Mãe de vítima da chacina do Curió conta que ouviu ameaça antes do julgamento
A mulher que perdeu o filho na chacina de 2015 conta que ouviu, dias antes do julgamento, que "tem é que calar essas mães, elas estão falando muita besteira"
Uma das mães de vítimas da chacina do Curió, em Fortaleza, relatou que precisou se mudar após ouvir ameaças no mês de agosto deste ano, período que acontecia o quarto júri do caso. O relato foi registrado nessa segunda-feira, 22, em depoimento durante o primeiro dia do quinto julgamento do crime.
Catarina Ferreira Cavalcante é mãe de Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, morto aos 18 anos de idade, no dia 11 de novembro de 2015. Além de "Pedrinho", como a mãe o chamava carinhosamente, outros 10 foram mortos, destes, oito jovens.
Mais sete pessoas ficaram feridas, muitas com sequelas físicas e psicológicas da trágica madrugada.
Catarina afirmou, durante o julgamento, que acabou se mudando neste ano por medo, antes que o julgamento começasse.
Ela descreve que foi a um mercadinho, no mês de agosto, quando acontecia o quarto julgamento dos agentes de segurança que eram acusados de omissão, e viu no notíciário da TV uma matéria sobre o caso.
Um homem, então, teria afirmado que um dos réus era vizinho dele e que seria julgado no mês de setembro. O homem dizia que "tem é que calar essas mães, elas estão falando muita besteira", reproduziu Catarina.
No julgamento dessa segunda-feira, 22, durante as perguntas realizadas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), a mulher afirmou que tem medo de represálias, mas que precisa pedir Justiça pela morte do filho.
Catarina conta quye a vida se dividiu quando o filho morreu. Ela há havia perdido outro filho seis meses antes, morto após um câncer. Depois que Pedrinho morreu, ela ainda precisou lidar com problemas de saúde do marido e da mãe, que também morreu. Além de toda a situação de medo que envolvia o caso da chacina.
Durante o depoimento, ela descreveu ter visto o filho baleado. Ele os outros garotos estavam feridos e foram socorridos por um pastor evangélico, em um automóvel com carroceria. A mãe contou ainda que acompanhava o transporte das vítimas na carroceria quando eles foram perseguidos por um outro veículo.
O carro que realizava o socorro então parou e alguns homens encapuzados passaram a perguntar se os jovens possuíam antecedentes criminais.
Catarina diz que um dos homens tentou puxar o filho dela e ainda desferiu um murro em outra vítima.
Conforme o relato da mãe, depois que chegaram ao Frotinha de Messejana, as vítimas e ela foram cercadas por policiais fardados. Ela afirma que viaturas estavam dentro da unidade hospitalar e que os PMs acessavam o interior da área de atendimento médico.
Catarina descreveu ainda que, ao chegar com o filho ferido, foi surpreendida por alguns agentes que filmavam ela e os feridos desembarcando da caminhonete. Ela escutou os filhos sendo chamados de vagabundos e foi chamada de chefe dos vagabundos.
Ainda contu que um dos policiais chamou a atenção de um dos filhos dela dizendo que aquilo que acontecia era "culpa dele".
Julgamentos
Os policiais que estão sendo julgados são Marcílio Costa de Andrade e Luciano Breno Freitas Martiniano. Ambos estavam de folga no dia do crime, à paisana.
Laudos periciais mostram que a arma de Marcílio teria sido utilizada em uma das mortes e o veículo particular de Luciano Breno teria passado pelos locais dos crimes durante a madrugada.
Dias antes da chacina, Marcílio Costa de Andrade foi apontado como autor de um homicídio e uma tentativa de homicídio.
De acordo com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), os crimes teriam sido motivados por conflitos familiares envolvendo a irmã de Marcílio e a companheira do sobrevivente.
O pai da vítima fatal teria ameaçado Marcílio e também foi assassinado. O laudo pericial da Polícia Federal confirmou que a mesma arma utilizada no homicídio do pai, um cadeirante, foi empregada na morte de Marcelo da Silva Mendes, vítima da chacina.
O policial teria apresentado os fatos pessoais a outros policiais como se fossem de interesse institucional, o que teria contribuído para o clima de revolta entre os policiais.
Conforme o MPCE, Marcílio teria agido na articulação dos atos violentos que se seguiram. Após as mortes, a irmã de Marcílio deixou o bairro em uma mudança que, segundo testemunhas, contou com apoio de homens encapuzados e viaturas da PM. Os fatos ocorreram no fim de outubro de 2015, dias antes da chacina.
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