Dia de São Cosme e Damião: veja história, curiosidades e oração
Entenda de onde surgiu a devoção a São Cosme e Damião e qual o motivo da tradição de distribuir doces nos dias 26 e 27 de setembro
Os festejos de São Cosme e Damião são conhecidos pelo costume de distribuir doces, sendo uma das tradições mais antigas da Igreja Católica que reconhece a data no dia 26 de setembro.
No entanto, os fiéis a celebram na sua data original, 27 de setembro, que também coincide com as comemorações da umbanda, referentes ao sincretismo religioso com Ibeji, o único Orixá permanentemente duplo.
A seguir, entenda como surgiu a devoção a São Cosme e Damião e como a celebração aos santos surgiu no Brasil:
A origem de São Cosme e Damião
Assim como muitas figuras antigas, a vida de São Cosme e Damião é relatada por diferentes fontes que apresentam versões diferentes do mesmo fato. Sabe-se, porém, que os gêmeos nasceram na Egéia, na Ásia Menor, por volta do Século III e que seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio.
Os gêmeos praticavam a medicina e alcançaram grande reputação por curar os enfermos não apenas com remédios, mas também com orações, não aceitando nenhum tipo de pagamento por seus serviços.
Devido a essa prática, foram chamados de “anargiros”, uma palavra grega para determinar pessoas avessas ao dinheiro.
Seus atos caridosos conseguiram atrair muitos fiéis ao cristianismo, de modo que, ao serem denunciados por serem “inimigos dos deuses pagãos”, o imperador Diocleciano ordenou que Cosme e Damião fossem mortos.
Existem diversas lendas sobre como os dois santos foram mortos, desde a tradição que conta que eles foram torturados, apedrejados, serrados e decapitados até outra que conta que ambos morreram abraçados, atingindo o ápice da santidade.
Um dos milagres atribuídos à dupla é de que, após a decapitação, a cabeça deles voltou a se encaixar sobre o pescoço, sendo uma forma de dizer aos fiéis para não perder o juízo mesmo diante das provações.
Seus restos mortais, segundo consta, encontram-se em Ciro, na Síria, em uma basílica a eles consagrada. Foi de lá que o culto de São Cosme e Damião espalhou-se para Roma, alcançando o ocidente logo depois.
Origem do culto de São Cosme e Damião no Brasil
Com escritos sobre suas vidas desde o século V, o marco histórico do culto de São Cosme e Damião no resto do mundo começou com a construção da Basílica dedicada aos santos em Roma.
Supõe-se que sua construção se deu para competir e combater os cultos pagãos de cura que aconteciam na mesma área, dando aos fiéis uma alternativa cristã.
Com o prestígio da medicina nos séculos posteriores, Cosme e Damião começaram a ganhar uma devoção pela Europa vinda do título de “padroeiro dos médicos”.
A importância do culto nessa região, principalmente em Portugal, foi determinante para a popularização da dupla em solo brasileiro ainda no tempo do Brasil Colônia.
A Matriz dos Santos Cosme e Damião de Igarassu, Pernambuco, foi fundada em 1535, sendo considerada uma das principais relíquias da arte colonial brasileiro e a igreja mais antiga do Brasil ainda em atividade.
Apesar disso, a dupla de santos não se popularizou em todos os estados, concentrando grande parte da sua devoção na Bahia.
Nas religiões de matriz africana, Cosme e Damião são vistos como meninos nas religiões afro, o Orixá gêmeo Ibeji, e por conta disso a tradição é de distribuir caruru, uma iguaria feita de quiabo e camarão.
Sincretismo religiosa e a prática de distribuir doces
Essa visão de São Cosme e Damião no candomblé e na umbanda se dá por conta do sincretismo religioso, uma fusão de elementos de diferentes tradições religiosas em uma única prática ou crença. Um exemplo é a Festa de Iemanjá, comemorada no mesmo dia que a santa católica Nossa Senhora dos Navegantes.
Para os católicos, não há nenhuma ligação entre os irmãos e as crianças ou o ato de distribuir doces, mas essa associação veio do candomblé.
Os praticantes ligaram Cosme e Damião a Ibeji, os filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Esse sincretismo se deu pela impossibilidade dos escravos africanos de cultuar seus orixás livremente, adotando uma associação com santos católicos para não serem perseguidos.
Assim surgiu a tradição de distribuir doces, já que um aspecto associado aos gêmeos foi o de serem o “padroeiro das crianças” por conta de Ibeji. As famosas sacolinhas de Cosme e Damião têm doces que são considerados tradicionais: doce de abóbora, doce de batata-doce (geralmente em formato de coração), paçoca, cocada e maria-mole.
Na tradição católica, a dupla é considerada apenas padroeiro dos médicos, cirurgiões e enfermeiros.
Até mesmo a data de celebração deles é dividida pelas religiões, pois, em 1969, a Igreja Católico alterou o dia de São Cosme Damião para o dia 26 de setembro para não chocar com a data de São Vicente de Paula. Porém, pelo costume e tradição, a maioria das pessoas ainda comemora no dia 27, data associada aos cultos de matriz africana.
No Ceará, Cosme e Damião são padroeiros do município de Pereiro, localizado no sudoeste do Estado.
Oração para São Cosme e Damião
“São Cosme e Damião que, por amor a Deus e ao próximo, vos dedicastes à cura do corpo e da alma de vossos semelhantes
Abençoai os médicos e farmacêuticos,
medicai o meu corpo na doença e
fortalecei a minha alma contra a superstição e todas as práticas do mal.
Que vossa inocência e simplicidade acompanhem e protejam todas as nossas crianças.
Que a alegria da consciência tranquila, que sempre vos acompanhou, repouse também em meu coração.
Que vossa proteção, São Cosme e Damião, conserve meu coração simples e sincero.
Senhor nosso Deus, que dissipais as trevas da ignorância com a luz de Cristo, vossa Palavra,
fortalecei a fé em nossos corações, para que nenhuma tentação apague a chama acesa por vossa graça.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
São Cosme e São Damião, rogai por nós!”
Fonte: Canção Nova