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Estudo alerta para prejuízos de coral invasor em navios naufragados na 2ª Guerra Mundial no Ceará

O coral-sol, originário do Oceano Indo-Pacífico, se espalha rapidamente e ameaça a biodiversidade de espécies nativas. Animais foram encontrados em navios afundados em Acaraú e Pecém
23:36 | Jul. 22, 2020
Autor Matheus Facundo
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Matheus Facundo Repórter do portal O POVO Online
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Tipo Notícia

Pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), alertam para a presença de coral-sol, uma espécie considerada invasora e que desequilibra a vida marinha no Ceará e em outros litorais do Brasil. Estudo publicado na edição de julho da revista norte-americana Marine Pollution Bulletin aponta o registro dos animais em dois navios naufragados na Segunda Guerra Mundial na costa cearense.

A espécie foi encontrada no Ceará pela primeira vez em 2016, nas águas do município de Acaraú, distante cerca de 198 km de Fortaleza, em uma embarcação chamada Petroleiro do Acaraú, afundada em 1942. Até a época, 74 anos após o naufrágio, o coral-sol não havia sido percebido em mergulhos anteriores e, inclusive, em fotos e vídeos registrados na região.

Segundo Marcelo Soares, um dos autores do artigo e professor do Labomar, foi o momento do primeiro alerta, que indicava a dispersão do coral-sol pelo País. Mas, o momento mais preocupante, de acordo com ele, foi quando no começo de 2020 um grupo de mergulhadores achou mais corais invasores na segunda embarcação, a 34 metros de profundidade da superfície, desta vez no Navio do Pecém, que teve seu naufrágio em 1943, também durante a Segunda Guerra Mundial.

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O cientista-chefe em meio ambiente pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e pela Secretaria do meio Ambiente do Estado do Ceará (Sema) afirma que a expansão do coral-sol é perigosa. "O mais interessante é que temos também fotos e vídeos de 2018 e 2019 no local e não tinha o coral. Ou seja, de um ano para cá ele invadiu e está se expandindo no Ceará e no Brasil todo. É uma das espécies mais perigosas no mar. Quando ela chega, por não ser daqui, ela consegue se alastrar rapidamente pela ausência de predadores", pontua.

Originárias do Oceno Indo-Pacífico, na região da Austrália e de Galápagos, a Tubastraea tagusensis, nome científico do coral-sol, quando invade outros locais que não o seu de origem, acaba "engolindo" toda a biodiversidade do local onde se instala. Conforme Marcelo Soares, os prejuízos também são sócio-econômicos, impactando na pesca e do mergulho.

"Ele prejudica a pesca porque ele muda todo o ambiente. Você tem peixes que se associam a uma biodiversidade nativa e quando o coral-sol chega ele modifica isso, diminuindo a quantidade de peixes, o que impacta a vida do pescador artesanal. É causado também prejuízo ao mergulho, principalmente para o turistas. A espécie deixa a paisagem toda amarela devido a cor do animal, dá menos vida marinha ao local", comenta o professor.

Soares aponta ainda empecilhos para as plataformas de óleo e gás, onde há registros do aparecimento dos corais. A retirada dos invasores implica em perdas financeiras e logísticas e já foram alvos de judicialização. O primeiro registro do coral-sol no País, inclusive, foi em uma plataforma de petróleo em Bacia dos Campos, no Rio de Janeiro, na década de 1980, de acordo com o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do coral-sol no Brasil.

O risco dos naufrágios

O artigo, intitulado de "Naufrágios possibilitam a disseminação de coral invasor na costa do Brasil", escrito também por Sandra Paiva, doutoranda em Ciências Marinhas Tropicais, e Marcus Davis, mestrando em Ciências Marinhas Tropicais, discorre sobre como navios naufragados podem ser fator de risco para a propagação do coral-sol. Com as embarcações no fundo do mar, a espécie consegue usá-las como um "trampolim" para se espalharem.

"Um coral não consegue se dispersar por 200 ou 300 km, mas se no meio do caminho tem navios, ele se fixa em um e começa a se espalhar. Depois ele encontra outro e vai de navio em navio, ocupando áreas e se expandindo", explica o cientista Marcelo Soares.

No estudo, é analisado um plano do Governo Bolsonaro, que em março deste ano anunciou que planeja criar 73 naufrágios artificiais como incentivo ao mergulho turístico nos principais pontos turísticos do Brasil. Conforme os pesquisadores, este fato contribuirá ainda mais para o espalhamento do coral-sol na costa brasileira, acarretando em prejuízo para os ambientes naturais e espécies nativas do País.

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