O dia em que os holandeses incendiaram Olinda

Há 390 anos, os holandeses dominaram Olinda e estabeleceram seu bastião mais duradouro no Brasil colônia

Há 390 anos, no dia 24 de novembro de 1631, os holandeses invadiram e incendiaram a cidade de Olinda, em Pernambuco. Foi apenas mais um episódio da passagem neerlandesa pelo Nordeste do Brasil, que inclui ainda a Bahia e o Ceará.

Um dos motivos para o interesse dos Países Baixos (comumente chamados no Brasil de Holanda) em terras nordestinas foi um ingrediente culinário, hoje, muito comum: o açúcar.

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Além disso, crises na Coroa portuguesa e uma relação conturbada entre o reino da Espanha e os Países Baixos ocasionaram em uma longa disputa pelo Nordeste. Ademais, a luta também dividiu os povos nativos da região. Entenda:

União Ibérica

Em 1580, foi formada a União Ibérica. Devido ao fim da dinastia Avis, com o sumiço do rei Dom Sebastião (1578) e a morte do cardeal-rei Dom Henrique (1580), que não tinha herdeiros legítimos, Portugal passou a ser parte do reino da Espanha. Com isso, a Espanha obteve o domínio sobre o Brasil.

Um ano antes, os Países Baixos, que eram um dos principais financiadores da produção da cana-de-açúcar no Brasil, conseguiram se tornar independentes do reino espanhol. Assim, a Espanha proibiu que os neerlandeses fizessem novos empréstimos ou cobrassem os que já foram feitos ao Brasil.

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Os Países Baixos, como forma de tomar à força as posses da Coroa espanhola na América, criaram a Companhia das Índias Ocidentais, e em 1624, ocorre a primeira invasão neerlandesa bem-sucedida em terras brasileiras.

A cidade escolhida foi Salvador, capital do Brasil à época. Logo que a Espanha soube da invasão, preparou a maior frota naval já enviada pelo Oceano Atlântico, com mais de 11 mil homens, e conquistou de volta a cidade baiana.

Seis anos depois, em 1630, a principal cidade do Brasil, Olinda, foi invadida pelos holandeses. Em 1631, para eliminar a resistência, Olinda foi incendiada. 

A cidade pernambucana, além de ser então o pólo financeiro do país, era a principal produtora de açúcar. Bem organizada, a cidade contou com uma forte resistência local, liderada por personagens como Henrique Dias, Matias de Albuquerque e Felipe Camarão, um indígena cristianizado.

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Os invasores, com dificuldades de tomar a cidade, não viram outra alternativa senão atear fogo no local. A ideia dos neerlandeses era encerrar a resistência de instituições portuguesas firmadas no local, como as ordens religiosas. 

A partir daí, os neerlandeses firmaram seu domínio sobre Olinda e Recife, que iria durar até 1654.

Fortaleza e a retomada do Nordeste

Já com o controle de boa parte do Nordeste, os Países Baixos tentam conquistar, por duas vezes, o que viria a ser a Vila de Fortaleza.

Maquete parte do acervo do Museu do Ceará mostra forte (na ponta direita) no contexto da Vila de Fortaleza em 1726
Maquete parte do acervo do Museu do Ceará mostra forte (na ponta direita) no contexto da Vila de Fortaleza em 1726 (Foto: Aurélio Alves/O POVO)

Na primeira tentativa, em 1644, eles foram expulsos por indígenas do antigo forte São Sebastião, atual Barra do Ceará. Já na segunda tentativa, em 1649, os neerlandeses tiveram êxito e construíram o Forte Schoonenborch, que é hoje a 10ª Região Militar do Exército, no Centro de Fortaleza.

Porém, após o fim da União Ibérica, em 1640, Portugal tenta reconquistar o Nordeste. “Nesse momento, é importante perceber a grande da participação indigena na expulsão dos holandeses do Brasil”, afirma o Francisco Pinheiro, doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Francisco cita a relevância de dois líderes indígenas que estavam em lados opostos na luta pelo Nordeste, Felipe Camarão (que estava do lado dos portugueses) e Pedro Poti (que estava do lado dos holandeses).

“Pedro Poti não queria ir para o lado dos portugueses por causa do massacre indígena na Baía da Traição e citava os holandeses como seus irmãos, além de dizer que Portugal era um reino falido. Isso mostra como os índios estavam antenados com as coisas que aconteciam no mundo”, explica Pinheiro. 

Em 1654, após a expulsão dos holandeses de Fortaleza e a resistência pernambucana no Recife, Portugal consegue tirar os Países Baixos do Nordeste, encerrando seu domínio no Brasil.

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