Projeto de alunos transforma rotina escolar com ações de sustentabilidade e cidadania
Iniciativa reúne mais de 280 alunos do ensino médio em ações que unem produção textual, sustentabilidade e valorização humana. Projeto visa aproximar comunidades e transformar a autoestima dos jovens
A Escola Liceu Estadual Alfredo Almeida Machado, em Quixeramobim, vem se tornando referência na integração entre ensino, cidadania e sustentabilidade. Desde o início deste ano, 283 estudantes do 2º ano do ensino médio participam do projeto “Girassóis – as mãos da sustentabilidade pelos olhos da dignidade”, coordenado pela professora de Língua Portuguesa Rayane Fernandes, de 32 anos.
A iniciativa busca unir produção textual, consciência socioambiental e valorização de grupos que, muitas vezes, podem ser invisibilizados.
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A proposta surgiu do desejo de transformar a realidade dos estudantes e ajudar o próximo. “Muitos chegam no Liceu acreditando que não têm potencial, desacreditando até que podém ir além. Mas, quando descobrem que podem produzir, escrever, criar e transformar realidades, eles percebem que também são protagonistas de suas próprias histórias”, afirma Rayane.
O projeto é inspirado nos 5 Rs da sustentabilidade – reduzir, reciclar, repensar, reutilizar e recusar. Cada um deles foi associado a um público que, de forma direta ou indireta, contribui para a preservação ambiental e social.
São eles: estudantes do Liceu, garis de Quixeramobim, catadores da associação local, mulheres costureiras da Associação Padre Ibiapina e Mulheres em tratamento contra o câncer do Instituto Luz e Vida.
Para cada grupo, os alunos produzem textos autorais, cartas, memórias, fanzines, pinturas e lapbooks, que carregam mensagens de valorização e reconhecimento.
As produções vêm acompanhadas de sementes de girassol e ervas medicinais, como capim-santo e hortelã, resultado da parceria com o curso de Farmácia da UniCatólica de Quixadá.
“Queremos mostrar que, antes do gari, existe o seu Raimundo, pai e marido; antes da catadora, existe a dona Joana, que sonha, luta e resiste. É sobre humanizar profissões e trajetórias que muitas vezes são ignoradas”, explica Rayane.
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O impacto do projeto na vida dos estudantes
Entre os alunos, a transformação também é visível. Para a estudante Shailla Maria, 16, o projeto é "inspirador e gratificante".
“A gente aprende com os garis, catadores, mulheres que enfrentam tantas dificuldades e outros. E, ao mesmo tempo, levamos carinho e conhecimento. Quando penso que algo que eu ou meus colegas produzimos pode melhorar o dia de alguém, eu fico muito feliz. Isso transforma a nossa semana e dá sentido ao que fazemos”, enfatizou a estudante.
Shailla também destaca como o projeto impacta os seus amigos de escola. “Nós já percebemos mudanças dentro da escola e em outros lugares onde atuamos. No abrigo de idosos, por exemplo, vimos a alegria deles em receber nossas visitas. E na escola de ensino fundamental, as crianças ficaram encantadas com as oficinas. É um aprendizado que vai muito além do livro”, contou.
O projeto Girassóis vai além da entrega de textos
Semanalmente, os grupos homenageados visitam a escola, participando de rodas de conversa, palestras e oficinas. O momento é dedicado a contar histórias. Eles se sentam frente a frente com os estudantes para compartilhar experiências.
Já passaram pela escola garis que explicaram como funciona a coleta de resíduos, catadores que orientaram sobre descarte correto do lixo e costureiras que relataram como a reutilização de tecidos garante renda e sustento familiar.
“O diálogo entre o conhecimento científico aprendido em sala e o conhecimento popular que eles trazem é muito rico. É um aprendizado que ultrapassa qualquer livro”, comenta a professora.
O projeto possui subgrupos para ampliar as ações
Além do projeto Girassóis, os alunos também se dividem em subgrupos de ação, com o intuito de gerar impactos para dentro e fora da escola, são eles:
Bioarte: estudantes produzem jogos didáticos com materiais recicláveis, destinados a colegas com deficiência (PCDs) da própria escola;
Bioação: alunos levam oficinas e debates sobre sustentabilidade a creches, escolas de ensino fundamental, universidades e abrigos de idosos;
Biociência: jovens participam de eventos acadêmicos em universidades, apresentando pesquisas e trabalhos científicos.
A proibição de celulares como incentivo à escrita autoral
O uso de celulares é totalmente proibido em sala de aula. Isso garante que a produção dos textos parta do conhecimento, repertório e reflexão dos próprios estudantes. Cada texto é revisado pela professora antes de ser entregue aos destinatários.
A professora relata que alunos que antes escreviam apenas duas ou três linhas agora produzem textos longos e bem estruturados. “Eles entendem que alguém vai ler o que escreveram, e isso os motiva a ter mais cuidado, a buscar coerência e clareza. O compromisso cresce junto com a autoestima.”
O impacto do projeto na vida das pessoas
O simbolismo do girassol dá nome ao projeto. “O girassol sempre procura o sol. Mas, quando não o encontra, vira-se para os outros girassóis e permanece firme. Ele mostra que nem sempre o fim é fim, pode ser recomeço. É isso que queremos passar para os alunos: que mesmo diante das dificuldades, é possível florescer em coletivo”, reflete a professora.
As entregas de textos e lembranças têm gerado reações emocionadas para quem recebe. “Algumas pessoas dizem: ‘Nem meus filhos fizeram isso por mim’. Essa troca é poderosa. Os alunos voltam orgulhosos e motivados a escrever mais e melhor”, destaca Rayane.