteve entre alguns dos assuntos mais comentados do Twitter na manhã desta segunda-feira, 7. Personalidades como a cartunista Laerte Coutinho e a jornalista Eliane Brum aderiram à causa nas redes sociais.

 

O podcast Arquivo Aberto, do O POVO, contou cronologicamente a história do Caso Marielle. Para relembrar e acompanhar os desdobramentos do assassinato da vereadora, basta ouvir o especial Caso Aberto no site ou em plataformas de streaming como o Spotify ou Deezer. Recentemente a atriz Taís Araújo representou Marielle Franco para o especial Falas Negras, da TV Globo.

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