Especialistas divergem sobre volta do horário de verão; saiba o que é adequado no Ceará

A dependência energética da matriz hídrica faz com que o País enfrente esta crise, apesar de o governo federal apontar que o índice da energia elétrica proveniente de outras fontes ser crescente

Com a crise hidroenergética enfrentada pelo País atualmente, um velho conhecido dos brasileiros apareceu novamente: o horário de verão. A medida, que foi utilizada no País pela primeira vez em 1932, está sendo sugerida por empresários como uma forma de alívio à crise no Brasil. Entre os especialistas, porém, a proposta causa divergências sobre sua efetividade.

De acordo com argumento dos empresários, ligados principalmente ao setor do turismo, a lógica é que, quando os relógios de algumas regiões são adiantados em uma hora, “as atividades ligadas ao turismo contam com uma hora a mais ainda durante o dia para receber turistas e clientes tradicionais”.

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"Estamos vivendo um momento duro na pandemia quanto também um momento perigoso da falta de energia. Participar desse movimento é favorável para a sociedade e para socorremos o setor de turismo e o setor de alimentação fora do lar", detalha Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Apesar de representar alguma redução no consumo de energia elétrica, a volta do horário de verão não seria uma medida eficaz para evitar um possível colapso no País, conforme defende o professor Dalton de Araújo Honório, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Ele pondera que a medida corresponderia a uma “gota no oceano”, porque os comportamentos de consumo e a carga do sistema elétrico do País cresceram significativamente nas últimas décadas. “A energia elétrica se tornou mais comum para as pessoas, ela é inerente e vital para a nossa vida, não conseguimos viver sem ela”, explica.

Como um elemento essencial para a vida, ele argumenta que não é possível fazer campanhas que estimulem um menor consumo de energia, mas sim um uso mais eficiente e otimizado, de forma similar a uma política de educação financeira. “Precisamos saber que esse é um bem finito. E incentivar o melhor uso possível, com maior quantidade de rendimento possível. Esse é nosso foco”, enfatiza.

"Esse é o principal ponto da educação. É preciso ter consciência de que a energia que se gasta agora é uma energia que poderá faltar no futuro. Com as redes sociais, surge a possibilidade de impactar um público ainda maior, mas sempre com o critério de informações baseadas em estudos ou algum tipo de análise de especialistas, e não em cima de achismos”, destaca Dalton.

Já para Silvia Teles Viana, professora e pesquisadora de energias renováveis do Campus de Russas da UFC, a volta do horário de verão é benéfica para a economia de energia, especialmente nos estados do Sul e Sudeste, onde há uma maior variação da luminosidade.

A especialista pondera, no entanto, que a adoção da medida deveria ser acompanhada por um processo de educação, principalmente entre os grandes consumidores, como os setores da indústria e do comércio. “Como professora, eu considero a educação como um grande elemento transformador”, analisa.

Há um argumento defendido por especialistas que considera que a queda da economia de energia ao longo dos anos com o horário de verão também se deve à diminuição do engajamento da população, o que seria uma consequência da redução de campanhas de conscientização promovidas pelo poder público.

Horário de verão continua não sendo adequado para o Ceará, conforme pesquisadores

Os especialistas consultados pelo O POVO foram unânimes em afirmar que uma possível adoção do horário de verão no Ceará é inviável. Isso é explicado porque o horário do nascer e pôr do sol se mantém estável ao longo do ano, e uma mudança no relógio não representaria uma vantagem efetiva.

A mudança do relógio poderia repercutir ainda em outros indicadores sociais, como a segurança pública: com o atraso de uma hora, as pessoas precisariam sair ainda no escuro para trabalhar. Essa estabilidade ao longo do ano acontece devido ao Ceará estar localizado próximo à Linha do Equador, diferente de outros estados brasileiros, que costumam ter dias mais longos no verão.

Para o professor Dalton de Araújo Honório, a melhor estratégia para evitar uma crise de abastecimento energética no Ceará é a aposta em fontes renováveis. “O nosso Estado tem uma condição praticamente divina em relação a fatores climáticos e ambientais, e precisamos nos apropriar ainda mais dessas matrizes renováveis. Conseguiríamos ficar menos dependentes da matriz hídrica, que é uma questão histórica com as secas enfrentadas”, aponta.

Governo Federal defende que o sistema elétrico é seguro, apesar da necessidade de economia

Em mensagem em cadeia nacional de rádio e televisão na última segunda-feira, 28, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, alertou que o Brasil enfrenta uma das piores secas de sua história, com uma escassez de água que atinge as hidrelétricas, em especial do Sudeste e Centro-oeste. A crise é a maior dos últimos 91 anos.

Durante sua fala, contudo, Albuquerque considerou que o sistema elétrico brasileiro evoluiu nos últimos anos, interligando o sistema em escala nacional e diminuindo a dependência das hidrelétricas de 85% para 61%. Uma das propostas do gestor para conter a crise foi deslocar os horários de maior demanda de energia para o de menor demanda, sem afetar a produção e o desenvolvimento do País.

Uma medida provisória, publicada no dia 28 de junho pelo Governo Federal, sugere o estabelecimento de medidas emergenciais para a otimização dos recursos hidroenergéticos, como a definição de limites de uso, armazenamento e vazão das usinas hidrelétricas. Com duração até 30 de dezembro deste ano, a chamada Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg) é proposta para funcionar em caráter “excepcional e temporário”, com integração ao Ministério de Minas e Energia. A proposta tramita na Câmara de Deputados.

“É preciso que o cidadão brasileiro participe desse esforço, evitando desperdícios da energia elétrica e diminuindo o custo da energia gerada. Estamos certos de que juntos superaremos este período desafiador e transitório”, disse o ministro.

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