"Ser assexual não significa nunca praticar sexo"; entenda a orientação

"Ser assexual não significa nunca praticar sexo"; entenda a orientação

Estudante e psicólogo relatam vivências e desmontam mitos sobre a assexualidade, orientação ainda cercada de dúvidas e estigmas

Em uma sociedade que supervaloriza o sexo, como é viver e amar sem desejar relações sexuais? Para muitas pessoas, essa é a realidade.

A assexualidade, ainda invisibilizada mesmo na comunidade LGBTQIA+, é uma orientação sexual que diz respeito à ausência ou baixa intensidade de atração sexual. Isso não impede, porém, a construção de laços profundos e afetivos.

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“Não vejo o sexo como algo indispensável em um relacionamento. Acredito em outras formas de conexão com quem amo”, diz Eliot Lima, 22 anos, estudante de Psicologia. Eliot se identifica como assexual e compartilha sua vivência.

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Assexualidade: “Descobrir-me assexual foi um processo natural”

Eliot conta que, no início da adolescência, acreditava ser bissexual ou pansexual. Mas, ao refletir sobre relacionamentos, percebeu que sua experiência destoava da maioria.

“Notei que não sentia ou reagia como muitos dos meus amigos — e tudo bem com isso. Fui pesquisar, me entender”, diz. A internet foi sua principal fonte de informação, ainda nos tempos do ensino fundamental.

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Com o passar dos dias, Eliot foi construindo sua identidade com o apoio de pessoas próximas: “Fui acolhido por amigos e pela minha família. Falar sobre isso me liberta e também ajuda outros a se compreenderem”.

Não é trauma nem falta de amor

Entre os equívocos mais comuns, está a ideia de que pessoas assexuais são incapazes de amar ou manter relacionamentos.

“Existe uma visão errada de que, se a pessoa é assexual, não pode querer casar, se apaixonar, viver um romance. Isso é uma bobagem”, diz. “A gente ainda quer flores, cinema, casamento. Só não temos essa atração sexual e está tudo bem.”

Outro mito que ele combate é o de que toda pessoa assexual rejeita o sexo completamente: “Generalizar só cria mais estigma. Ser assexual não significa nunca praticar sexo, e sim ter uma relação diferente com ele”.

Hoje, Eliot vive um relacionamento amoroso que respeita suas escolhas e seus limites. “Amo minha namorada. Ela me respeita como sou. Minha assexualidade nunca impediu — e nunca vai impedir — que eu ame. O ser humano foi feito para amar, e há tantas formas de fazer isso”.

Eliot reconhece, no entanto, que nem todos têm a mesma sorte. “Já ouvi histórias de dor e culpa. Tem gente que se descobre com medo, achando haver algo errado. É importante dizer: está tudo bem. A vida é muito mais do que sexo. Há tantas outras formas bonitas de existir.”

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Assexualidade na clínica: acolhimento ainda é exceção

O psicólogo clínico Filipe Narciso Pereira trabalha com pacientes LGBTQIAP+ e acompanha de perto esses processos.

Para ele, ainda há muita desinformação sobre a assexualidade, inclusive entre profissionais. “Muitos acabam patologizando algo que é apenas uma forma legítima de existir”, explica.

Ele também menciona que é essencial diferenciar a assexualidade de questões clínicas como o transtorno do desejo sexual hipoativo.

“Esse diagnóstico se aplica quando há sofrimento pela perda de desejo, o que não é o caso da pessoa assexual. Ela apenas não sente desejo e não sofre por isso”, pontua.

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Impactos emocionais da pressão social

O maior desafio para pessoas assexuais, segundo Filipe, não é a orientação em si, mas o mundo ao redor.

A pressão para vivenciar o sexo a qualquer custo gera culpa, ansiedade, sensação de inadequação. Muitos se forçam a experiências que não querem, com medo de não serem compreendidos ou amados”.

A terapia pode ser um espaço seguro de descoberta. “Já acompanhei pacientes que se identificaram como assexuais ao longo do processo. Quando há escuta e acolhimento, esse reconhecimento é libertador”, afirma.

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Caminhos para o acolhimento e a compreensão

Para Felipe, ainda falta espaço para o tema nas universidades e na formação de psicólogos.

“Nem todos os cursos tratam da sexualidade com profundidade. Por isso, é necessário buscar atualização constante e escuta ativa”, afirma. “O profissional deve garantir um espaço seguro, livre de julgamentos, onde a pessoa possa ser quem é.”

Aos que estão em processo de autodescoberta, o psicólogo deixa um recado: “Você não precisa se encaixar em rótulos. Vá no seu tempo. Você não está só”.

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