33 motoristas de aplicativo foram assassinados no Ceará desde 2017

Apesar de redução na média de crimes no Ceará, após onda de violência em 2020, Amap-CE estima que todos os dias 11 motoristas são assaltados em Fortaleza e na Região Metropolitana

O Ceará viveu o ano mais violento para motoristas de aplicativo em 2020, quando foram registrados 16 homicídios entre os profissionais. Após protestos e mobilização da categoria, ações de segurança foram reforçadas. Neste ano, até agosto, um motorista foi morto e dois feridos a bala. Desde 2017, pelo menos 33 trabalhadores da categoria foram assassinados no Estado.

Apesar da redução de casos em relação ao ano passado, a Associação dos Motoristas de Aplicativos do Estado do Ceará (Amap-CE) ainda estima que, diariamente, ocorrem pelo menos 11 assaltos a motoristas e três roubos a veículos na categoria em Fortaleza e na Região Metropolitana (RMF). A organização calcula que cerca de 52 mil motoristas de app atuam na Grande Fortaleza hoje.

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De acordo com Rafael Keylon, diretor Amap-CE, a projeção da entidade é elaborada por meio de monitoramento de grupos de motoristas e de informações de empresas seguradoras de proteção veicular. O diretor da associação avalia que a redução significativa de homicídios contra motoristas, em 2021, está relacionada à operação Corrida Segura, resultado de diálogos entre entidades que representam a categoria e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

“Isso contribuiu bastante para a segurança do motorista, inclusive com êxitos de pegar passageiros no carro com armas brancas ou armas de fogo”, comenta. A operação da Polícia realiza abordagens preventivas a carros de aplicativo desde o ano passado na Grande Fortaleza, após ampla repercussão do caso do motorista de aplicativo Alexandre Hablich Fernandes, 32, encontrado morto na BR-116, em Itaitinga, na RMF, após dois dias desaparecido. Ele reagiu a um assalto e foi atingido por disparos de arma de fogo.

A morte de Alexandre, somada a outros casos, mobilizou os profissionais, culminando em uma manifestação até a sede da SSPDS. “Tivemos a pandemia e as guerras entre facções, aumento dos crimes em geral e a exposição diária dos motoristas provocaram o pior ano para a categoria”, recorda Rafael.

Em nota, a SSPDS afirma que ampliou o número de operações policiais que visam abordar veículos, motoristas e passageiros que utilizam aplicativos, mas não especifica números. A pasta diz ainda que a operação Corrida Segura realiza ações a partir das análises de dados criminais, que apontam os dias, horários e locais onde são registrados os crimes com mais frequência.

“Com base no diagnóstico dos índices criminais, é possível realizar ações de combate aos Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP) nos transportes. Por meio desses levantamentos, estratégias diferentes são implementadas visando intensificar e qualificar as abordagens”, informa a secretaria.

Ainda conforme a pasta, os agentes da segurança pública contam com o auxílio de equipes do policiamento especializado e das câmeras do sistema de videomonitoramento, que cobrem as principais vias da Capital, da Região Metropolitana e de cidades do Interior do Estado.

A pasta reitera ainda que “mantém diálogo permanente com os representantes das empresas de motoristas de aplicativo, no intuito de traçar ações de segurança tanto para os profissionais quanto para os passageiros”. O POVO solicitou dados oficiais sobre homicídios e assaltos envolvendo motoristas de aplicativo no Estado, mas até o momento a pasta não retornou com as estatísticas.


Categoria cria rede de monitoramento própria

Desde 2017, os motoristas do Ceará começaram um movimento para criação de grupos de monitoramento e protocolos de segurança. Um dos dispositivos utilizados pela categoria é o aplicativo Drive Social, que dispõe de um botão de emergência (SOS) para acionar outros motoristas e pedir ajuda.

Dados de 1º de janeiro até 16 de agosto deste ano mostram que 33% desses acionamentos foram motivados por assaltos realizados por passageiro. Em segundo lugar (23%), estão ferimentos causados por terceiros, o que pode ser, por exemplo, uma discussão de trânsito que acabou em briga.

Segundo Ramon Gadelha Cruz Marques, desenvolvedor do app e sócio-administrador da startup Drive Labs, o botão é importante para emitir avisos de socorro rapidamente. “Uma vez acionado, o aviso irá tocar imediatamente em todos os motoristas que estiverem online e fizerem parte do mesmo grupo de quem acionou”, explica. No aviso, é possível ver a localização em tempo real do solicitante e informações como: nome, foto, modelo e placa do carro.

Não existe uma ligação direta entre o app e a Polícia no Ceará, mas já ocorrem testes em acordo de cooperação técnica com polícias em outros estados. “Temos colhidos ótimos resultados, especialmente na captura do criminoso no ato, evitando um mal maior, e na redução de danos à vida e/ou ao bem do motorista”, completa.

São 20 mil usuários ativos na plataforma hoje no Estado. O app contempla motoristas de aplicativo, táxi, motoboys, entregadores, motoristas de ônibus e até de caminhão e carreta.

O Drive Social também permite a formação de um mapa de calor, que reflete os acionamentos de SOS válidos inferidos por Inteligência Artificial. No mapa de Fortaleza, as manchas seguem mais distribuídas nos bairros próximos às praias e vão de Leste a Oeste. Quanto mais vermelhas e escuras, mas acionamentos válidos ocorreram nessas áreas. A Aldeota, por exemplo, é uma das áreas expressivas de chamados.

Mapa de calor com dados de 1º de janeiro até 16 de agosto de 2021. Mostra áreas com mais acionamentos de botão de emergência (SOS).
Mapa de calor com dados de 1º de janeiro até 16 de agosto de 2021. Mostra áreas com mais acionamentos de botão de emergência (SOS). (Foto: Divulgação/Drive Social)

Para Rafael Keylon, da Amap-CE, apesar das iniciativas do poder público, a responsabilidade pela segurança dos motoristas continua recaindo sobre eles próprios. “Sempre orientamos que não entre em rua sem saída, não pegue viagens por aplicativos não regularizados, não vá em áreas de risco que não conheça, e que também faça parte de redes de monitoramento”, destaca.

Em Fortaleza, 11 plataformas de transporte individual estão credenciadas na Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), segundo lista divulgada em fevereiro. São elas: Uber, Servos, Táxi Tuber, Bella Driver, OP Os Paulo’s, Return, Divas, 26true, Top Amigos, Ilev e Gtfacil.

A reportagem pediu a lista atualizada das empresas à pasta, bem como o total de motoristas cadastrados na Capital e os requisitos de segurança aos motoristas que essas empresas devem cumprir. Contudo, o órgão não retornou até o fechamento desta matéria.

Empresas elencam ações de segurança para motoristas

Duas das empresas mais conhecidas do mercado de viagens por aplicativo, a Uber e a 99, foram questionadas sobre medidas de segurança que têm sido adotadas para garantir a segurança de passageiros e usuários no Ceará. A Uber informa que recentemente introduziu a checagem de documentos como RG e CPF de usuários que quiserem pagar somente em dinheiro.

Há também a possibilidade de os motoristas cancelarem viagens sinalizando motivo de segurança sempre que não se sentirem confortáveis. Botão de segurança, envio de mensagem, gravação das viagens e avaliação de motoristas são outras iniciativas da empresa.

O aplicativo de mobilidade 99 afirma que reduziu em 13% as ocorrências de segurança na plataforma relativas à violência contra motoristas, por milhão de corridas no Ceará, de janeiro a junho de 2021. Os dados incluem assaltos e agressões.

A empresa atribui a redução aos “investimentos contínuos em tecnologia de ponta, com sistemas preventivos e ferramentas de proteção.” Nos últimos dois anos, foram R$ 70 milhões. Validação de CPF e RG, câmeras de seguranças, gravação de áudio, compartilhamento de rota e botão de ligar direto para Polícia são outras ações mencionadas.

Outra medida da 99 é a implementação de um Mapeamento de Áreas de Risco que permite aos condutores colaborarem com a identificação dessas regiões, além de ter seu zoneamento dinâmico, variando de acordo com fatores como a hora do diae botão de contato com a Polícia. 

Ações das empresas de aplicativo

Uber

  • Checagem de documentos: quem quiser pagar sua primeira viagem em dinheiro, sem fornecer dados do meio de pagamento digital (cartão de crédito ou débito), precisa fornecer um documento de identidade, como RG ou CNH. Além disso, o aplicativo do usuário que pagar somente em dinheiro o CPF e data de nascimento, checados na base de dados do Serasa;
  • Envio de mensagem: caso aconteça uma parada longa e não prevista na rota ou se a viagem terminar fora do destino planejado, a empresa pergunta ao motorista parceiro e ao usuário se é necessário algum suporte e direciona às ferramentas de segurança;
  • Recursos de segurança: botão reúne todas as funções de segurança da plataforma. Usuários e motoristas parceiros podem compartilhar a sua localização e o tempo de chegada em tempo real, ligar para a polícia diretamente do app e acionar o recurso de gravação de áudio;
  • Gravação de vídeo: em testes desde fevereiro de 2021 utilizando a câmera do celular do motorista parceiro. O usuário é avisado previamente que a viagem poderá ser gravada e tem a opção de cancelar sem cobrança caso se sinta desconfortável. A gravação fica criptografada e só pode ser acessada pela Uber ou por autoridades policiais em investigações formais de ocorrências reportadas na plataforma;
  • Avaliação: usuários e motoristas podem e devem avaliar um ao outro depois de cada viagem, de forma anônima. Uma equipe monitora essas informações e pode banir da plataforma usuários ou motoristas que tiverem uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos e condições de uso ou o código de conduta da comunidade, como por exemplo, comportamento inapropriado ou perigoso;
  • Número 0800: disponível 24 horas por dia, sete dias por semana pelo aplicativo e analisa caso a caso cada registro para emergência e solicitar apoio da Uber.

99

  • Validação de acesso: verifica se usuários são os donos dos CPFs informados por meio de prevenção de fraude da Serasa Experian, além de checagem instantânea do RG;
  • Mapeamento de Áreas de Risco: permite aos condutores colaborar com a identificação dessas regiões, além de ter seu zoneamento dinâmico, variando de acordo com fatores como a hora do dia;
  • Hércules: verifica padrões de comportamento em chamadas suspeitas, analisando fatores como horário e duração da viagem, bem como histórico dos usuários. Em casos de alto risco, são solicitados documentos e validações adicionais antes da conexão. Se a identidade for validada, o motorista é despachado ao ponto de embarque normalmente. Caso contrário, a pessoa não poderá se conectar a um condutor da plataforma;
  • Cubo: inteligência artificial que age para evitar que motoristas sejam direcionados para áreas que estão com indícios de violência. Para isso, a ferramenta analisa, em tempo real, locais que possam apresentar qualquer perigo, como, por exemplo, a atuação organizada de um grupo de assaltantes.
  • Monitoramento de Corridas: detecta comportamentos anormais como paradas longas e trajetos com tempo acima do previsto. A ferramenta funciona através da combinação de IA e rastreamento por GPS para detectar esses casos. Em situações de risco, alertas são enviados à Central de Segurança do app, que pode acionar diretamente a polícia;
  • Câmeras de segurança: embarcadas nos carros, possuem lentes "olho de peixe" e modo noturno que permitem captar todo o interior do veículo. Dispositivo acompanha um botão de emergência que pode ser acionado a qualquer momento e se conecta à Central de Segurança, uma equipe de profissionais especializados, disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Serviço

Casos de violência podem ser comunicados às autoridades por meio de Boletim de Ocorrência (B.O), feito em qualquer delegacia ou via Delegacia Eletrônica (Deletron), pelo site: https://www.delegaciaeletronica.ce.gov.br/.

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