Jovem preso por assalto no Rio mesmo estando no Ceará é solto pela Justiça

O cearense foi solto após seis dias preso acusado de um assalto no Rio, já que provas apresentadas pela defesa mostram que ele estava em Caucaia no dia do crime

23:07 | Set. 03, 2025

Por: Lara Vieira
Defesa diz que, nos próximos dias, o nome de Yago deve ser oficialmente excluído da investigação (foto: Arquivo Pessoal/Reprodução)

Um cearense de 26 anos foi solto nessa terça-feira, 2, após passar seis dias preso acusado de participar de um assalto no Rio de Janeiro em 2024.

A defesa de Yago Taffarel dos Santos Paiva afirma que, no dia do crime, ele estava no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Por conta disso, a Justiça considerou "a impossibilidade de ele ter participado da ação criminosa".

O jovem foi detido pela Polícia Civil do Ceará na última quarta-feira, 27, em cumprimento a um mandado de prisão expedido pela 2ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Após a captura, no dia seguinte foi levado a um presídio em Aquiraz, na RMF, onde permaneceu até ser solto na manhã de terça-feira, 2.

Investigações da Polícia Federal indicaram o nome de Yago como um dos suspeitos do roubo contra um agente dos Correios, registrado em 10 de outubro de 2024, na Zona Norte do Rio. O episódio teria envolvido veículos, um dos quais estaria, supostamente, sob condução de Yago.

Mais detalhes sobre o caso seguem sob sigilo de Justiça.

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A defesa de Yago afirma que o cliente não estava no Rio de Janeiro na data do crime. “Ele não entendia as razões [para a prisão]. A última vez que tinha estado no Rio de Janeiro foi em 2014, há mais de dez anos”, disse a advogada Lívia Xavier.

Durante o processo, a defesa apresentou registros da academia frequentada por Yago. O sistema de entrada, feito por digital, registrava a presença dele no mesmo dia em que o crime ocorreu no Rio.

“Conseguimos estabelecer no processo uma linearidade temporal, indicando que, no dia do fato, ele estava especificamente na Caucaia”, explica a advogada.

Testemunhas também teriam apontando que ele se encontrava no município. “Pedimos à proprietária da academia, que o conhece porque ele frequenta o local há muito tempo, que confirmasse essa assiduidade. Conseguimos também conversas com amigos que estavam com ele na academia nesse dia”, explicou a advogada.

Segundo a investigação, imagens de câmeras de monitoramento teriam apontado que ele estaria dirigindo um veículo usado na ação criminosa. A divergência entre as características físicas do verdadeiro autor e as de Yago foi outro ponto destacado pela defesa.

“O verdadeiro autor tinha características físicas e tatuagens diferentes das dele. Por essa razão, a juíza reconheceu a ilegalidade da prisão, relaxou a prisão preventiva e ele saiu em liberdade”, acrescentou Lívia Xavier.

Suposta fraude documental e no aplicativo da Uber também teria motivado a prisão

Ainda conforme a advogada, em abril de 2024, Yago teria perdido sua carteira de motorista e registrou, inclusive, um boletim de ocorrência para informar a perda do documento.

Em setembro daquele ano, ao tentar se cadastrar na Uber para trabalhar como motorista, ele descobriu que seu CPF já estava registrado na plataforma. A própria Uber bloqueou a conta por suspeita de uso fraudulento.

Após o crime cometido em outubro, quando a polícia investigou registros documentais do veículo envolvido, a Uber informou que Yago seria o motorista vinculado ao carro. A polícia comparou as imagens capturadas do suspeito com a foto de Yago e identificou semelhança, o que o levou a prisão.

Em nota, a empresa reafirmou que a conta utilizada de forma fraudulenta foi desativada da plataforma, em setembro de 2024, e que a Uber "se coloca à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, nos termos da lei".

"A plataforma mantém um contrato com o Serpro, empresa de TI do Governo Federal, para confirmar as informações cadastrais dos motoristas parceiros, de seus veículos e pessoas que querem se cadastrar na plataforma como motoristas", indica o informe. 

Cearense foi preso enquanto esperava a mãe para contar sobre novo emprego

Ao O POVO, Yago Paiva relatou que estava prestes a iniciar um novo emprego quando foi surpreendido pelos policiais. “Eu ia começar a trabalhar no dia seguinte como porteiro em uma escola perto de casa. Ia fazer uma surpresa para minha mãe. Estava esperando ela chegar para contar. Mas, de repente, a polícia apareceu dizendo que havia um mandado no meu nome”, disse.

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Yago relatou grande angústia durante os seis dias em que permaneceu detido. “Sempre dizia para a minha mãe que ela jamais iria me ver numa situação dessas. No tempo que fiquei preso, só pensava só na minha mãe, em como ela ia sofrer com aquilo. Foram dias muito difíceis, só chorava. Cada dia parecia um ano”, contou.

A defesa de Yago entrou com pedido de relaxamento de prisão, que foi aceito pela Justiça Federal em primeira instância. Apesar da decisão, ele ainda consta formalmente no processo.

A expectativa da defesa é que, nos próximos dias, o nome de Yago seja oficialmente excluído da investigação. “O próximo passo é que os autos sejam remetidos novamente à polícia para apuração da verdadeira autoria”, explicou a advogada Lívia Xavier, responsável pelo caso.

O POVO entrou em contato com a Justiça Federal do Rio de Janeiro para mais detalhes sobre o caso. O órgão, contudo, reiterou que o processo corre em segredo de justiça. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS) também foi procurada para esclarecimentos. A matéria será atualizada assim que houver retorno.

Veja na íntegra nota da Uber:

“A Uber informa que a conta utilizada de forma fraudulenta foi desativada da plataforma, em setembro de 2024. A empresa se coloca à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, nos termos da lei.

"Os esquemas de fraude estão em constante evolução e é por isso que a Uber está comprometida em atualizar e fortalecer seus processos internos para se proteger deles. Nossas equipes de detecção de fraudes usam análises manuais e sistemas automatizados de aprendizado que analisam mais de 600 tipos de sinais diferentes à procura de comportamento fraudulento. Estamos constantemente implementando novos processos e tecnologias para evitar fraudes e aprimorando o treinamento dos nossos agentes, enquanto seguimos trabalhando para ficar à frente dos golpes mais recentes.

"A plataforma mantém um contrato com o Serpro, empresa de TI do Governo Federal, para confirmar as informações cadastrais dos motoristas parceiros, de seus veículos e pessoas que querem se cadastrar na plataforma como motoristas. A Uber também implementa algoritmos de reconhecimento facial e, ao criar a conta, verifica se a foto de perfil coletada do motorista parceiro é verídica e tirada ao vivo.

"Além disso, de tempos em tempos, o aplicativo pede, aleatoriamente, para que os motoristas parceiros tirem uma selfie antes de aceitar uma viagem ou de ficar on-line, para ajudar a verificar se a pessoa que está usando o aplicativo corresponde àquela da conta que temos no arquivo. Essa checagem também conta com uma ferramenta que identifica elementos de profundidade para confirmar se foi tirada em tempo real. Isso ajuda a prevenir fraudes e protege as contas dos condutores de serem comprometidas.

"Segurança é prioridade para a Uber e o aplicativo está sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da sua plataforma a mais segura possível, de uma forma escalável. Uma viagem pela Uber inclui ferramentas de segurança que atuam antes, durante e depois de cada viagem.”