Morre ex-presidente uruguaio Pepe Mujica aos 89 anos

Morre ex-presidente uruguaio Pepe Mujica aos 89 anos

Na segunda-feira, 12, foi divulgado que o ex-guerrilheiro estava em fase terminal do câncer

José 'Pepe' Mujica, o ex-guerrilheiro que governou o Uruguai com um discurso anticonsumista que o transformou em referência da esquerda latino-americana, morreu, nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, informou o atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi.

Conhecido como o "presidente mais pobre do mundo", apelido que ganhou por sua vida austera, Mujica revelou no início deste ano que o câncer de esôfago diagnosticado em maio de 2024 havia se espalhado e que seu corpo já não suportava mais tratamentos.

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"Com profunda dor comunicamos que faleceu nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, referência e líder. Vamos sentir muito a sua falta, velho querido", escreveu Orsi em sua conta no X.

Mujica: câncer no esôfago

Na segunda-feira, 12, foi divulgado que Mujica estava em fase "terminal" de um câncer de esôfago e recebe cuidados paliativos para aliviar a dor. As informações vieram de sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, a um veículo de comunicação local.

A situação atual é "terminal", disse Topolansky, citada pela estação de rádio local Sarandí, e explicou que eles fazem todo o possível para garantir que ele viva a parte final de sua vida "da melhor maneira possível".

 

Em janeiro, Mujica revelou que o câncer havia se espalhado por todo o seu corpo e que ele não faria mais tratamento aos 89 anos. Sobre a ausência do ex-presidente (2010-2015) nas eleições regionais de domingo, nas quais a esquerda manteve o poder na capital do país, Montevidéu, sua companheira explicou que o deslocamento era demais para ele e seu médico recomendou que ele não fosse.

No domingo, o presidente uruguaio, Yamandú Orsi, sucessor de Mujica, pediu que a privacidade do ex-guerrilheiro fosse respeitada.

"Devemos todos contribuir para garantir que a dignidade seja a chave em todas as fases de nossas vidas. Não devemos enlouquecê-lo, devemos deixá-lo em paz", insistiu Orsi.

Com seu estilo de vida austero e direto, que lhe renderam o apelido de presidente "mais pobre" do mundo — uma afirmação que ele sempre negou — Mujica se tornou um emblema da esquerda latino-americana e, com sua retórica anticonsumista, conquistou simpatizantes no mundo todo.

Mujica: quem foi o ex-presidente?

Mujica conquistou uma popularidade inusitada para o presidente de um país de 3,4 milhões de habitantes, estável e encravado entre os gigantes Brasil e Argentina.

Seu nome deu a volta ao mundo em 2012, com um discurso aplaudido na cúpula Rio+20. Sem gravata, mas com um traje muito mais formal do que usava em sua Presidência - durante a qual participava de atos oficiais usando sandálias -, subiu ao púlpito da conferência e repreendeu o consumismo.

Um ano depois, foi ainda mais duro na Assembleia da ONU, na qual criticou que a humanidade tenha "sacrificado os velhos deuses imateriais" para ocupar "o templo com o deus mercado".

Em sua chácara modesta na periferia de Montevidéu, que se recusou a abandonar durante seu mandato, Mujica recebeu personalidades, como o rei emérito da Espanha, Juan Carlos II, e celebridades do mundo das artes, como o diretor de cinema Emir Kusturica.

O cineasta sérvio, fascinado pela personalidade do 'Pepe', fez um documentário que estreou em 2018.

Tampouco faltaram polêmicas, com frases fora de tom, que viraram manchetes em todo o mundo.

Um insulto direto à Fifa em 2014 e a indelével frase "essa velha é pior que o vesgo", dita sem que ele percebesse que um microfone estava ligado, em alusão à então presidente argentina Cristina Kirchner e seu falecido marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, são a ponta do iceberg de uma dialética que começou com "não seja bobo", usado reiteradas vezes perante jornalistas.

Trajetória

Em seu mandato, o ex-guerrilheiro se caracterizou por romper com as regras. Ele impulsionou a legalização do mercado da cannabis com um inédito plano que pôs o Estado para gerenciar da produção à comercialização da erva, e tomou outras decisões polêmicas, como receber presos de Guantánamo, em um acordo com o então presidente americano Barack Obama.

Essa rebeldia contra a ordem estabelecida, que o levou a ser, na juventude, um dos líderes da guerrilha urbana Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN), ativa no Uruguai da década de 1960 até 1972, também lhe permitiu suportar 13 anos de prisão em meio a torturas e condições desumanas.

Após sua libertação, em 1985, reintegrou-se na vida política e em 1989 fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), que liderou até sua morte e transformou no setor mais votado de longe na Frente Ampla, o principal partido do país.

Foi deputado em 1995, senador em 2000 e ministro da Pecuária e Agricultura em 2005, em sua trajetória para a Presidência.

Morte de Mujica: reações

A morte do ex-presidente foi lamentada por políticos. Um deles foi o líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT). "Um exemplo de homem simples, do povo, filho de uma vendedora de flores e que se tornou um dos maiores líderes de esquerda como presidente do Uruguai. Hoje o mundo se despede do grande Pepe Mujica, um ex-guerrilheiro e símbolo da esquerda na América Latina. Vá em paz, querido amigo. O seu legado é eterno", escreveu em uma conta nas redes sociais. 

 

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