Ceará tem maior número de casos de feminicídio desde 2018, mesmo com falhas no registro

Governador afirma que delegados tem autoridade para decidir tipificação dos crimes, apesar de portaria de 2023 orientar a classificação de homicídios de mulheres primeiro como feminicídios

17:26 | Dez. 05, 2025

Por: Alexia Vieira
Feminicídio atinge recorde no Ceará em 2025 (foto: Agência Brasil)

O Ceará ultrapassou 43 casos de feminicídio até a primeira semana de dezembro de 2025. O número já é o maior registrado em qualquer ano desde o início da tipificação, em 2018. Devido a falhas no registro correto do crime, a quantidade pode ser ainda maior.

Em 27 de outubro, uma mulher de 32 anos foi assassinada em Jaguaruana por se recusar a ter relações sexuais com um homem de 46 anos. Ele foi preso pela morte, confessou o crime e foi autuado por feminicídio. No entanto, nas estatísticas de outubro, a Secretaria da Segurança e Defesa Social (SSPDS) categorizou o caso como homicídio doloso.

A estatística preliminar de novembro também classificou a morte de Thamallia Abreu Barreto, 34, como homicídio doloso. A mulher foi esfaqueada pelo ex-companheiro em Canindé seis dias depois de obter uma medida protetiva contra ele. O homem também foi preso e autuado por feminicídio.

Se esses casos estivessem registrados como feminicídio, o número subiria para 45.

Número de vítimas de feminicídio no Ceará

  • 2018: 30
  • 2019: 34
  • 2020: 27
  • 2021: 31
  • 2022: 29
  • 2023: 42
  • 2024: 41
  • 2025: 43 (preliminar)

Desde março de 2023, a portaria de Instrução Normativa Nº0644/2023-GS, publicada pela SSPDS, estabelece que todos os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) contra mulheres e membros da população LGBTQIA+ devem ser primariamente tratados como “resultantes de ações de ódio, intolerância sexual ou decorrentes do machismo estrutural”.

Portanto, a portaria determina que esses crimes sejam registrados nas estatísticas como feminicídio, transfobia e homofobia, conforme o caso específico.

Apesar da portaria estar em vigor há mais de dois anos, assassinatos de mulheres continuam sendo categorizados primeiramente como homicídios dolosos nos sistemas de dados da secretaria.

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Questionado sobre a dificuldade de registrar corretamente o feminicídio, o governador Elmano de Freitas (PT) afirmou que os delegados de polícia têm autonomia para registrar o tipo penal.

“O delegado de polícia é a autoridade que diz, quando recebe o caso, como é que ele abre o inquérito. Ele tem autoridade legal de fazer”, afirmou em visita ao O POVO nesta sexta-feira, 5.

Quando perguntado sobre os casos que são registrados como homicídio doloso mesmo havendo prisão em flagrante por feminicídio, o governador afirmou que é necessário apurar.

“Quem diz que ele está sendo preso por feminicídio é para ser o delegado. Então fica meio contraditório o delegado que abre o inquérito dizer que é feminicídio e depois que não é”, disse.

Elmano disse ainda que o Ministério Público pode “resolver” a questão, já que o órgão decide como pretende denunciar o crime à Justiça. O governador destacou ainda que foram presos, em 2025, 68 suspeitos de feminicídio.

“Nós estamos buscando fazer um trabalho educacional, que é, digamos assim, mais estratégico e buscando ser bastante rigoroso na apuração, na prisão e acelerando, com a colaboração do judiciário, para estar julgando com rapidez, para não ter impunidade”, afirmou.

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Indignação coletiva motiva ato nacional contra feminicídios

Para protestar contra feminicídios, movimentos sociais se reunirão em Fortaleza no domingo, 7, na Praia de Iracema. O ato Levante Mulheres Vivas ocorrerá de forma simultânea em todas as unidades da Federação. O ponto de encontro na Capital será na estátua de Iracema Guardiã, na avenida Beira Mar, às 16 horas.

O ato tem o objetivo de chamar atenção para as violências sofridas por mulheres em meio a casos de destaque nacional. Estarão presentes movimentos de mulheres do Ceará, sobreviventes de tentativas de feminicídio e familiares de vítimas em busca por justiça.