Após discordância com sindicato, professores cobram negociação salarial em ato independente

Categoria pede revisão das propostas aceitas pelo sindicato. Demandas incluem pagamento retroativo de reajuste e equiparação salarial entre efetivos e temporários

Após assembleia geral ocorrida na quinta-feira, 4, que terminou em confusão generalizada, um grupo de professores da rede estadual de educação básica organizou um ato independente, na manhã desta segunda-feira, 8, em frente ao Palácio da Abolição.

A manifestação foi motivada pela discordância da categoria com as propostas salariais do Governo do Estado do Ceará, aprovadas pela direção do Sindicato Apeoc, bem como pela condução da assembleia. Na ocasião, os professores deveriam votar as propostas e o estado de greve.

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“Desde o começo da assembleia, os professores queriam votar pela greve. Os professores não concordam com o que foi fechado na mesa de negociação e queriam greve na quinta-feira. O sindicato não deixou votar, não deixou os professores terem o direito de poder deliberar pelos rumos da sua luta”, afirma Rebeca Veloso, professora da rede.

Rebeca chegou a realizar um Boletim de Ocorrência após sofrer uma agressão física por parte de um segurança do sindicato durante a assembleia. Presente no ato, ela explica que as propostas aprovadas em mesa de negociação entre Apeoc e Governo do Ceará não contemplam o que a categoria quer.

As principais reivindicações são o retroativo do reajuste desde janeiro, data-base da campanha de negociação salarial da categoria e a equiparação salarial entre professores efetivos e temporários.

Para Jario Pereira, membro da executiva da Apeoc, a categoria se sente “traída” pelo sindicato. “Quando você vê aquelas imagens [da confusão na assembleia], é o desfecho de uma direção que aceitou o acordo do governo e não colocou para votar, que é o mínimo que deveria fazer. Por que não colocou para votar? Porque sabia que a assembleia não ia aceitar”, afirma.

Jario explica que a categoria espera um recuo da direção majoritária do sindicato. “Que eles possam romper o acordo com o governo e voltar para a categoria através da assembleia geral, que corrijam o erro que eles fizeram”, diz. 

Já Eliana Estrela, titular da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), destaca que negociações com o sindicato que representa os educadores têm acontecido desde o ínicio do ano. "A mesa de negociação com os professores é permanente e continua aberta. Ela em nenhum momento foi fechada, encerrada (...) Desde janeiro que a gente vem conversando, dialogando com a Apeoc", diz a representante estadual. 

Além disso, a secretária da Educação frisa que algumas pautas solicitadas pela categoria já foram atendidas, como aumento salarial, a seleção pra professor temporário— que deve ter publicação realizada em maio próximo, e o pagamento de promoções, incluindo retroativos.

No entanto, alguns pontos ficaram de "fora" por questões financeiras, segundo a secretária. Nas mesas realizadas, que contaram com a presença ainda de representantes de órgãos como a Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE), Eliana aponta que os "números" e a "arrecadação" estadual foram mostrados, de forma a conduzir conversas de uma maneira "transparente". 

"Todos os anos a gente continua com a mesa, continua negociando, alguns pontos ficam para o ano seguinte, ou pra mais no final do ano, mas nunca se encerra a conversa, a negociação é sempre permanente. Até porque a gente sabe que precisa tá sempre valorizando os professores, a gente sabe que precisa de fato desse olhar, mas também precisa ver a posição nossa, do Estado, as condições financeiras, pra não fazer também o que não se pode mais adiante arcar", destaca Estrela.

"Nós atendemos as pautas e alguns pontos ainda ficaram para ser vistos, mas a mesa (de negociação) permanece ainda aberta, em negociação, ninguém pode dizer pra quando, se será atendida de fato", diz. Já sobre a possibilidade de greve, ela pontua que Seduc ainda não tem um plano de ação definido: "No momento, nós não tomamos nenhuma decisão porque não temos ainda essa questão da greve".

Professores relatam insatisfações com a Apeoc e reclamam de condições de trabalho

Leandro Maciel, 31, é professor de Geografia do ensino médio da rede estadual e foi participar da manifestação por não concordar com as propostas do Governo do Estado. “A gente está aqui hoje para mostrar que a categoria não aceitou a proposta. A gente quer que a negociação continue, senão a gente vai tentar encaminhar a greve.”

Ele cita que as condições de trabalho pioraram após o Novo Ensino Médio (NEM). “Algumas mudanças foram muito negativas do ponto de vista de aprendizagem e para o trabalho do professor. A gente tem que dar disciplinas nas quais a gente não é formado.”

Outro professor presente no ato foi Vinicius Oliveira. Ele dá aulas de história e também não concorda com a decisão da Apeoc. “A direção do sindicato assumiu uma postura de provocação com os profissionais que acabou desencadeando aqueles atos [de quinta-feira]. Foram mais de quatro horas de assembleia, e houve uma revolta dessa classe.”

Em relação às condições de trabalho, ele destaca a falta de apoio psicológico aos profissionais e a falta de estrutura. “Muitos colegas estão adoecendo e tirando licença por questões psicológicas. As questões estruturais sempre aparecem: escolas que são adaptadas, escolas em terrenos alugados, que não pertencem ao Estado, a questão de lotação de estudantes dentro de sala de aula etc.”

Ariane Bastos, 47, também é professora de História e acredita que a decisão da Apec foi uma decisão “covarde”. “É complicado quando você vê um sindicato acusar que nós somos fascistas, baderneiros, que quem estava [na assembleia] queria confusão.”

Sobre o dia a dia dentro das salas de aula, ela reclama da grande quantidade de alunos por turma. “É principalmente as condições físicas, salas muito pequenas, superlotadas, falta quadra, falta estrutura. Você tem um corpo de professores com mestrado, com doutorado, mas, em contrapartida, não recebemos o devido suporte.” 

Sindicato Apeoc nega que interrompeu debate em assembleia e critica violência

Anízio Melo, presidente do sindicato Apeoc, nega que o debate sobre a greve tenha sido interrompido pela entidade na assembleia. “Desde o início, houve uma série de incitações, mobilizações, que acabaram cerceando a possibilidade das pessoas serem ouvidas e falarem, chegando a atos de violência. É um equívoco, uma inverdade, dizer que o sindicato interrompeu o debate. Ao contrário, a entidade foi interrompida quando queria discutir”, afirmou ao O POVO.

Perguntado sobre as críticas dos professores sobre a não deflagração da greve, o presidente afirmou que, se instaurado, o movimento paredista seria considerado ilegal. “Não poderíamos, naquele momento, votar a greve porque ela estava na condição de ilegalidade, a mesa de negociação tinha sido retomada e nós estávamos encaminhando que avaliaríamos a proposta do governo”, disse.

Anízio ainda considera a proposta oriunda da mesa de negociação positiva. Ele destaca o reajuste diferenciado para os profissionais do magistério, pagamento de dívidas e promoções, retroativo do piso de 2023 e o aumento da Parcela Variável de Redistribuição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (PVR-Fundeb) para temporários.

“Diante do cenário brasileiro onde não há avanço nenhum, que apenas se deu 3,62%, em que os sindicatos não conseguem fortalecer sua luta, nós da Apeoc entendemos que essa proposta arrancada em mesa de negociação tem que ser discutida com a categoria em espaço de civilidade, democrático, e o espaço é nas assembleias gerais que vamos fazer em todo o Ceará”, afirma. (Colaboraram: Gabriel Damasceno/Especial para O POVO e Gabriela Almeida)

Atualizada às 20 horas

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