Enem 2021: Redações nota mil do exame de 2020; confira alguns exemplos

Com o Enem 2021 marcado para acontecer entre os dias 21 e 28 de novembro, a preocupação dos candidatos com a redação se intensifica ainda mais devido o seu peso na média final; na última edição, em 2020, apenas 28 pessoas obtiveram a nota máxima

Na contagem regressiva para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, que será realizado entre os dias 21 e 28 de novembro, a expectativa e preocupação dos candidatos para a prova de Redação é sempre pertinente, afinal, a avaliação possui um peso determinante no resultado final. Pensando nisso, O POVO separou algumas das redações que atingiram a nota mil (1000) na última edição do Enem.

Além disso, os critérios de correção da redação do Enem estão mais rigorosos e a alta queda consecutiva no número de redações nota mil persiste a cada ano, o que só comprova o cuidado e esforço que a redação requer dos estudantes no exame.

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Até 2015, mais de 100 candidatos no Brasil inteiro ainda conseguiam obter a nota máxima. Na edições de 2017 a 2019, a média total de notas mil era de 50 candidatos, até ser divulgado o resultado da edição 2020 em que apenas 28 pessoas conseguiram chegar no 1000

Temas da redação do Enem 2020

A última edição possuiu três versões e foram abordados os seguintes temas:

  • Enem impresso (1ª aplicação): “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”
  • Enem impresso (reaplicação e PPL): "A falta de empatia nas relações sociais no Brasil"
  • Enem digital: "O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil"

Enem 2020: exemplos de algumas redações nota mil

Enem 2020: Redação nota 1000 de Julia Vieira (MA)

"No filme estadunidense “Coringa”, o personagem principal, Arthur Fleck, sofre de um transtorno mental que o faz ter episódios de riso exagerado e descontrolado em público, motivo pelo qual é frequentemente atacado nas ruas. Em consonância com a realidade de Arthur, está a de muitos cidadãos, já que o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira ainda configura um desafio a ser sanado. Isso ocorre, seja pela negligência governamental nesse âmbito, seja pela discriminação desta classe por parcela da população verde-amarela. Dessa maneira, é imperioso que essa chaga social seja resolvida, a fim de que o longa norte-americano não mais reflita o contexto atual da nação.

Nessa perspectiva, acerca da lógica referente aos transtornos da mente, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à omissão estatal neste caso. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o país que apresenta o maior número de casos de depressão da América Latina e, mesmo diante desse cenário alarmante, os tratamentos às doenças mentais, quando oferecidos, não são, na maioria das vezes, eficazes. Isso acontece pela falta de investimento público em centros especializados no cuidado para com essas condições. Consequentemente, muitos portadores, sobretudo aqueles de menor renda, não são devidamente tratados, contribuindo para sua progressiva marginalização perante o corpo social. Este quadro de inoperância das esferas de poder exemplifica a teoria das Instituições Zumbis, do sociólogo Zygmunt Bauman, que as descreve como presentes na sociedade, mas que não cumprem seu papel com eficácia. Desse modo, é imprescindível que, para a refutação da teoria do estudioso polonês, essa problemática seja revertida.

Paralelamente ao descaso das esferas governamentais nessa questão, é fundamental o debate acerca da aversão de parte dos civis ao grupo em pauta, uma vez que ambos são impasses para sua completa socialização. Esse preconceito se dá pelos errôneos ideais de felicidade disseminados na sociedade como metas universais. Entretanto, essas concepções segregam os indivíduos entre os “fortes” e os “fracos”, em que tais fracos, geralmente, integram a classe em discussão, dado que não atingem essas metas estabelecidas, como a estabilidade emocional. Por conseguinte, aqueles que não alcançam os objetivos são estigmatizados e excluídos do tecido social. Tal conjuntura segregacionista - os que possuem algum tipo de transtorno, nesse caso -- na teia social. Dessa maneira, essa problemática urge ser solucionada para que o princípio da alemã seja validado no país tupiniquim.

Portanto, são essenciais medidas operantes para a reversão do estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira. Para isso, compete ao Ministério da Saúde investir na melhora da qualidade dos tratamentos a essas doenças nos centros públicos especializados de cuidados, destinando mais medicamentos e contratando, por concursos, mais profissionais da área, como psiquiatras e enfermeiros. Isso deve ser feito por meio de recursos autorizados pelo Tribunal de Contas da União - órgão que opera feitos públicos - com o fito de potencializar o atendimento a esses pacientes e oferecê-los um tratamento eficaz. Ademais, palestras devem ser realizadas em espaços públicos sobre os malefícios das falsas concepções de prazer e da importância do acolhimento dos vulneráveis. Assim, os ideais inalcançáveis não mais serão instrumentos segregadores e, finalmente, a cotação de Fleck não mais representará a dos brasileiros."

Enem 2020: Redação nota 1000 Ingrid Bascef (SP)

Na obra “Quincas Borba”, de Machado de Assis, é mencionada a trajetória de Rubião que, após receber grande herança e atrair vários amigos, é acometido por uma enfermidade mental, fazendo com que seus conhecidos se afastassem e que fosse abandonado em um hospital psiquiátrico. Fora da ficção, o estigma associado às doenças mentais também é presente na sociedade brasileira, haja vista que muitos indivíduos com transtornos dessa ordem são excluídos da sociedade e que muitas pessoas com sintomas de desequilíbrio mental não buscam ajuda.

Em primeiro lugar, é relevante destacar que o estigma associado às doenças mentais faz com que as pessoas acometidas por essas enfermidades sejam excluídas do meio social. Nesse sentido, Nise da Silveira, médica psiquiatra, revelou que muitas famílias se envergonham por terem um ente com transtornos mentais e optam por o deixar, de forma vitalícia e quase sem visitas, em hospitais especializados. Desse modo, o preconceito com doenças mentais na sociedade brasileira gera a ocultação, em clínicas médicas, das pessoas que não se enquadram dentro de um perfil esperado de normalidade, engendrando a exclusão social.

Ademais, o estigma e a falta de informação sobre doenças mentais fazem com que muitos indivíduos, com sintomas dessas patologias, não busquem ajuda especializada. Nesse contexto, pesquisas aventadas pela Organização Mundial de Saúde revelaram que menos da metade das pessoas com os primeiros sinais de transtornos, como pânico e depressão, procura ajuda médica por temer julgamentos e invalidações. Assim, o preconceito da sociedade brasileira com as doenças mentais faz jus com que a busca por tratamento, por parte dos doentes, seja evitada, aumentando, ainda mais, o índice de brasileiros debilitados por essas mazelas.

Portanto, é necessário que o Estado, em conjunto com o Ministério da Saúde, informem a população sobre a que são, de fato, as doenças mentais e a importância do tratamento para que o estigma associado a eles finde. Tal tarefa será realizada por meio de expansivas campanhas publicitárias nos veículos de comunicação em massa, como a internet e a televisão, com profissionais de saúde especializados no assunto, o que fará com que o povo brasileiro seja elucidado sobre essas patologias rapidamente. Sendo assim, episódios de abandono e preconceito associados a transtornos mentais, como o de Rubião, estarão apenas nos livros.

Enem 2020: Redação nota 1000 Aécio Fernandes (RN)

Manoel de Barros, grande poeta pós-modernista, desenvolveu em suas obras uma “teologia do traste”, cuja principal característica reside em dar valor às situações frequentemente esquecidas ou ignoradas. Segundo a lógica barrosiana, faz-se preciso, portanto, valorizar também a problemática das doenças mentais no Brasil, ainda que elas sejam estigmatizadas por parte da sociedade. Nesse sentido, a fim de mitigar os males relativos a essa temática, é importante analisar a negligência estatal e a educação brasileira.

Primordialmente, é necessário destacar a forma como parte do Estado costuma lidar com a saúde mental no Brasil. Isso porque, como afirmou Gilberto Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, a legislação brasileira é ineficaz, visto que, embora aparente ser completa na teoria, muitas vezes, não se concretiza na prática. Prova disso é a escassez de políticas públicas satisfatórias voltadas para a aplicação do artigo 6 da “Constituição Cidadã”, que garante, entre tantos direitos, a saúde. Isso é perceptível seja pela pequena campanha de conscientização acerca da necessidade a saúde mental, seja pelo pouco espaço destinado ao tratamento das doenças mentais nos hospitais. Assim, infere-se que nem mesmo o princípio jurídico foi capaz de garantir o combate ao estigma relativo a doenças psíquicas.

Outrossim, é igualmente preciso apontar a educação, nos moldes predominantes no Brasil, como outro fator que contribui para a manutenção do preconceito contra as doenças psiquiátricas. Para entender tal apontamento, é justo relembrar a obra "Pedagogia da Autonomia", do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, na medida em que ela destaca a importância das escolas em fomentar não só o conhecimento técnico-científico, mas também habilidades socioemocionais, como respeito e empatia. Sob essa ótica, pode-se afirmar que a maioria das instituições de ensino brasileiras, uma vez que são conteudistas, não contribuem no combate ao estigma relativo às doenças mentais e, portanto, não formam indivíduos da forma como Freire idealiza.

Frente a tal problemática, faz-se urgente, pois, que o Ministério Público, cujo dever, de acordo com o artigo 127 da "Constituição Cidadã", é garantir a ordem jurídica e a defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis, cobre do Estado ações concretas a fim de combater o preconceito às doenças mentais. Entre essas ações, deve-se incluir parcerias com as plataformas midiáticas, nas quais propagandas de apelo emocional, mediante depoimentos de pessoas que sofrem esse estigma, deverão conscientizar a população acerca da importância do respeito e da saúde mental. Ademais, é preciso haver mudanças escolares, baseadas no fomento à empatia, por meio de debates sobre temas socioemocionais.

Enem 2020: Redação nota 1000 Maria Júlia Passos (RJ)

A obra “Holocausto Brasileiro”, da escritora e jornalista Daniela Arbex, retrata as péssimas condições do maior hospital psiquiátrico do país, na cidade de Barbacena. Nesse livro, os pacientes são tratados por meio de métodos arcaicos e invasivos, desde agressões até choques elétricos, demonstrando a violência sofrida por indivíduos portadores de transtornos psíquicos. Assim, além de expor os abusos do sistema de saúde da época, o texto também é atual, uma vez que o preconceito e a omissão estatal perpetuam o estigma associado às doenças mentais.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que a desinformação da sociedade brasileira é o principal catalisador da discriminação. De fato, o avanço da tecnologia é responsável pela rápida disseminação de notícias, principalmente no meio digital, mas isso não significa que os cidadãos se encontram mais conscientes. Dessa forma, mesmo que diversos estudos atuais comprovem a relevância dos cuidados para com a saúde mental e a legitimidade dos distúrbios psicológicos, os flagelos da intolerância ainda se mostram presentes. Consequentemente, os indivíduos com depressão, ansiedade e outras condições especiais convivem em um ambiente degradante, o qual é marcado por preconceitos e tabus estruturais, enfrentando constantemente a invisibilidade social. De acordo com a escritora nigeriana Chimamanda Adichie, a rotulação das pessoas através de certa característica física marcante é responsável pela criação de histórias únicas que não representam a realidade. Nesse viés, ao criar estigmas baseados no estereótipo de que pessoas com doenças mentais seriam inferiores ou incapazes, a sociedade míope alimenta uma visão eugenista e tóxica, limitando as diversas possibilidades de manifestação do ser humano e a importância da pluralidade

Ademais, a ausência de compromisso do Estado para com a saúde mental dos cidadãos é outro ponto que fomenta a problemática. De certo, a falta de incentivos na área da psiquiatria e na acessibilidade é a realidade enfrentada no país, resultando nos diagnósticos tardios e na própria exclusão de uma parcela significativa da sociedade. Segundo o filósofo John Rawls, em sua obra “Uma teoria da justiça”, um governo ético é aquele que disponibiliza recursos financeiros para todos os setores públicos, promovendo uma igualdade de oportunidades a todos os cidadãos. Sob essa óptica, torna-se evidente que o Brasil não é um exemplo do pensamento desse teórico, visto que negligencia as dificuldades enfrentadas pelos portadores de doenças mentais, submetendo-os à periferia da cidadania.

Fica exposta, portanto, a necessidade de medidas para mitigar o estigma associado aos transtornos psíquicos. Destarte, as Secretarias de Educação devem desenvolver projetos nas escolas, por meio de palestras e de dinâmicas educativas, levando médicos e pacientes para debaterem sobre o preconceito enfrentado no cotidiano, uma vez que o depoimento individual sensibiliza os estudantes, com a finalidade de ultrapassar estereótipos negativos. Outrossim, o Ministério da Fazenda deve redistribuir as verbas, priorizando as áreas da psiquiatria e psicologia, direcionando maiores investimentos nesse setor negligenciado pelo Estado. Por fim, será possível criar um país mais democrático, afastando a realidade dos absurdos retratados na obra da escritora Daniela Arbex.

Enem 2021: 5 possíveis temas para a redação desta edição

Além das 180 questões de múltipla escolha, o Enem usa a redação como forma de avaliar a capacidade do aluno em defender ideias e estruturá-las com coerência. Na prova, o estudante deve escrever um texto dissertativo-argumentativo com no máximo 30 linhas e no mínimo sete sobre um tema surpresa - os argumentos devem contemplar princípios éticos, como o respeito aos direitos humanos, à diversidade e ao não preconceito.

Clique aqui para conferir cinco possíveis temas para a redação deste ano, além de outros palpites.

 

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