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Óleo pode causar danos a longo prazo na organização do ambiente marinho e de manguezais

Fauna e flora marítima sofrem com a contaminação do óleo. Prejuízos a manguezais são preocupação de pesquisadores e defensores do meio ambiente
16:23 | Out. 25, 2019
Autor O POVO
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O óleo que mancha as praias do Nordeste desde o início de setembro tem causado a morte de diversos animais, principalmente tartarugas marinhas e aves. Apesar das forças tarefas organizadas para limpar o que chega até a areia, a fonte do vazamento continua desconhecida. Isso dificulta a solução do problema e o material continua fazendo mal aos organismos marinhos. Nesta semana, o óleo voltou a avançar no litoral leste do Ceará e voltou a aparecer em praias ao oeste que já haviam sido limpas. Além dos danos visíveis, o óleo pode desorganizar o ecossistema de plantas aquáticas e de microrganismos que vivem entre os grãos de areia.

Por vir até a superfície respirar, bichos como tartarugas e botos acabam sofrendo com o óleo que fica boiando no mar. Segundo o professor de oceanografia do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC Luis Ernesto Arruda Bezerra, a substância adere ao corpo do animal, muitas vezes atrapalhando sua locomoção e regulação de temperatura corporal. De acordo com a Marinha do Brasil, 29 tartarugas foram afetadas pelo óleo nas praias do Nordeste até o dia 20 de outubro. No entanto, contagens de institutos e organizações não governamentais aumentam o número oficial.

Outro grupo afetado pelas manchas são as aves. Com as penas oleadas, elas ficam impedidas de voar, de mergulhar no mar para procurar alimento e de controlar a temperatura do corpo. A tentativa de limpar do óleo, explica Luis, prejudica ainda mais os bichos. Quando utilizam os bicos para retirar a substância, acabam ingerindo parte dela. Isso pode causar danos ao fígado, pulmão e rins dos animais. Também é possível que a ave que chega a voltar para o ninho contamine filhotes e ovos. Foram cinco aves mortas pelo óleo, segundo a Marinha.

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Organismos menos visíveis são afetados pelo óleo tanto na superfície quanto no fundo do mar. Quando contaminadas, as macroalgas ficam impossibilitadas de fazer fotossíntese. Da mesma forma os corais, que servem como abrigo de peixes e filtram a água do mar, são prejudicados quando as algas que vivem com eles não conseguem captar a luz. O resultado pode ser a desorganização de um ecossistema complexo. 

Na costa, microrganismos que vivem entre os grãos de areia também sofrem com o óleo. Apesar de ter capacidade regenerativa, Luis explica que eles sofrem o efeito da mancha. “Pode ter riscos a longo prazo. Esse óleo vai se fragmentando, degradando e liberando compostos tóxicos”, afirma.

A preocupação dos pesquisadores se estende também para o ecossistema dos manguezais. Luis Ernesto atenta para a riqueza da fauna dos mangues que pode ser perdida caso o óleo entre em contato com esses locais. “É muito difícil de limpar. A lama é muito fina. Não é como a areia da praia que você consegue empacotar o óleo”, diz. A tendência é que o óleo fique preso entre as raízes profundas e ramificadas das plantas.

Com as limpezas realizadas pelo Estado e por voluntários, já foram retirados 1,5 tonelada de óleo das praias do Ceará. Locais que já haviam sido “limpos” na região oeste voltaram a apresentar manchas. O motivo é o movimento das marés, segundo Carlos Eduardo Teixeira, doutor em Oceanografia Física. Ele explica que a remobilização das ondas leva e traz o óleo para as praias. A remoção natural não é suficiente para promover a limpeza da substância no mar, apenas causando deslocamento.

“O óleo pode ser jogado pro mar pela maré e no próximo dia voltar para a praia”. Para Carlos, o problema está longe de resolução, pois ainda não é conhecida a quantidade da substância que está solta na água. Além disso, nem todo o óleo está visível na superfície. Em Pernambuco, de acordo com o pesquisador, o material foi encontrado também no fundo do mar, o que dificulta a localização da fonte do derramamento.

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