Lagoa da Precabura será uma Unidade de Conservação

A Lagoa da Precabura, considerada a maior da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), será uma Unidade de Conservação (UC) estadual. A expectativa é de que os trâmites sejam finalizados até o fim do próximo mês de agosto. A área que irá ser conservada é de aproximadamente 646 hectares (ha) e contempla todo o espelho d'água e a margem, nos dois municípios em que o manancial está localizado, Fortaleza e Eusébio.

Na prática, uma UC é uma área territorial protegida por ter características e atributos ambientais especiais. A Precabura, de acordo com a avaliação da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), é uma região com um ecossistema rico, onde se destacam áreas de dunas, carnaúbas, além de possuir uma grande variedade de espécies aquáticas.

O geógrafo e pesquisador Jader Oliveira Santos, integrante do Programa Cientista Chefe Meio Ambiente, explica que atividades econômicas seguirão permitidas no local.

"É uma Área de Proteção Ambiental (APA), está inserida no meio urbano e podem coexistir atividades como pesca, turismo, entre outras. As atividades podem coexistir, desde que não sejam incompatíveis com a conservação", destaca o pesquisador.

As águas da Precabura formam-se a partir do leito do Rio Coaçu, que é um afluente do Rio Cocó. O manancial também recebe água da UC de Proteção Integral das Dunas da Sabiaguaba.

A grandiosidade da lagoa pode ser facilmente observada por quem passa no limite entre Fortaleza e Eusébio, pela CE-025, na rota que liga a Capital cearense às praias de Aquiraz.

O geógrafo explica que, para a criação de uma UC, é preciso um estudo técnico da região, que, no caso da Lagoa da Precabura, já foi realizado por uma equipe da Sema.

No momento, o processo de articulação com as prefeituras, parlamentares e lideranças comunitárias está em fase final. A próxima etapa é a realização de uma consulta pública, que deve ocorrer no mês de julho.

"Vão ser coletadas informações, sugestões e críticas. Depois disso, o projeto é refinado e vai para a governadora, para que ela assine o decreto de criação da UC", ressalta Jader.

Demanda para Unidade de Conservação é antiga

As tratativas para tornar a Lagoa da Precabura uma UC não são de hoje. A luta pela preservação do local atravessa gerações, é o que conta Daniele Ferreira, 38, presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Precabura.

"Quando eu era criança, lembro dos meus pais e avós falando da proteção da lagoa. A população sempre buscou isso, mas, nos últimos cinco anos, a luta se intensificou", relata.

De acordo com a moradora da região, as principais preocupações são com ocupações irregulares e o despejo de esgoto no manancial. Daniele acredita que, com a UC, será possível ter ferramentas para evitar a degradação do local.

"Tenho avós e tios que lutaram por isso e, infelizmente, não poderão ver os resultados da luta, mas eu tenho uma satisfação imensa por presenciar isso", acrescenta.

"Falo por toda a população da Precabura, que vem lutando com isso. É a realização de um sonho, muitas pessoas ainda tiram a sua subsistência da lagoa, precisamos preservá-la", diz Antônio Santos, 29, integrante do Coletivo Siri Bóia, que defende a preservação da lagoa. 

Gestão da unidade de Conservação

Uma vez concretizada a transformação da Lagoa da Precabura em Unidade de Conservação, a gestão passa a ser do Governo do Estado, por meio da Sema e a coordenadoria de Biodiversidade. A expectativa é de que, juntamente ao conselho gestor, seja traçado um diagnóstico da área e seja criado um plano gestor em até cinco anos.

Com o documento, ficam estabelecidos os objetivos gerais da UC e, tmbém, como será o uso humano da área e o manejo dos recursos naturais em prol da conservação da lagoa.

A lagoa dos pássaros

Em 2021, O POVO mostrou que pelo menos 172 espécies de aves frequentam a Precabura. O número corresponde a 30,93%, quase 1/3 dos 556 pássaros listados no Inventário da Fauna Cearense 2021, publicado pela Sema.

Os estudos do pesquisador Luis Gonzaga Sales Júnior, ornitólogo e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), apontaram que no manancial podem ser observadas aves que vêm desde o Canadá e Estados Unidos e descem até a região da Patagônia.

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