Estudantes temem paralisação de curso da Unilab por falta de professores

Curso tem apenas três professores da área e já estaria com algumas cadeiras deixando de ser ofertadas por sobrecarga das atuais docentes. Unilab diz que terá reunião com a coordenação do curso e tem duas vagas para contratação de professores do Serviço Social

Estudantes do curso de Serviço Social da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), localizada em Acarape, município a 61 quilômetros de Fortaleza, têm alertado para o risco de paralisação das atividades acadêmicas durante o ano de 2024. Segundo os discentes, a graduação conta tem apenas três professoras formadas na área e não tem ofertado cadeiras obrigatórias da grade curricular devido à falta de profissionais para ministrar as aulas.

O problema tem se arrastado desde 2021, quando o curso foi inaugurado na Unilab. Segundo relatos de discentes, a falta de professores foi sentida logo no primeiro semestre, quando as disciplinas eram comandadas por docentes emprestados de outras formações.

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“Foi quase um semestre completo sem ter professoras da área do Serviço Social formadas para lecionarem. Inclusive, o primeiro coordenador do curso foi uma pessoa da Administração Pública, o que já é uma problemática”, conta um estudante que preferiu não ser identificado e que também comenta a sobrecarga de trabalho das docentes do curso.

“Nossas professoras trabalham em cargas horárias que são exploratórias, quase. Elas têm que ficar se dividindo em questão de coordenação do curso, coordenando outras atividades de extensão, além de planejar as aulas. Isso está afetando de modo geral o desenvolvimento do curso dentro da instituição”, acrescenta.

As informações foram confirmadas pela coordenadora do curso de Serviço Social da Unilab, Nathália Dórgenes. A professora comenta que a problemática se dá principalmente por algumas disciplinas só poderem ser ministradas por assistentes sociais, em conformidade com a lei que regulamenta a profissão.

Segundo Nathália, disciplinas que precisam ser cumpridas pelos estudantes, como a de estágio, deixaram de ser ofertadas por que as atuais docentes acumulam mais de 40 horas em seus planos de trabalho. A coordenadora complementa que das quatro aprovadas no concurso feito ainda no início do curso, apenas três foram convocadas.

Ela afirma ter buscado a direção do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) com um documento relatando a situação do curso e pedindo a contratação de mais professores, mas não obteve sucesso.

“Eu informei no dia 30 de novembro pedindo um retorno da direção a essa situação do estágio sem ofertar e não obtive resposta. No começo agora de janeiro, eu novamente voltei com essa questão e solicitei um concurso com cinco vagas. No semestre passado, eu e outra professora chegamos a fazer um documento com o planejamento de quantos professores precisaríamos até o final do curso e também não obtivemos reposta”, explica Nathália.

Procurada pelo O POVO, a direção do ICSA afirmou que tem uma reunião marcada para o dia 9 de fevereiro com a coordenação do curso de Serviço Social para a discussão das pautas. Em nota enviada pela diretora em exercício, Sâmia Maluf, o Instituto pontuou que a matriz curricular da Unilab prevê disciplinas de tronco comum nos períodos iniciais dos seus cursos.

A direção também informou que docentes do curso de Administração Pública disponibilizaram carga horária para ministrar disciplinas que dialogam com o Serviço Social, mas foram preteridos. Por fim, o ICSA afirma que duas vagas para contratação de professores para o Serviço Social estão acordadas com a gestão superior da Unilab e que o processo não foi encaminhado por aguardar informações e dados da gestão.

Estudantes cobram vagas destinadas a outro curso

Em meio a tantas cobranças por professores para o Serviço Social, surgiram três vagas para a contratação de professores, que logo foram demandadas pelo curso. No entanto, mesmo com os apelos, as vagas teriam sido destinadas para a graduação em Contabilidade, curso que ainda está em fase de implementação e não funciona efetivamente na Unilab.

A decisão, anunciada em reunião extraordinária do Conselho do ICSA, desagradou os membros do curso de Ciências Sociais, que alegam que a prioridade da Instituição deve ser as graduações que já existem.

Segundo Nathália, a justificativa dada pela direção do Instituto é de que o Serviço Social teria direito a um concurso com duas vagas de professores, no entanto, a coordenadora teme que o processo se arraste por mais tempo e prejudique os estudantes.

“Até agora não há nada formalizado em relação a isso, e um concurso vai demorar aí seis meses. O semestre acaba em maio. Vai começar outro semestre, e nós não temos nenhum professor para dar nenhuma disciplina deste semestre que começa em maio”, conclui.

O fato foi veiculado nas redes sociais do Centro Acadêmico do curso, entidade que representa os estudantes. Por meio de nota, os discentes se manifestaram contra a decisão e reivindicaram a contratação de novos profissionais para lecionar.

“Nossa indignação parte pela falta de assistência e suporte para as necessidades do nosso curso, que desde sua gênese apresenta inconstância com o quadro de professores e que se humilha até hoje para a continuidade do mesmo [...] Não aceitaremos três códigos de vagas para um curso inexistente”, diz o texto.

Questionada sobre as vagas destinadas ao curso de Contabilidade, a Unilab não respondeu.

Atrasos nas cadeiras preocupam estudantes estrangeiros

Integrada com nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a Unilab recebe estudantes de diversos países do continente africano que vêm buscar qualificação profissional no Brasil. Na Universidade, esses estudantes entram com pedidos de auxílios financeiros para custeio de aluguel, contas de água, energia, alimentação e outras necessidades básicas.

Uma dessas estudantes é discente de Serviço Social e nascida em São Tomé e Príncipe, país localizado no Golfo da Guiné, próximo à África Central. Agora no quinto semestre do bacharelado, a santomense de 20 anos está preocupada quanto a sua estadia na Universidade por que o auxílio que recebe tem limite de quatro anos.

“É muito chato mesmo estar aqui e correr o risco de o curso parar e a gente não ter outro meio para sobreviver. Porque se o curso parar provavelmente será adiantado mais um semestre e teremos que ficar mais tempo na Unilab. Como vamos sobreviver aqui? Sem familiares por perto, sem ninguém próximo… Como?”, questiona.

A jovem que prefere não se identificar tinha o objetivo de se formar no Brasil e tentar exercer a profissão no seu país de origem, apesar de ela ser pouco exercida em São Tomé e Príncipe. Agora, diante da situação que enfrenta na Unilab, ela  teme que o sonho alimentado com a entrada na Universidade seja frustrado.

“Eu estava muito feliz, muito alegre. Dizia ‘no próximo ano vou terminar, vou dizer aos meus familiares que me formei, que estou aqui e já tenho minha graduação feita’, mas se isso parar, como a gente vai ficar aqui? A gente vai ficar estagnado e realmente sofrer muito. É algo que nunca pensei que ia acontecer”, exclama a graduanda.

A direção do ICSA foi questionada sobre quais medidas estão sendo tomadas para evitar que os atrasos nas cadeiras prejudiquem alunos estrangeiros, mas não se posicionou até o momento de publicação desta matéria.

Atualmente, o curso conta com duas disciplinas obrigatórias paralisadas, além das atividades de estágio e disciplinas que não são privativas do serviço social e estão sendo articuladas com outros cursos.

Leia a nota da Unilab, na íntegra:

"A direção do ICSA vem a público esclarecer que, em reunião extraordinária (pauta única) realizada, em 22/01/2024, pelo Conselho da Unidade Acadêmica do ICSA, com a presença da representante discente do curso de Serviço: Social; o Diretor do ICSA sugeriu uma reunião com a Coordenação do Curso de Serviço, para tratar desse assunto, que está agendada para ocorrer em 09/02/2024 (em compatibilidade com a agenda da gestão do curso - coordenadora e vice). De qualquer forma, consta na ata da reunião que dois códigos de vagas para concurso público de docentes de formação em Serviço Social, estão acertados com a gestão superior e o processo não foi encaminhado por aguardar informações e dados da gestão. Esclarecemos que a matriz curricular da Unilab prevê disciplinas de tronco comum nos períodos iniciais dos seus cursos. Ações estão sendo tomadas para solucionar essa questão; entretanto, salienta-se que, docentes do curso de Administração Pública, que ministram conteúdos que comunicam com o curso de Serviço Social disponibilizaram carga horária para ministrar disciplinas no curso e foram preteridos. As informações relatadas aqui constam na referida ata, à exceção da data da reunião com a gestão do curso."

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