Dólar avança com temor de ofensiva de Trump após ação de STF contra Bolsonaro

Dólar avança com temor de ofensiva de Trump após ação de STF contra Bolsonaro

Incerteza sobre reação de Trump e possível retaliação ao Brasil leva investidores a buscar proteção e reduz exposição a ativos locais na véspera do fim de semana

O dólar à vista acelerou o ritmo de alta ao longo da tarde desta sexta, 18, e se aproximou do nível de R$ 5,60 com busca por posições defensivas na véspera do fim de semana. Investidores reduzem exposição a ativos brasileiros diante de temores de que o presidente dos EUA, Donald Trump, anuncie sanções ao Brasil ou até mesmo a autoridades brasileiras, após as medidas restritivas impostas hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em parte da manhã, o real até experimentou um período breve de apreciação, amparado pela alta do petróleo e pelo enfraquecimento global da moeda americana em meio a sinais de que um início de processo de cortes de juros pelo Federal Reserve está cada vez mais próximo. A virada da commodity para o campo negativo e as crescentes tensões políticas acabaram jogando o dólar para cima no mercado local.

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Com mínima a R$ 5,5240 e máxima a R$ 5,5980, o dólar à vista encerrou o pregão desta sexta-feira, 18, em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,5876 - no maior valor desde 4 de junho (R$ 5,6455). A arrancada de hoje levou a divisa a terminar a semana com avanço de 0,72%, alçando os ganhos acumulados no mês a 2,82%. No ano, as perdas, que foram superiores a 12%, agora são de 9,59%.

"O real destoou das outras moedas, que se apreciaram contra o dólar, porque há uma redução da exposição ao risco na véspera do fim de semana com o aumento da incerteza após as medidas do STF. Ninguém sabe qual vai ser a reação de Trump", afirma o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa. "Trump tem o histórico de atacar para depois negociar, mas as tarifas não foram motivadas apenas por questões comerciais e há uma situação de confronto com a reação do governo brasileiro".

Ontem, Trump divulgou uma carta de apoio a Bolsonaro, na qual afirmou que vê "o terrível tratamento" que o ex-presidente estaria "recebendo nas mãos de um sistema injusto". No fim da tarde, Trump voltou a criticar o Brics, reafirmando que o bloco "tenta acabar com o dólar". Ele repetiu a promessa de impor tarifas de 10% a todos os países do grupo, mas não citou especificamente o Brasil.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, anunciou a imposição de uma série de medidas cautelares a Bolsonaro, como uso de tornozeleira eletrônica, proibição de acesso a redes sociais e recolhimento domiciliar entre 19h e 17h, após pedido da Polícia Federal com parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR). Moraes listou como motivos como coação, obstrução e atentado à soberania nacional.

Bolsonaro e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, seu filho, atuam para que os Estados Unidos imponham sanções contra autoridades brasileiras, afirma a PF, que realizou operação de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-presidente. Em sua defesa, Bolsonaro negou a articulação com seu filho que levou a imposição de tarifas ao Brasil e disse se sentir "humilhado com tornozeleira".

Parte da escalada do dólar à tarde veio após a primeira turma do STF formar maioria para manter as decisões de Moraes. Houve desconforto com o apoio público ao ex-presidente vindo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto como virtual candidato da oposição no pleito de 2026. Além disso, Eduardo Bolsonaro, que é considerado como alguém próximo de Trump, voltou a atacar Moraes, a quem chamou de "gângster" e "bandido de toga".

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, eventuais sanções individuais a autoridades brasileiras, em especial o ministro Alexandre de Moraes, tendem a ter impacto limitado na dinâmica dos ativos locais. Caso a opção de Trump seja por uma ação mais abrangente contra o Brasil, é possível que haja uma depreciação mais acentuada do real no curto prazo.

"O governo Lula reagiu às tarifas porque sabe que o confronto com Trump é favorável do ponto de vista eleitoral", afirma Borsoi, em referência ao pronunciamento do presidente em rede nacional na noite de quinta-feira. "A expectativa é que haja pressão de empresários daqui e dos EUA para negociar algo em relação às tarifas até 1º de agosto".

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