Triunfo da espécie humana veio das avós, diz pesquisa dos EUA

O impacto de ter avós ativos e presentes resultou em boas condições físicas para os seres humanos mesmo após o fim de seus anos reprodutivos, segundo teorizam pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos; entenda

O impacto de ter avós ativos e presentes resultou em boas condições físicas para os seres humanos sobreviverem mesmo após o fim de seus anos reprodutivos, segundo teorizam pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Na “hipótese da avó”, a atuação das avós no repasse de conhecimento pode ser o motivo pelo qual as mulheres podem viver anos após a infertilidade, diferente do que acontece em quase todas as outras espécies animais.

Publicada na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a teoria foi desenvolvida ao se observar mulheres mais velhas da tribo Hadza, no Norte da Tanzânia. Como percebeu Kristen Hawkes, pesquisadora da Universidade de Utah, essas mulheres eram produtivas e compartilhavam com suas filhas os alimentos colhidos por elas mesmas, mais tarde rendendo em mais netos para a família.

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Conclusões semelhantes foram encontradas em estudos sobre as sociedades pré-industriais no Canadá e na Finlândia. No início do século XVII, em Quebec, documentos eclesiásticos calculavam que mulheres moradoras da mesma paróquia que suas mães tinham em média 1,75 mais filhos do que aquelas que moravam longe. O mesmo foi percebido na Finlândia, embora apenas se a avó não tivesse mais de 75 anos.

“A seleção natural teria favorecido a longevidade em espécies compostas por indivíduos dependentes”, explicou María Martinón Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisas da Evolução Humana (Cenieh) em Burgos, na Espanha. Na teoria, os bebês humanos teriam mais probabilidade de se desenvolver com a presença das avós. Esse papel teria ofertado uma vida mais longa para nossa espécie, diferente, por exemplo, dos chimpanzés, que sofrem uma deterioração física na casa dos 30 anos e geralmente não ultrapassam os 40 anos.

Do Homo erectus ao Homo sapiens sapiens

Segundo estimou a paleoantropóloga Marina Lozano, a influência das avós deve ter começado com o Homo erectus, que surgiu há cerca de 1,8 milhão de anos. “É a primeira espécie do nosso gênero que tem uma estrutura mais parecida com a nossa e um ciclo de vida semelhante, com um crescimento mais longo em que amamentação e infância se separam e temos outra fase como a adolescência”, afirmou a pesquisadora do Instituto de Paleoecologia Humana e Evolução Social, na Catalunha.

Anos depois, o Homo sapiens do Paleolítico Superior apresentou um aumento no número de pessoas que sobreviviam até a idade de avós, segundo a análise de fósseis de dentes de 768 indivíduos que viveram nos últimos três milhões de anos. Dados da pesquisadora Rachel Caspari, da Universidade de Michigan Central, para cada dez neandertais que morriam com idades entre 15 e 30 anos, apenas quatro estavam acima dessa idade; entre os sapiens, porém, 20 conseguiram.

É importante destacar que os Homo sapiens estavam na Terra há dezenas de milhares de anos. Porém, uma “sofisticação cultural palpável” há cerca de 60 mil anos aumentou a capacidade de sobrevivência. “É o momento em que ocorre a hibridização com os neandertais e também quando ocorre a migração para fora da África que coincide com as migrações dentro do continente. Esta data é única. Algo estava acontecendo e é claro que a organização social e cultural estava mudando, mudando também o valor das avós”, disse Antonio Rosas, diretor do Grupo de Paleoantropologia do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri.

Com essas transformações, o aumento da longevidade impactou nossa espécie, inclusive em relação à sua expansão global. “O aumento da longevidade permite uma sobreposição de gerações que possibilita um acúmulo de riquezas excepcionais. Australopitecos não conheciam suas avós. O fato de você poder reunir três gerações em uma casa é uma fonte de conhecimento que outras espécies não possuem. Os humanos não precisam recomeçar a cada geração. Isso muda completamente o valor dos idosos”, acrescentou María Martinón Torres.

Sociedades em que as avós tomaram papéis mais significativos foram responsáveis por criações artísticas, aprimoramento de técnicas de caça e sobrevivência. “O sucesso das espécies é reprodutivo, mas a nossa alcançou o sucesso com o aumento do tempo em que não é reprodutiva”, concluiu a diretora do Cenieh.

Com informações de O Globo

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