Por que Fortaleza ganhará 30 microparques urbanos

Prefeitura quer criar parcerias com a comunidade para fazer a manutenção do local. Empresas que querem participar de licitação para construção dos microparques devem também pensar no trabalho de conscientização dos moradores do entorno

O quarteirão em frente a casa de Geórgia Carioca, 48, moradora do bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, era um ponto problemático para toda a vizinhança. Um terreno abandonado que, por anos, serviu apenas para acumular lixo, em novembro de 2020 ganhou um novo propósito. O local foi escolhido para ser o primeiro microparque urbano de Fortaleza. A ideia, pensada pela Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova), será implementada em mais 30 locais da Capital.

“Modificou totalmente o cenário, não foi só o físico, mas foram transformações de ordem psicossocial também. É incrível o sentimento de segurança, mesmo que não tenha policiamento, e ele é bem iluminado, bem habitado. Os moradores passaram a se conhecer. Eu morava aqui há 20 anos e não conhecia ninguém”, relata Geórgia. A advogada é uma das moradoras que se organizam para cuidar do espaço de forma coletiva.

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O lugar ganhou uma horta colaborativa dos moradores, que podem plantar onde quiserem, sem regras rígidas, segundo Geórgia. Crianças, idosos e famílias buscam o local para fazer caminhadas, brincadeiras e até rodas de oração. Os vizinhos ainda se revezam para regar as plantas do local.

Além microparque José Leon, na vizinhança de Geórgia, outro equipamento do tipo foi entregue na Barra do Ceará, o Microparque Seu Zequinha. Os próximos locais ainda não foram definidos, mas de acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), devem ser priorizados espaços no entorno de escolas municipais.

O presidente da Citinova, Luiz Alberto Sabóia, explicou ao O POVO que a ideia surgiu a partir da necessidade da cidade ter mais espaços ao ar livre e áreas verdes. Ao mesmo tempo, a Prefeitura tem cerca de 300 terrenos públicos sem uso que muitas vezes sofreram “invasões ou viravam pontos de descarte irregular de lixo”, segundo Sabóia. Recuperar parte dessas áreas e torná-las espaços de convivência para comunidades se tornou uma das ideias centrais do projeto.

Para seguir a premissa de um parque naturalizado, os mobiliários urbanos instalados nos microparques são feitos de materiais naturais, como troncos de madeiras. A topografia do terreno é respeitada, sem que sejam feitas obras de planificação do espaço. Também é evitado o uso de concreto ou outros materiais industrializados.

FORTALEZA,CE, BRASIL, 03.02.2022: Micro parque da Av.José Leon.   (Fotos: Fabio Lima/O POVO).
FORTALEZA,CE, BRASIL, 03.02.2022: Micro parque da Av.José Leon. (Fotos: Fabio Lima/O POVO). (Foto: FABIO LIMA)

Sabóia explica que a decisão de fazer com que esses microparques sejam próximos de escolas envolve estudos relacionados ao desenvolvimento de crianças em contato com ambientes naturais. “O contato com a natureza é fundamental na formação das crianças”, afirma.

A partir da ideia dos parques iniciais, a política ganhará uma maior escala sob a responsabilidade da Seuma. Uma licitação para construir os 30 microparques foi aberta no dia 1º de fevereiro pela pasta e seguirá recebendo propostas de empresas ou consórcios até o dia 21 do mesmo mês.

“A gente ainda está terminando o estudo para identificar esses 30 pontos ideais”, disse a secretária da Seuma, Luciana Lobo. Apesar disso, no edital de licitação são citados alguns dos critérios para a escolha dos locais, além de ser próximos de escolas.

São alguns dos critérios: terrenos localizados dentro do perímetro do Programa Fortaleza Cidade Sustentável, bairros adensados com ausência de espaços livres públicos urbanizados, espaços residuais do sistema viário, áreas localizadas prioritariamente nas Zonas Especiais de Interesse social da vertente marítima e áreas do entorno do Parque Rachel de Queiroz.

Manutenção

Além de fazer os trabalhos urbanísticos, os ganhadores da licitação terão de incluir uma equipe social que será responsável por “todo o trabalho de conscientização, mobilização, engajamento e participação popular de todo o processo, da criação à manutenção de cada microparque”, segundo o texto do certame.

Luciana explica que a empresa escolhida fará a manutenção do microparque por cinco meses. Depois disso, o cuidado com o espaço será dividido entre a Prefeitura e a população. Oficinas e parcerias com escolas são apostas para criar o senso de responsabilidade e pertencimento com os parques nas comunidades que os receberão.

“A prefeitura ainda é a responsável principal pela manutenção. A comunidade atua como uma parceira muito forte. Se não tiver engajamento da população, não tem manutenção”, explica Luciana. No futuro, a secretária não descarta que os microparques possam ser adotados por empresas, associações ou pessoas físicas, da mesma forma das praças da Capital.

Para Geórgia, um dos únicos problemas que encontra na manutenção do microparque é a dificuldade de regar as plantas desde que o motor do poço de água que fica no parque foi desligado. Os vizinhos ainda tentaram regar a vegetação puxando mangueiras das próprias casas, mas a alta conta de água fez com que muitos desistissem.

Segundo ela, o motor não funciona há 5 meses. “A gente vive em uma cidade seca, temos poucos meses de chuva, e no restante do ano as plantas não sobrevivem. Se o poço não funcionar, não acredito que isso vá para frente. Quando você bota uma pracinha convencional, botou luz e o gari para passar de tempos em tempos, fica okay. Mas isso [microparque] é um processo dinâmico, precisa de manutenção frequente”, opina.

Questionada sobre o poço, a Prefeitura afirmou que o equipamento foi construído em parceria com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), e o fornecimento de energia para o motor era de responsabilidade da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) em 2020, na gestão do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT).

A partir de 2021, na gestão do prefeito José Sarto (PDT), o fornecimento de energia ficou a cargo da Secretaria da Gestão Regional (Seger). Segundo a Prefeitura, a Seger já está ciente da demanda da comunidade e deve solucionar o problema “em breve.

Leia a nota na íntegra:

O poço do microparque José Leon foi construído numa parceria entre a Prefeitura de Fortaleza e a Cagece e o fornecimento de energia para o equipamento é um dos serviços que estão em transição da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) para a Secretaria da Gestão Regional (Seger), que começou a ser estruturada em 2021, na gestão do prefeito José Sarto. Portanto, a questão será equacionada em breve pela Seger.

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