Defesa dos policiais debate acusações do MP sobre a Chacina do Curió

Todos os advogados dos quatro policiais continuam defendendo a tese de negativa de autoria. MP pediu pela condenação e prisão imediata dos réus, ainda como a perda dos cargos públicos

As defesas dos quatro policiais militares, que se tornaram réus da Chacina do Curió, debateram no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, no início da tarde desta sexta-feira, 23. Os advogados representam os réus Marcus Vinícius Sousa da Costa, Antônio José de Abreu Vidal Filho, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio.

O julgamento começou nessa terça-feira, 20, e segue para o quinto dia. O tribunal do júri já dura mais de 40 horas.

Na manhã desta sexta, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) apresentou provas contra policiais envolvidos na Chacina do Curió. O órgão pediu pela condenação e prisão imediata dos réus, ainda como a perda dos cargos públicos.

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A defesa dos quatro policiais militares, por sua vez, questionou as respectivas investigações. Veja abaixo:

Marcos Vinícius

O advogado Walmir Medeiros, que defende o policial Marcos Vinícius, diz que, em momento algum, questionou as mortes. “Foi uma chacina, uma injustiça sem tamanho. Mas uma injustiça não repara uma outra”. 

Segundo Walmir, o crime foi causado por um soldado que "nem lá trabalha e que não tinha o poder de impedir”.

“O MP criou uma nova teoria: que eles não atiraram, mas foram incentivados. Mas não tem prova”, disse.

“Havia oficiais no local. Se fosse responsabilizado alguém, deviam ser os oficiais”, completa. Na frase, ele cita o coronel Plauto Roberto de Lima Ferreira, que, segundo ele, estava como oficial no dia.

“Os oficiais são quem detém o poder (da tropa)”. "Os cartuchos de bala eram da Polícia Civil", alega o advogado.

Ainda conforme a defesa, a Delegacia de Assuntos Internos (DAI) abandonou as provas apresentadas e "partiu para dedução". "A Delegacia não podia abandonar as provas. Após permitida que essas provas fossem abandonadas, permitiram uma injustiça aos familiares das vítimas do Curió”.

“Os direitos humanos valem para os policiais também“. “Há chacina jurídica com provas jogadas no lixo”, alegou Walmir.

“Os 12 promotores são muito bons, mas, nesse caso, o MP e a Polícia não seguiram os padrões de investigação. Sou admirador da dra. Adriana, mas neste caso houve erro. Esta é uma denuncia muito rápida. Nove meses para investigar uma chacina”, encerrou, ao comparar o nível de apuração por parte do MP na Chacina de Curió e no caso da farmacêutica Gaia Molinari.

Wellington Veras

A advogada Fabrícia de Castro, defesa de Wellington Veras Chagas, revela que passou dois meses assistindo aos vídeos. Ela comentou sobre os episódios um e dois, mencionados pelo MP, e pediu desculpas por fazer as famílias relembrarem o caso.

Ela relata, no segundo episódio, sobre o trabalho do serviço reservado para fazer a investigação da morte do policial Serpa. “Eles foram cumprir ordens. Eles estavam em viaturas descaracterizadas. De grupo caracterizado, só a Cavalaria, que dava apoio", conta.

Ao defender Wellington, Fabrícia disse que a única prova é o registro do fotossensor mostrando o carro do cliente na av Maestro Lisboa, no bairro Messejana. No momento, ela conta que ele estava voltando para casa antes da morte acontecer. “Ele não tem nada a ver com a chacina de Curió. Wellington estava a caminho de casa”, encerra.

Ideraldo Amâncio

A defesa de Ideraldo, representada por Sandro Dias, diz que esta foi a "investigação mais mal feita e a denúncia mais mal fundamentada que já viu”.

Para ele, a única prova existente contra o acusado é uma foto de má qualidade de um fotossensor cerca de uma hora antes dos primeiros assassinatos, em que o suposto carro (um Fiat Siena), o qual Ideraldo trafegava, seguia o sentido oposto à avenida Washington Soares.

A vítima sobrevivente, Edis, citou que um Fiat Siena escuro participou da chacina em seu depoimento.

Ao se defender deste relato, a defesa do Ideraldo assume que isto se trata de uma “contaminação cognitiva, uma memória construída posteriormente a partir de outros meios.

Ele também destacou que não foi feita qualquer perícia do carro, apenas uma “comparação por foto, da imagem do fotossensor e uma fotografia tirada do carro de Ideraldo no dia em que ele foi prestar depoimento na DAI”.

“Ideraldo nunca precisou atirar em seu tempo como policial. A gente junta pequenas mentiras e faz uma grande verdade", disse o advogado, ao citar a fala de um subtenente com quem conversou sobre a investigação da chacina.

Ao final, Sandro repete que uma comissão processante da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) absolveu ele na esfera administrativa por causa da chacina.

Antônio José de Abreu Vidal Filho

A defesa de Antônio José de Abreu Vidal Filho apontou que, na dúvida, deve ser oferecida a absolvição do réu.

Delano Cruz, advogado de Abreu, chegou a comentar que se alguém do movimento de mães tivesse praticado um homicídio, todas elas seriam réus, como foram os policiais que foram manifestar solidariedade ao Serpa.

Também citou que, no local do crime, foram encontradas cápsulas que contêm notas fiscais destinadas ao 30° Distrito Policial, o que, segundo a defesa, não foi investigado. Uma das poucas provas que ele apresentou, de forma muito rápida, foi um laudo pericial particular que mostraria que o Antônio Abreu não teria como ter participado da chacina.

Com informações dos repórteres Jéssika Sisnando e Lucas Barbosa

 

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