Crise climática avança mais rápido que ações de mitigação, alerta relatório internacional

Crise climática avança mais rápido que ações de mitigação, alerta relatório internacional

Florestas, solos e oceanos estão cada vez menos capazes de absorver gases de efeito estufa, o que intensifica o aumento das temperaturas globais

A crise climática está avançando em ritmo mais acelerado do que as medidas adotadas para combatê-la. Florestas, solos e oceanos — considerados drenos naturais de carbono — estão cada vez menos capazes de absorver gases de efeito estufa, o que intensifica o aumento das temperaturas globais.

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Esse levantamento faz parte do relatório “10 New Insights in Climate Science 2025/2026”, elaborado pela The Earth League, consórcio internacional de cientistas e especialistas em clima. O estudo reúne os achados científicos mais recentes sobre o aquecimento global e contou com a participação de mais de 150 especialistas de diferentes países.

As contribuições foram analisadas e organizadas em dez tópicos principais, distribuídos em três eixos: as evidências da aceleração do aquecimento, os impactos observados e os caminhos para aprimorar as ações de mitigação.

Um dos principais alertas do estudo aponta que os recordes de temperatura registrados em 2023 e 2024 podem estar relacionados a um desequilíbrio energético da Terra (EEI). Esse desequilíbrio é impulsionado pela redução da reflexão da luz solar, causada pela diminuição das nuvens sobre os oceanos e ao recuo das camadas de gelo.

Segundo os cientistas, apenas o fenômeno El Niño não explica a intensidade das anomalias térmicas observadas nos últimos anos. A pesquisadora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da equipe que formulou o relatório, explica que a elevação das temperaturas já alimenta uma série de eventos extremos.

“O aumento contínuo do calor tem intensificado ondas de calor, secas, incêndios florestais, tempestades e inundações, com grandes perdas humanas e econômicas”, afirma.

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Bustamante destaca que o aquecimento dos oceanos tem impactos profundos tanto ambientais quanto socioeconômicos, ameaçando comunidades costeiras com o avanço do nível do mar e afetando a biodiversidade marinha.

“Com águas mais quentes, o oceano absorve menos gás carbônico, reduzindo sua capacidade natural de equilibrar o clima”, explica.

A pesquisadora também alerta para a fragilidade dos drenos naturais de carbono, essenciais para conter o aquecimento global. “Esses ecossistemas estão perdendo força devido à degradação, poluição e às próprias mudanças climáticas. Precisamos reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa para facilitar sua recuperação”, pontua.

Entre os dez pontos destacados no relatório estão ainda o esgotamento de aquíferos subterrâneos, o aumento de surtos de doenças agravadas pelo calor, como a dengue, e o risco crescente de incêndios florestais.

Com esse cenário, Bustamante defende que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — compromissos voluntários assumidos pelos países para reduzir emissões — sejam revistas com metas mais ambiciosas.

“Se plenamente implementadas, as NDCs atuais reduziriam as emissões globais em apenas 5,9% até 2030, muito abaixo dos 42% necessários para limitar o aquecimento a 1,5°C”, destaca.

Com a aproximação da COP30 no próximo dia 10 e novembro, a cientista ressalta a importância de avançar em políticas públicas e financiamento climático, fortalecendo ações locais e globais. “Precisamos criar indicadores de progresso padronizados, monitorar a transição energética, restaurar florestas e proteger a biodiversidade”, reforça.

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