Saiba quem é o principal chefe da GDE atualmente, conforme delator
Antônio Euden da Silva Lucas, morto em 27 de agosto, havia afirmado que Yago Steferson Alves dos Santos passou a concentrar "todas as funções" da facção
06:00 | Set. 16, 2025
Além de fornecer detalhes sobre questões financeiras da facção criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE), o delator Antônio Euden da Silva Lucas, de 28 anos, também repassou informações que diziam respeito, entre outros, sobre lideranças da organização e sobre como o grupo adquire armas e drogas.
Como O POVO mostrou na quarta-feira passada, 10, Antônio Euden integrou a GDE entre 2017 e 2024, tendo chegado, conforme disse em depoimentos prestados em maio e junho ao 2º Distrito Policial (2º DP), ao cargo de “Conselheiro Final”.
O delator, porém, foi “jurado de morte” e deixou a facção, tendo sido assassinado em 27 de agosto passado ao sair de uma clínica médica localizada na avenida Edilson Brasil Soares, no bairro Sapiranga, em Fortaleza.
À Polícia Civil do Ceará (PC-CE), Antônio Euden havia dito que Yago Steferson Alves dos Santos, o “Yago Gordão”, tornou-se a principal liderança da GDE. “Hoje, o YAGO concentra todas as funções da GDE, tais como morte, droga e o recebimento de dinheiro. (...) o YAGO afirma que os membros não são pela facção, mas por ele”.
Yago Steferson é apontado como um dos fundadores da GDE. Ele está em liberdade desde 14 de dezembro de 2024, quando rompeu a tornozeleira eletrônica com a qual era monitorado.
Como O POVO mostrou em 2 de setembro passado, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) recebeu informações que indicam que Yago Steferson está escondido fora do Brasil.
Antônio Euden também disse que, quando Yago estava preso, a GDE mantinha uma “conta para emergência”, na qual havia, em média, R$ 150 mil depositados. O denunciante acrescentou que, quando o saldo da conta chegava a R$ 500 mil, o valor era distribuído entre a cúpula da facção.
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Antes de Yago ser solto, era a irmã dele a responsável pela conta, mas, depois, o próprio chefe da GDE passou a concentrar o controle e recebimento dos valores, afirmou Antônio Euden.
Com relação à aquisição de armamento, Antônio Euden disse que a GDE não compra armas de fora do Estado, mas sim do “varejo” local, seja de CACs (Colecionadores, Atiradores desportivos e Caçadores) ou mesmo de policiais militares.
Já em relação ao tráfico de drogas, Antônio Euden afirmou que a GDE compra os entorpecentes de fora do Estado ou mesmo do País. Os faccionados ou vão buscar a droga na fronteira, ou em outro Estado (método de “alto risco”, conforme disse); ou, então, os ilícitos são recebidos através de “Mocó”, esconderijos ocultos em caminhões (“baixo risco”).
Antônio Euden ainda relatou que a facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP) estaria tentando “entrar” em Fortaleza. “Os caras da GDE na Barra do Ceará vai rasgar a camisa e tudo vai virar TCP, que está vindo fuzil e armas para tal empreitada” (SIC), afirmou.
“O TCP não é inimigo, da GDE, mas por enquanto não possui união das ações; (Antônio Euden declarou que) Que existia uma cerca aliança entre a GDE e o TCP, mas a GDE decretou alguns membros da GDE que estavam no RJ TCP acho injusto a decretação e cortou o vínculo da GDE”, também consta no depoimento.
O delator ainda afirmou que Yago Steferson está “com medo” de perder a GDE para o TCP e, por isso, está “reestruturando” a facção cearense, comprando muitas armas de fora. “Para ter dinheiro o YAGO está diminuindo e por vezes cortando salários”.
O POVO já havia mostrado que outra fonte de preocupação para a GDE é o avanço do CV sobre áreas antes dominadas pela facção cearense, a exemplo do Vicente Pinzón e do Papicu. De acordo com Antônio Euden, atualmente, o bairro Parque Presidente Vargas tornou-se o principal "quartel-general" da GDE no Ceará, pois é o local onde Yago Steferson nasceu e desenvolveu suas atividades criminosas.
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O depoimento de Antônio Euden baseou uma denúncia do Ministério Público Estadual, ofertada na sexta-feira, 5, contra 24 acusados de integrar a GDE. Além dos detalhes sobre o funcionamento da facção, a delação trouxe o nome de vários integrantes do grupo.
A partir disso, foram confeccionados Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) acerca das movimentações bancárias, o que, conforme a Polícia Civil, permitiu a constatação de que esses alvos lavavam dinheiro para a GDE.
Como O POVO mostrou nessa quarta, Antônio Euden disse que, mensalmente, a GDE arrecadava mais de R$ 500 mil, sendo que a maior parte desse montante, cerca de R$ 200 mil, era proveniente da exploração do “Jogo do Bicho”, que se tornou a principal fonte de renda da organização.
Foram denunciados pelo MPCE: Alan Borges Figueiredo; Ana Carla Souza da Silva; Anderson dos Santos Pimentel; Edilson Guilherme Arruda de Oliveira; Elane Soares de Sousa; Erick André de Oliveira, vulgo “Clebão do Aracapé”; Everton Muniz de Carvalho, vulgo “Pato”; Francisco Gervaldo Oliveira Celestino; Francisco Saraiva Neto; Harisson Sampaio do Nascimento Silva; Jefferson Henrique do Nascimento Silva; José Honório Diógenes; Kaíque de Oliveira Silva, Kaylane Pinheiro Sales; Leomax Xavier da Costa; Leonardo Oliveira da Silva; Micael da Conceição Brito; Miquelvis Breno Lopes da Silva; Paulo Henrique Martins dos Santos, vulgo “PH”; Pedro Barbosa da Silva Neto; Pedro Lucas de Sá Morais, vulgo “Josué”; Sarah Ingrid Sampaio do Nascimento; Stefany Sampaio do Nascimento e Suyanne Alves Rodrigues.
Já com relação ao assassinato de Antônio Euden, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) continua investigando o caso, não havendo, ainda, nenhum suspeito preso.