O que se sabe até agora sobre a chacina da Sapiranga

Com seis mortos e cinco feridos, as execuções na Sapiranga, que teriam sido causadas por um conflito interno no bairro, mudaram drasticamente a rotina dos moradores

08:58 | Dez. 27, 2021

Chacina da Sapiranga, que aconteceu na noite de Natal, foi a última de 2021 em Fortaleza (foto: WhatsApp O POVO)

Seis pessoas foram mortas durante uma celebração de Natal no Campo de futebol do Alecrim, na madrugada do sábado, 25, no bairro Sapiranga, em Fortaleza. A solicitação de uma viatura para o local aconteceu às 2h2min.

As informações iniciais eram sobre tiros e lesões de bala, mas ao chegarem no local, os policiais se depararam com cinco pessoas mortas e outras feridas. Conforme a Polícia, os autores do crime fugiram e arremessaram aparelhos celulares e pertences pessoais em cima dos telhados.

No momento da chacina, durante os tiros, as pessoas tentavam se abrigar dentro das residências. Vídeos de antes mostram jovens, homens e mulheres, no campo se divertindo quando uma pessoa passa com uma arma longa. Os participantes da festa parecem normalizar a situação.

Na comunidade, à noite, foram utilizados muitos fogos. Quem mora nos arredores relata não ter escutado os tiros, pois os fogos se sobressaíram diante dos disparos. O conflito, conforme O POVO apurou, é interno. Haveria uma divergência sobre a facção que deveria prevalecer na área. Os fatos do Comando Vermelho (CV) exigir uma caixinha (valor em dinheiro) dos traficantes e extorquir de comerciantes, estariam sendo questionados pelos moradores.

No dia seguinte à chacina, uma mulher, que havia sido ferida, morreu no hospital elevando para seis o número de mortos na chacina. A Polícia prendeu 10 pessoas suspeitas de participação no crime.

Os relatos de moradores da comunidade são de que o local se tornou um campo de guerra. Depois do crime, quem era de fora do bairro, foi impedido de entrar, incluindo motoristas de aplicativo e mototaxistas. Os criminosos também intimidaram a imprensa no local e impediram a entrada de equipes de reportagem.

A organização criminosa fez ainda uma exigência para que os moradores não ligassem para a Polícia. Apesar da forte movimentação das forças de segurança, com a presença da aeronave da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), algumas pessoas precisaram se mudar do local, deixando grande parte dos seus pertences. 

Suspeitos

 

Horas após a chacina, imagens dos supostos autores do crime surgiram nas redes sociais. Conforme O POVO apurou, seriam pessoas que faziam parte do Comando Vermelho, mas teriam abandonado a facção para fazer parte da massa. Nos presídios, a massa era considerada a parte dos internos que não integrava uma facção específica.

Entre os mortos, Mateus Ribeiro dos Santos; Israel da Silva Andrade, de 24 anos; André Alexandre Rodrigues, de 26 anos; John Lennon Holanda, de 25 anos, e uma quinta vítima não identificada. A sexta morte aconteceu no hospital, uma mulher que havia sido socorrida e não resistiu aos ferimentos.

O POVO apurou que o Jonh Lennon, que estava entre os mortos, era irmão de um homem conhecido como Chiquinho, morto na comunidade da Paupina no dia 22. Chiquinho e outro homem foram mortos a tiros de fuzil dentro de um condomínio. Ele era apontado, pela Polícia, como responsável pelo tráfico na área.

A Polícia Civil tem ouvido testemunhas e identificou a presença de um tornozelado no campo. A localização dele no momento da chacina era no lugar do crime e chegou a ser interrompida. Há aproximadamente cinco feridos internados nos hospitais. No entanto, o número de pessoas lesionadas pode ser maior, pois algumas das vítimas não teriam procurado atendimento médico.

Os moradores seguem apreensivos. O policiamento no local é intenso e no domingo, 26, houve tiroteio e prisões, no começo da tarde. Conforme O POVO publicou, 2021 é o ano com mais chacinas desde 2018.  

Em 2015, um suposto acordo de paz teria sido feito entre os moradores da comunidade do Alecrim, Piçarreira e Muro Alto. Na época, as comunidades da Sapiranga viviam em extrema guerra. A Sapiranga teve 10 meses seguidos sem mortes decorrentes da briga por território de tráfico de drogas.