Entenda o conflito que aumentou em quase 1000% os homicídios em Itapipoca

Racha em facção fez com que o Município registrasse 32 mortes no primeiro semestre deste ano, enquanto, no mesmo período do ano passado, haviam sido 3

Itapipoca, no Litoral Oeste do Estado, que chegou a ser apontada como um dos municípios menos violentos do Nordeste, viu, em 2023, os índices de homicídios dispararem por causa de um conflito entre facções criminosas.

Conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no primeiro semestre deste ano, Itapipoca registrou 32 assassinatos; em todo o ano passado, cinco mortes haviam sido registradas, sendo três no primeiro semestre.

De acordo com os órgãos de segurança, a onda de violência se deve a um rompimento ocorrido dentro da facção Comando Vermelho (CV), que levou ao surgimento de um novo grupo, conhecido como Massa Carcerária ou Neutros.

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Conforme investigação da Delegacia Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), o conflito teve início após a execução de Daniel Valdemir de Souza, conhecido como Granja, em 18 de janeiro de 2023.

Por meio de comunicados em redes sociais, criminosos que passaram a integrar a Massa acusaram o “Conselho Permanente” do CV de ordenar o crime. Além disso, afirmavam que a facção carioca havia “tomado” a área onde os próprios comparsas atuavam.

Por outro lado, “salves” divulgados pelo CV acusavam os agora rivais de darem um “golpe de Estado” ao mudar de facção. “Estão ameaçando famílias, matando inocentes e fazendo o caos, então, de ante mão vamos avisar que se mexer com família que vocês segurem o tombo, porque família são inocentes e não tem nada haver com a guerra” (SIC), diz o texto.

Dessa forma, conforme os textos, dois homens apontados como chefes do CV em Itapipoca, Danilo Sousa Rios, conhecido como Ferrari, e seu braço direito, Francisco Anísio de Sousa Santos, conhecido como Capoeira, romperam com a facção, “decretando a morte daqueles que não se submeterem a essa nova ordem”.

De outro lado, Márcio Elano Barroso seria o chefe do CV no Município. Nas redes sociais, os criminosos passaram a fazer ameaças uns aos outros exibindo armas de grande poder de fogo, como fuzis.

Outra estratégia utilizada, diz relatório técnico da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da SSPDS, é a entrega de cestas básicas para moradores, a fim de “aproximar a população da facção criminosa”.

Com base nas publicações nas redes sociais, na última terça-feira, 18, o Ministério Público Estadual (MPCE) denunciou oito pessoas por envolvimento com as duas facções.

Entre eles está Ferrari, que foi preso em 15 de junho último em Balneário Camboriú (SC). No celular da companheira dele, Hadassa Irineu Alves, a investigação encontrou anotações que seriam referentes ao tráfico de drogas que citavam valores que ultrapassavam R$ 100 mil.

Além do casal, foram denunciados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco): Antônio Alisson Lima Brandão, o "JJ"; Expedito Viana de Melo, o "Nego Expedito"; Francisco Anísio de Sousa Santos, o "Capoeira"; Gleison Gomes de Oliveira, o "Zé Caboco"; Felipe Oliveira Domingues, o "Felipe Deputado"; e Márcio Elano Barbosa de Sousa.

Todos foram denunciados pelo crime de integrar organização criminosa.

Secretário cita redução no número de homicídios em Itapipoca

Apesar dos altos números do primeiro semestre, em julho, nenhum homicídio foi registrado em Itapipoca até aqui. Em entrevista a O POVO, o secretário Samuel Elânio credita o resultado a um trabalho intensivo na região, que inclui municípios vizinhos, como Amontada, também impactados pela dinâmica criminosa de Itapipoca.

Além do trabalho da Draco no Município, que culminou na prisão de Ferrari, outras ações foram realizadas em Itapipoca. Exemplo disso foram edições da operação Focus, que emprega efetivos extras para ações ostensivas em regiões com índice de criminalidade alto.

Em junho, durante reunião de alinhamento da SSPDS com suas vinculadas, ainda foi determinado que a Coin reforçaria o trabalho na região.

Entenda o cenário da atuação das facções em Itapipoca

 

Um relatório de inteligência elaborado pelo 11º Batalhão de Polícia Militar, anexado à investigação da Draco, fez uma linha do tempo das organizações criminosas que atuam em Itapipoca.

Conforme o documento, após a morte daquele que chefiou o tráfico de drogas na cidade por mais de 10 anos, Francisco Talvane Teixeira, em 2019, "dois grupos antagônicos, antes unidos pela liderança de Talvane, digladiaram entre si".

O grupo liderado por Ferrari e Carlos Eduardo Santana Lima, conhecido como Toyota e morto em 2022, conseguiu subjugar o rival, com, pelo menos, sete assassinatos em três anos. Este grupo, que apenas "flertava" com o CV, alinhou-se completamente à facção, diz o relatório, até que houve o rompimento e a criação da Massa.

"Assim, tem início uma onda de mortes e atentados em nossa cidade, determinados por esses dois grupos, de um lado, a denominada 'Massa' (Danilo, Capoeira, Cier, JJ, Expedito, Zé Caboclo, Felipe Deputado, Cromatá, etc.), do outro, o 'CV' (Elano, Marcos Paraguai, Delano, Anjinho e Lacoste".

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