Chacina do Curió: testemunhas de defesa são ouvidas no 2º dia do 4º julgamento
Nesta terça-feira, 26, duas oitivas foram realizadas. Sessão já passou das 22 horas de duração. Sete PMs são réus nesse Júri Popular, acusados de omissão
O quarto julgamento da Chacina da Grande Messejana, que deixou 11 mortos em novembro de 2015 em Fortaleza, já passou das 22 horas de duração. Nesta terça-feira, 26, no segundo dia do Tribunal do Júri, tiveram início os depoimentos das testemunhas indicadas pela defesa dos sete policiais militares que são réus neste júri.
Foram ouvidas duas testemunhas: um tenente que fez a auditoria do sistema de monitoramento de viaturas operantes à época e um ex-PM que trabalhou no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) como despachante de ocorrências.
Os réus desta quarta sessão do Júri Popular fazem parte do que o Ministério Público Estadual (MPCE) batizou como “Núcleo da Omissão”. Conforme a acusação, por estarem de serviço em viaturas acionadas para as ocorrências que constituíram a chacina, os réus poderiam e deveriam ter impedido os assassinatos, mas nada fizeram.
A defesa dos PMs, por outro lado, afirma que eles foram até os locais indicados pela Ciops, não encontrando nenhum indício de crime.
Nesta terça, o depoimento mais extenso foi o do tenente Lucinásio Lima de Melo. Tendo início por volta das 9h35min, a oitiva só se encerrou por volta de 16h15min. Hoje na Reserva Remunerada, Lucinásio explicou como funcionava o sistema de rastreamento das viaturas.
Na sua fala, ele garantiu que o sistema é confiável, informando, em períodos que variam entre 3 e 15 minutos, a latitude e a longitude dos veículos em determinado horário. Lucinásio ressaltou, porém, que poderiam haver delays ou falhas de sinal.
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Já o ex-PM e hoje advogado José Ribamar dos Santos Júnior explicou como funcionava o recebimento de chamadas e despacho de viaturas por parte da Ciops. Ele não estava de serviço no dia da chacina, mas atestou, por sua experiência de nove anos como operador da Ciops, que os eventos da chacina foram “totalmente atípicos”.
José Ribamar afirmou que, em conversas com os operadores que estavam de serviço naquele dia, foi relatado que não houve “corpo mole” por parte dos PMs de serviço e que foi um problema de “logística” que fez com que as ocorrências não fossem devidamente atendidas.
As viaturas estavam ocupadas pelas ocorrências geradas pela Ciops, ele afirmou, e, ao se deslocarem para esses chamados, os policiais da viatura não tiveram como atender aos demais acionamentos feitos pelos moradores.
O MPCE, porém, frisou que comboios compostos por vários carros circularam pelos bairros Curió, Lagoa Redonda, Messejana e redondezas por cerca de 2 horas sem que nenhuma viatura sequer tenha relatado ao Ciops.
Os assassinos, aponta a acusação, trafegaram pela região, armados e, alguns, com balaclavas, tendo se reunido, inicialmente, em uma praça que abrigava um trailer do programa "Crack, É Possível Vencer", após a notícia de que o soldado Valtermberg Chaves Serpa havia sido morto em uma tentativa de assalto.
Os depoimentos se encerraram às 21h05min. O julgamento será retomado nessa quarta-feira, 27, às 9 horas, com a oitiva de mais testemunhas de defesa.
Em seguida, os réus serão interrogados e haverá início o debate entre acusação e defesa. Só, então, serão lidos os quesitos aos quais os sete jurados deverão responder e votar para que a sentença seja proferida.
São réus neste quarto julgamento: Daniel Fernandes da Silva, Gildásio Alves da Silva, Luis Fernando de Freitas Barroso, Farlley Diogo de Oliveira, Renne Diego Marques, Francisco Flávio de Sousa e Francisco Fabrício Albuquerque de Sousa.
Relembre os outros julgamentos
Inicialmente, 45 PMs foram acusados de envolvimento na chacina, sendo que a Justiça aceitou a denúncia contra 44. Dez deles foram impronunciados e não foram a julgamento, havendo ainda um denunciado que morreu durante a fase de instrução. Outros três PMs tiveram as acusações de homicídios desclassificadas para crimes militares.
Nos três julgamentos já realizados, cinco PMs foram condenados pelos homicídios, um foi condenado por duas torturas físicas e uma mental e 13 foram absolvidos. Ainda houve o caso de um PM que foi absolvido, mas teve um dos crimes desclassificado para crime militar.
O quinto e último julgamento, referente a outros três PMs, está marcado para o próximo dia 22 de setembro.
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