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Corais de Fortaleza sofrem branqueamento após temperatura do mar subir; pesquisadores estão em alerta

Corais de Fortaleza sofrem branqueamento após temperatura do mar subir e alertam pesquisadores. Mesmo fenômeno foi observado em praias de Pernambuco e Alagoas; especialistas afirmam que branqueamento dos corais tem impacto ambiental e socioeconômico

 

Os corais do parque estadual marinho da Pedra da Risca do Meio, em Fortaleza, estão branqueando por causa do aumento da temperatura do mar. De acordo com o professor Marcelo Soares, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) na Universidade Federal do Ceará (UFC), já faz mais de sete semanas que a temperatura do mar está entre 29°C e 30°C. Normalmente, as águas cearenses ficam entre 26°C e 29°C.

Apesar de o aumento parecer mínimo para os humanos, ele é drasticamente recebido pelos corais, seres vivos imprescindíveis para a manutenção dos ecossistemas marinhos. “Nos últimos 34 anos, a temperatura do mar do Ceará subiu quase um grau. Aí você me dizer assim, ‘isso é pouco’, mas não é. Porque se você pensar que aqui no Ceará a temperatura é bem estável, com quatro graus de diferença, a gente tem um aumento de quase 20% de temperatura”, explica Marcelo.

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Dessa forma, o principal fator relacionado ao branqueamento dos corais é o aquecimento global. Afinal, basta imaginar a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura do mar. “A maior parte do excesso de calor é absorvida pelo oceano, [já que] a água esquenta mais rápido. O oceano está esquentando mais rápido que a superfície da Terra”, alerta o especialista.


A última vez que esse fenômeno foi observado no Ceará com a mesma intensidade foi em 2010. Segundo o pesquisador, Alagoas e Pernambuco também estão registrando casos de branqueamento, assim como a Bahia em 2019. O branqueamento de corais deveria ser um fenômeno raro, mas tem sido observado com mais frequência ao redor do mundo.

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Branqueamento alerta pesquisadores

Corais são animais que vivem em simbiose (parceria entre dois organismos de espécies diferentes) com microalgas, conhecidas como zooxantelas. Durante o dia, as microalgas alimentam os corais por meio da fotossíntese, enquanto à noite eles sacam pequenos tentáculos para capturar zooplânctons e fitoplânctons - minúsculos animais e plantas.

Quando a temperatura dos mares está mais alta que o normal, as microalgas ficam impossibilitadas de fazer a fotossíntese e o coral as expulsa para tentar sobreviver. Esse processo provoca o branqueamento dos corais, já que as zooxantelas são as responsáveis por colori-los.

Quem explica é a doutoranda em Ciências Marinhas Tropicais do Labomar e mergulhadora Sandra Paiva. "Os recifes de corais são ambientes de alimentação, de berçário, enfim, uma série de serviços ecossistêmicos tanto para o ambiente marinho, quanto para a sociedade de maneira geral. Então a gente fica em alerta e preocupado com a possível ocorrência frequente de eventos como esse", conta.

Corais saudáveis. Na foto, os animais estão mais coloridos - verdes e avermelhados. Ainda, há maior presença de peixes se alimentando nos corais.
Corais saudáveis. Na foto, os animais estão mais coloridos - verdes e avermelhados. Ainda, há maior presença de peixes se alimentando nos corais. (Foto: Marcus Davis Andrade Braga)

Sem a presença de corais saudáveis, a rotina de muitos outros seres vivos é impactada. Os peixes, por exemplo, perdem o local de alimentação, reprodução e desova. Ainda que a pesquisadora não possa confirmar a relação dos fenômenos, Sandra comenta que percebe redução no fluxo de peixes nos corais branqueados do parque marinho.

Consequências

Além de impactar diretamente no ecossistema marinho, o branqueamento dos corais tem consequências socioeconômicas. Marcelo Soares, que também é cientista chefe de meio ambiente da Secretaria de Meio Ambiente do Ceará(Sema), menciona que o primeiro impacto perceptível é para o turismo.

Principalmente no litoral nordestino, os recifes de corais coloridos e habitados por várias espécies marinhas são chamariz para a visitação turística. Mesmo que exista a possibilidade de os corais sobreviverem ao período de branqueamento, também há chances de que muitos morram, transformando os belos recifes em uma espécie de cemitério. "Até 2050, estima-se que 80% dos corais vão morrer. E até 2100, a estimativa é de 100% de morte, ou seja, vão ser extintos", diz Marcelo.

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Ainda, o branqueamento compromete a segurança alimentar dos pescadores e cadeias econômicas baseadas na pesca. Há também os impactos ambientais. Assim como as florestas, os recifes de corais são responsáveis por capturar o carbono lançado pelas queimadas, carros e indústrias. Por último, eles também funcionam como uma barreira natural, absorvendo a energias de ondas muito fortes e evitando a erosão costeira.

Em 2017, um documentário original da Netflix narrou o processo de branqueamento de corais ao redor do mundo. Assista ao trailer com legendas em português:


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