Facção se fortaleceu com enfraquecimento de rival, analisa promotor

Coordenador de grupo de combate a organizações criminosas do MPCE, Rinaldo Janja diz que maioria dos assassinatos registrados em 2020 foi praticado pelo CV

A pandemia dificultou, mas não conseguiu impedir o trabalho de enfrentamento ao crime organizado feito pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPCE). Ao todo, foram 13 operações deflagradas, que resultaram no cumprimento de 241 mandados de busca e apreensão e de prisão. O efeito do trabalho do Gaeco, somado ao dos demais órgãos de segurança, foi enfraquecer uma das facções criminosas no Estado, mas isso acabou proporcionou o crescimento de uma organização rival.

A análise é do coordenador do Grupo, o promotor de Justiça Rinaldo Janja. Conforme ele, as investigações mostram que a maioria dos assassinatos ocorridos em 2020 foi cometida por integrantes dessa facção que se fortaleceu. Ele prefere não dizer os nomes das facções, já que acredita que isso acaba servindo para promoção desses grupos, mas confirma que a facção Comando Vermelho (CV) é quem registrou o crescimento, em detrimento da Guardiões do Estado (GDE). “Uma ficou fortalecida porque nós focamos o trabalho em relação à outra e colocou a cabeça de fora, ficou mais forte. Mas, independentemente disso, o trabalho está sendo realizado”, diz Janja.

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Após uma trégua em 2019, admitida até pelo secretário da Segurança Pública Sandro Caron, que resultou em queda no número de homicídios, as facções criminosas voltaram à guerra de outros anos em 2020. As duas maiores facções do Estado passaram a disputar territórios, que chegaram, em alguns casos, a celebrações públicas dessas “conquistas” em foguetórios. O CV chegou a divulgar “salve” afirmando que não mais toleraria criminosos "neutros", que não pertencessem a uma facção.

As ações do Gaeco em 2020 tiveram como principal alvo as facções criminosas. Das 13 operações, sete tinham como alvo majoritário integrantes de facções. A mais importante delas, para Janja, foi a operação Gênesis. Ancorada em escutas telefônicas, a Gênesis vem desde 2016 agindo contra integrantes de todas as facções criminosas atuantes no Estado. Em 2020, duas fases da operação foram deflagradas, cujos alvos eram integrantes das forças de segurança. Foram 33 mandados de prisão cumpridos ao todo, por acusações como extorsão, comércio ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. Deparar-se com agentes do Estado é comum em investigações contra facções, afirma Janja. “É o que caracteriza o crime organizado, o braço do crime dentro do Estado”. As investigações da Gênesis seguem em andamento e novas fases da operação serão deflagradas.

De acordo com Janja, mais procedimentos de investigação foram instaurados em 2020, ainda que afirme que, se não fosse o teletrabalho imposto pela pandemia, a produtividade teria sido maior. Uma investigação do Gaeco pode durar entre dois e quatro anos, lembra. O próprio isolamento social, diz, propiciou o aumento de atividades criminosas, já que muitos servidores foram afetados e o crime não respeita as determinações de isolamento social. Além disso, a pandemia também foi oportunidade para crimes. Entre as operações deflagradas pelo Gaeco está a Oxida, cujo alvo era empresários que estariam fornecendo oxigênio adulterado para clínicas e hospitais públicos de vários municípios.

Para 2021, o foco do Gaeco segue tendo o trabalho guiado pela mesma orientação de 2020. “Vai ser o trabalho contra as facções criminosas, o trabalho contra crimes contra a administração pública, e também crimes praticados por agentes públicos”, diz Janja.

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