'Tremembé' revive caso Abdelmassih: lembre crimes e cobertura do O POVO

Condenado a 278 anos de prisão, ex-médico cumpre pena por acusações de abuso sexual contra pacientes. Caso é retratado na série Tremembé

11:58 | Nov. 05, 2025

Por: Arthur Albano
Na esquerda, Anselmo Vasconcellos como Roger Abdelmassih em Tremembé. Na direita, o próprio Abdelmassih (foto: Divulgação / Prime Video / Arquivo O POVO)

Interpretado por Anselmo Vasconcelos, o ex-médico Roger Abdelmassih voltou aos holofotes por conta da série Tremembé, disponível no Prime Vídeo desde o dia 31 de outubro.

Com cinco episódios, a série mostra a rotina e as interações entre presos da ala masculina e feminina do presídio de Tremembé. Entre eles, Suzane Von Richthofen, Elize Matsunaga, os Irmãos Cravinhos, o Casal Nardoni e Roger Abdelmassih, cuja trama recebe um flashback retratando o crime pelo qual o ex-médico foi condenado.

Veja os principais pontos: 

  • Série 'Tremembé' (Prime Video) retrata a vida de Roger Abdelmassih na prisão.
  • Anselmo Vasconcellos interpreta o ex-médico condenado por estupro de pacientes.
  • A série mostra flashbacks dos crimes de Abdelmassih e sua interação com outros detentos.
  • Em 2010, Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão, após denúncias de abusos iniciadas em 2007.
  • Após fuga para o Paraguai, ele foi recapturado e retornou ao presídio de Tremembé.
  • Abdelmassih chegou a obter prisão domiciliar, mas perdeu o benefício e retornou ao regime fechado.
  • O POVO acompanhou o caso desde as primeiras denúncias, a prisão, a condenação e as tentativas de fuga.

A seguir, saiba como o caso foi retratado na série e relembre a cobertura feita pelo O POVO.

Como Roger Abdelmassih aparece na série Tremembé?

Lançada no dia 31 de outubro, Tremembé é o produto audiovisual mais recente a retratar os crimes de Roger Abdelmassih. Interpretado por Anselmo Vasconcellos, o ex-médico aparece como um coadjuvante nos primeiros episódios, interagindo mais com o Dr. Tumura, condenado na série por sonegação, extorsão e crime organizado.

Na vida real, o personagem de Dr. Tumura foi inspirado em Carlos Sussumu, médico investigado por fraude por forjar a situação médica de Roger Abdelmassih para que ele conseguisse o benefício da prisão domiciliar.

Embora a situação de ambos seja retratada seguindo os mesmos fatos, na série ela se desenrola de maneira diferente.

Tumura é denunciado por Acir Filló, autor do livro “Diários de Tremembé”, por ajudar o médico. O livro é retirado de circulação, mas Abdelmassih consegue sair de Tremembé, indo parar em um hospital.

Além disso, no terceiro episódio, seus crimes são retratados em um flashback no qual o ex-médico pode ser visto atuando em sua clínica em São Paulo. Uma de suas vítimas, não identificada, consegue visitá-lo em Tremembé para tirar satisfações.

Apesar de contar a história do ex-médico de maneira fiel, segundo relatos do autor e roteirista da série Ulisses Campbell, Tremembé não é a única série a mostrar o caso de Abdelmassih.

Em 2018, a Globoplay lançou a minissérie “Assédio”, na qual Antonio Calloni interpreta Dr. Roger Sadala, personagem com referência direta a Abdelmassih. Com dez episódios disponíveis no streaming, a obra é livremente inspirada no livro “A Clínica: A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”, do jornalista Vicente Vilardaga.

Já em 2022, foi lançada a série documental “Abdelmassih: Do Milagre ao Crime” com 4 episódios no extinto streaming Discovery+, agora anexado à HBO Max. A obra foi dirigida por Luiza Moraes e produzida pela Mixer Filmes.

Quais foram os crimes de Roger Abdelmassih?

Conhecido como “médico dos famosos” pelos resultados da sua pesquisa e trabalho no ramo da fertilização in vitro, Roger Abdelmassih administrava uma clínica em São Paulo. O local serviu de cenário para muitos de seus crimes, denunciados ainda em 2007 por meio de uma comunidade no Orkut.

As vítimas não eram suas clientes famosas, mas sim mulheres de classe média cuja renda era convertida no tratamento para engravidar oferecido pelo médico. Os relatos convergiam no fato de o assédio acontecer quando o tratamento estava em uma fase avançada e, principalmente, quando elas estavam sob efeito de anestésico.

O caso só ganhou notoriedade em 2009 após uma reportagem feita pela Folha de São Paulo. Foi então que Roger Abdelmassih passou a ser investigado pelo Ministério Público (MP), sendo julgado e condenado no ano seguinte.

Em 22 de agosto de 2009, O POVO publicou uma nota informando que um habeas corpus havia sido negado ao ex-médico pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele se encontrava preso e com o registro suspenso pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).

Apenas dois dias depois, em 24 de agosto de 2009, o ex-médico tem uma foto sua publicada com a manchete “Quatro novos depoimentos contra Roger Abdelmassih”.

Segundo o MP de São Paulo, o médico praticava crimes sexuais desde o início de sua carreira, há cerca de 40 anos, por volta da década de 1970.

O texto reportou a existência de 56 mulheres, a maioria ex-pacientes, vítimas do médico, cuja acusação foi aceita pela 16ª Vara Criminal da Capital com base nas provas colhidas pelo inquérito policial realizado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

A denúncia contra Abdelmassih foi feita com base em uma mudança na legislação brasileira aprovada em 7 de agosto de 2009, na qual o antigo “ato libidinoso” passa a ser considerado como estupro. A matéria explica que, pela legislação anterior, Abdelmassih responderia por 53 atentados violentos ao pudor e três estupros, quando há conjunção carnal.

Em 25 de agosto de 2009, O POVO publicou outra nota informando outro habeas corpus negado, desta vez pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O texto também corrige a informação de que foram 56 estupros contra 39 mulheres.

Tremembé: Prisão, fuga e captura de Roger Abdelmassih

Em 26 de agosto de 2009, Roger Abdelmassih foi transferido para o presídio de Tremembé com uma foto sua ao lado da manchete “Médico vai para o presídio onde está Nardoni”. O texto explica a fama do presídio citando, além de Nardoni, os irmãos Cravinhos e Suzane Von Richthofen.

A decisão repercutiu internacionalmente, como informa o trecho: “a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um comunicado em que elogia a Justiça brasileira”. O texto afirmava que “revelação pública e rigor da Justiça representam um passo significativo para os direitos humanos das mulheres”.

Mais de um ano depois, em novembro de 2010, o caso voltou a ganhar cobertura midiática quando Roger Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão por abuso sexual. Das 56 acusações de estupro, 8 foram absolvidas e Abdelmassih ganhou o direito de recorrer em liberdade. Além da pena, o texto traz detalhes do julgamento:

“Quase 250 pessoas foram ouvidas no curso da ação penal. Mulheres de diferentes cidades, de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Piauí e Rio, compareceram às audiências no Fórum da Barra Funda, em São Paulo. Identificadas por números para garantir o anonimato, elas contaram o que viveram na clínica de Abdelmassih”.

Em 7 de janeiro de 2011, a Justiça de São Paulo decretou a prisão de Roger Abdelmassih por conta de um pedido de renovação do seu passaporte, decisão interpretada pelo MP como denotando intenção de fuga.

Na época, ele aguardava o recurso de sua condenação em liberdade na sua casa localizada no bairro Jardim Paulista. Foi lá que duas equipes do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil fizeram campana desde a madrugada para prender o médico fugitivo, conforme noticiado no dia 9 de janeiro. Até aquela data, Abdelmassih ainda não havia sido localizado.

Seu destino só foi revelado três anos depois, em 20 de agosto de 2014, quando O POVO publicou uma foto sua na capa com a manchete “Preso no Paraguai ex-médico brasileiro condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros”.

A matéria trazia detalhes da captura do médico, encontrado na cidade de Assunção:

“Por meio de uma escuta telefônica, o órgão obteve a informação de que ele poderia estar no Paraguai e repassou a informação para a Polícia Federal. Uma equipe de 10 policiais federais foi enviada à capital, Assunção. Com a ajuda da polícia local, conseguiram descobrir o paradeiro e prender Abdelmassih. Faltou a informação sobre qual cidade o médico foi preso”.

No dia seguinte, Roger Abdelmassih foi transferido de volta para Tremembé, com a chegada sendo acompanhada por suas vítimas.

“Agora ele foi, posso descansar. Ele olhou na minha cara, fiquei perto dele, e ele viu que não tenho medo. Que ele viva muito agora, que apodreça na cadeia, amargue todo dia. Espero que ele encontre alguém lá dentro que faça com ele o que ele fez com a gente”, afirmou Ivanilde Serebrenic, uma das cinco acusadoras dele que estavam no local.

Após sua captura, em 22 de agosto de 2014, detalhes da estadia no Paraguai foram revelados, como uma vida de luxo incluindo babás, chofer, seguranças e restaurantes exclusivos.

“Eu achava melhor me entregar. Minha mulher disse: ‘Não, vamos embora’. Aí falei com minha irmã que tem um haras em Presidente Prudente. Fomos para lá. De lá, fomos para o Paraguai”, disse Abdelmassih.

A polícia acreditava que ele havia fugido para o Líbano em razão da dupla cidadania e da falta de acordos de extradição entre as duas nações.

Roger Abdelmassih: Como está o ex-médico hoje em dia?

Já de volta para Tremembé, a defesa de Abdelmassih enviou um recurso para ser julgado, pedindo que o ex-médico cumprisse o restante da pena em prisão domiciliar.

A notícia publicada em 2 de outubro de 2014 trouxe a indignação das vítimas do caso, que coletaram 62 mil assinaturas em um abaixo-assinado contra o recurso.

A questão da prisão domiciliar ganhou novos desdobramentos em 23 de junho de 2017, quando foi noticiado que Roger Abdelmassih passaria a usar tornozeleira eletrônica. Ele estava internado no Hospital São Lucas, em Taubaté (SP).

Apesar disso, a transferência para tratamento domiciliar ainda estava suspensa, dependendo da autorização médica. Menos de um mês depois, em 14 de agosto de 2017, Abdelmassih teve um habeas corpus aceito e conseguiu o direito de ficar em prisão domiciliar.

“Com a decisão, o ex-médico só poderá sair de casa para realizar tratamento médico e hospitalar ou com prévia autorização judicial. Desde segunda-feira, ele está internado no Hospital Albert Einstein, na zona oeste de São Paulo, para tratar uma infecção bacteriana identificada no sistema urinário. Segundo a defesa, a permanência do ex-médico no hospital é “imprescindível”, informa o texto.

Dois anos depois, em 14 de agosto de 2019, a juíza Andréa Barreira Brandão determinou a suspensão da prisão domiciliar de Roger Abdelmassih. A decisão se deu diante de denúncias de que ele teria ingerido medicamentos para simular problemas de saúde, assim como retratado na série “Tremembé”.

Aos 82 anos de idade, Abdelmassih está na pinetenciária. O ex-médico segue buscando, por intermédio da esposa e advogada Larissa Abdelmassih retornar à prisão domiciliar, alegando comorbidades de saúde. Para a Justiça, ele pode continuar cumprindo a pena em regime fechado