Como foi a chacina de Camocim, conforme reconstituição feita em inquérito

O inspetor Antônio Alves Dourado utilizou a chave da delegacia para surpreender colegas, que dormiam. Em seguida, foi para casa, onde ligou para PM e se algemou. Ao ser preso, disse que teve um "surto"

19:07 | Mai. 15, 2023

Por: Lucas Barbosa
Chacina de Camocim: quatro policiais civis do Ceará foram mortos. O suspeito é um outro policial, que confessou o crime (foto: Reprodução/Google Street View)

Foi por volta das 4h45min do domingo, 14, que os órgãos de segurança receberam as primeiras informações de que disparos haviam sido efetuados dentro da Delegacia Regional de Camocim (Litoral Oeste do Estado). Instantes depois, policiais militares iriam deparar-se com os corpos dos quatro policiais civis mortos pelo inspetor Antônio Alves Dourado, de 44 anos.

Esses e outros detalhes da chacina de Camocim estão presentes no Auto de Prisão em Flagrante (APF) do inspetor Dourado, ao qual O POVO teve acesso. Conforme o documento, o suspeito do crime chegou à unidade em sua moto carregando um botijão de gás. Valendo-se do utensílio, Dourado pulou o muro da parte de trás da delegacia, onde há um terreno baldio.

A delegacia estava trancada, mas o inspetor tinha a chave e, com isso, conseguiu surpreender os colegas que descansavam após lavrar um flagrante. As primeiras vítimas foram os escrivães Francisco dos Santos Pereira, 47 anos, e Antônio José Rodrigues Miranda, 33 anos, e o inspetor Gabriel de Souza Ferreira, 36 anos. Eles estavam dormindo em redes, dentro do alojamento da delegacia, localizado na parte de baixo do prédio.

Em seguida, o escrivão Antônio Cláudio dos Santos, 46 anos, foi alvejado pelas costas, após pular da varanda da parte de cima do prédio para a garagem, em uma tentativa de escapar dos disparos. Cláudio chegou a quebrar um braço na queda, "o que impossibilitou qualquer tentativa de reação", descreveu Relatório de Local de Crime.

Os investigadores também constataram que as armas longas utilizadas na Delegacia foram retiradas de onde eram guardadas (estavam em cima da mesa do delegado) e que, possivelmente, seriam utilizadas pelo inspetor para fazerem mais vítimas, assim como o botijão de gás. O relatório ainda diz que os verdadeiros alvos da ação de Dourado eram os gestores da Delegacia, e não as vítimas.

Após praticar o crime, Dourado fugiu usando uma viatura da própria delegacia. Posteriormente, o veículo foi deixado em uma unidade de saúde e o inspetor foi para a própria casa. Conforme depoimentos de policiais militares que foram acionados para a ocorrência, Dourado ligou para um subtenente e confessou que havia sido ele quem praticou o crime. Em seguida, Dourado disse que queria entregar-se e pediu para o PM ir sozinho até a casa dele.

Chegando ao local, o militar encontrou o portão da casa aberto e deparou-se com o inspetor saindo de casa algemado, o que foi feito por ele próprio. Dourado, então, teria dito que havia "surtado". Ele também indicou que as pistolas usadas no crime estavam no jardim de sua casa. A esposa e o filho do policial estavam na residência no momento da prisão.

Antes de se entregar, o inspetor gravou e postou na internet um vídeo em que afirmava fazia descrições de supostas situações de assédio moral pelas quais havia passado na delegacia e também diz ter sido perseguido por superiores. Também falou que sua família não merecia passar pela situação que ocorreu. Dourado passava por tratamento psiquiátrico e psiquiátrico desde fevereiro de 2022.

Nesta segunda-feira, 15, ele deve passar por exame toxicológico para saber se estava sob efeito de álcool ou outras drogas no momento do crime.

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